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Na contramão do fluxo, compositor recifense Mazo Melo lança primeiro álbum autoral

Disco com onze faixas apresenta letras sobre igualdade, respeito às minorias, racismo, religião e amor

Publicado em: 26/09/2018 12:15

"Você ouve, vai dançando e se envolve. Mas se for prestar atenção ao que está sendo dito, são questões para fazer pensar", propõe. Foto:  Marília Pinheiro/Divulgação

O fluxo e o sentido são o que menos importam para o cantor e compositor recifense Mazo Melo, 52 anos, que decidiu expor sua verdade no primeiro disco autoral Pela contramão, com lançamento nesta quarta-feira (26), a partir das 19h30, em noite de autógrafos na loja Passa Disco, no bairro do Espinheiro. "Esse disco representa o caminho que nós artistas independentes enfrentamos. É fruto da luta e persistência. Hoje é bem mais fácil, pois existem pequenos espaços que acolhem e público para consumir. Trago essa mensagem de resistência", aponta o vocalista na banda Seu Rodolpho, trabalho paralelo que faz releituras de clássicos da MPB.

Com 25 anos de estrada e várias composições na gaveta, Mazo revirou seus escritos para apresentar 11 faixas autorais com parceria marcantes e temas densos. "Tentei deixar mais leve com as melodias. Você ouve, vai dançando e se envolve. Mas se for prestar atenção ao que está sendo dito, são questões para fazer pensar", incita.

O trabalho inclui as canções Dá no mesmo (Mazo Melo e Dinho PP), Eu e eu, A essência, Pela contramão, No silêncio do meu quarto e O medo e o morro, cinco parcerias com Marcos Varaze. E ainda Negro rei (Mazo Melo e Lucas Crasto), Na esteira (Mazo Melo) e as românticas O que vem do amor vigora (Mazo Melo e Don Tronxo), Zaritê e Se não é amor. As letras falam sobre luta pela igualdade, respeito às minorias, racismo, religião e amor. "Fui escrevendo sobre assuntos que me despertavam interesse", explica o artista, cujo nome de batismo é Claudiomar Pereira de Melo, mas virou Mazinho na infância e assina artisticamente Mazo.


Pela contramão foi gravado em uma tacada só. A banda se juntou na Granja Jaguaroca, em Aldeia, e se debruçou sobre o projeto por dois dias. "Levamos o estúdio para lá e foi uma experiência maravilhosa. Gravamos 11 faixas ao vivo, captando tudo, repetindo três, quatro vezes. Era cansativo, mas foi gratificante", conta. Participaram os músicos Guilherme Eira (guitarras e violões), Eliel Neto (contrabaixo), que também assinam a produção e direção musical e ainda Zeck Silva (bateria), João Bani, Vitamina e Paulinho Bustorff (percussão) e Leonardo Araújo (flauta).

Segundo o artista, a sonoridade foi uma construção e mescla afoxé, pop, jazz e até forró. “Passava para eles qual era minha ideia inicial e trabalhamos em cima. Colocamos os instrumentos e todos participaram da criação. Foi resultado de um trabalho coletivo. Os músicos são muito bons e, acima de tudo, amigos que trataram tudo com muito carinho”, elogia. Na noite de lançamento, o grupo fará um pocket show para apresentar as faixas. O disco estará à venda no local por R$ 22,90.

Entrevista - Mazo Melo //  cantor e compositor

Como foi o processo de composição e a escolha desse repertório?
Compus alguns sambas e era a ideia inicial fazer um disco de samba autoral, que foi mudando completamente. Encontrei outros parceiros, escolhi novas músicas e o disco mudou de cara, até que não restou nenhum samba nele. Sou letrista, costumo receber as melodias dos parceiros. Perguntava se teria algum tema ali e desenvolvi as canções. A maioria me dava melodias com temas livres. Em Negro rei, por exemplo, estava lendo um livro com a temática da escravidão e quis versar sobre isso. Deu certo. E o mais importante é quando o outro parceiro aprova. Tenho carinho por essa faixa, ela quase ficava de fora. Já com Marcos Varaze foi diferente. Combinávamos de passar uma tarde juntos, ele vinha aqui para casa, e a gente ficava tocando e escrevendo. Às vezes saia na hora, às vezes ficava inacabada e depois eu finalizava.

Quem são suas referências musicais?
Tenho dois artistas que são mestres para todo mundo que gosta de música. Um deles é Chico Buarque. Como sou letrista, admiro bastante a obra de Paulo César Pinheiro. Esses dois caras são em quem me espelho. Quando era criança, ouvia Roberto Carlos, preferência da minha mãe, e meu pai era fã de Martinho da Villa. Fui crescendo e assimilando o que achava interessante nesse universo. Mas não quero fincar raiz em uma sonoridade só.

Sobre o momento atual do país e as discussões sobre as eleições de 2018, como acredita que o artista deve se comportar?
Tem que se posicionar como artista e como cidadão. É nosso dever. Está em curso essa polarização política e agora mudou apenas o personagem. A tendência é piorar, com quem está na frente das pesquisas. As pessoas estão com pavio curto. Nas redes sociais vemos as amizades sendo desfeitas e familiares brigando. Respeito particularmente o voto de cada um, mas lamento quando vejo que há perda de afinidades. Se você vai votar em um determinado sujeito, que não concordo, está assumindo e defendendo aquilo em que ele acredita. Mas não podemos ter medo de ir à rua. A ideia é não baixar a cabeça.
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