Literatura

Livro reúne todas as crônicas de Clarice Lispector

Edição traz as crônicas da escritora publicadas entre os anos de 1967 e 1977 no Jornal do Brasil, O Jornal, Última Hora, Senhor e Joia

Por: Uai

Publicado em: 03/09/2018 18:00

Foto: Badaró Braga/Arquivo EM

"Clarice escrevia como se fosse uma colcha de retalhos", aponta a escritora Marina Colasanti, autora do prefácio de Clarice Lispector – Todas as crônicas. O livro recém-lançado, que dá sequência à reunião temática da obra de Clarice pela editora Rocco já vista em Clarice Lispector – Todos os contos (2015), traz as crônicas da escritora publicadas entre os anos de 1967 e 1977 no Jornal do Brasil, O Jornal, Última Hora, Senhor e Joia.

“A maior dificuldade foi localizar as crônicas desconhecidas. Foi necessário fazer uma pesquisa de campo. E quase nenhum texto estava escaneado. Tivemos que digitar muita coisa”, conta o escritor, fotógrafo e organizador do livro, Pedro Karp Vasquez. O processo de produção do livro durou mais de um ano. Vistas em conjunto, as crônicas de Clarice Lispector oferecem um panorama dos ideais, dos sentimentos e da visão de mundo da autora. “Clarice estava fazendo uma coisa diferente do tradicional. Naquela época, não havia tantos cronistas como hoje, e ela tinha um espaço no jornal para fazer o que quisesse”, diz Marina Colasanti.

Em muitos dos textos do volume, Clarice faz duras críticas aos problemas sociais que o Brasil enfrentava no final década de 1960 e que ainda não foram superados. “Não estou de modo algum entrando em seara alheia. Esta seara é de todos nós. E estou falando em nome de tantos... Se o senhor soubesse do sacrifício que na maioria das vezes a família inteira faz para que um rapaz realize o seu sonho, o de estudar”, escreveu em Carta ao ministro da educação. “Clarice sabia muito bem compartilhar os sentimentos dela. Ela era reservada, não reclusa. Ficava matutando as obras dela com o propósito de compartilhar com os outros”, afirma Pedro Vasquez.

Apesar de deixar claro em suas crônicas que não se considerava literata, Clarice Lispector se tornou um dos maiores nomes da terceira geração modernista. Com a infância e a adolescência marcadas por grandes dificuldades – nascida na Ucrânia, numa família judia, deixou seu país fugindo da perseguição nazista em 1919, teve a mãe estuprada por um grupo de soldados ucranianos e enfrentou dificuldades financeiras na chegada ao Brasil – Clarice se firmou como autora de uma obra densa e exigente, um reconhecimento que vai além do Brasil. A obra da escritora já foi traduzida em ao menos 10 idiomas.


“Para todo escritor, a infância e a adolescência têm um impacto grande para tudo. É a primeira visão de mundo que ele tem”, observa Marina Colasanti. Pedro Vasquez vê no avanço da popularidade de Clarice um sinal de melhora do Brasil. “Hoje em dia, a Clarice virou uma personalidade meio mítica. Você vê pessoas na rua andando com camisas estampadas com o rosto dela. Acho que isso ocorreu porque o povo evoluiu. Quando ela começou a escrever, ainda no governo Vargas, o índice de analfabetismo era muito grande.”

CLARICE LISPECTOR – TODAS AS CRÔNICAS 
. De Clarice Lispector
. Editora Rocco
. 704 páginas
. R$ 89,90 e 
R$ 44,90 (e-book)
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