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Hilton Lacerda inicia filmagens de Fim de Festa. Confira a entrevista sobre o novo longa

Filme é ambientando na quarta-feira de cinzas e tem parte do roteiro inspirado no Caso Jennifer

Publicado em: 15/09/2018 18:53 | Atualizado em: 24/05/2020 19:29

Gustavo Patriota (centro) interpreta Breno, enquanto Amanda Beça (direta) será Penha. (Foto: Paulo Paiva/DP)
Gustavo Patriota (centro) interpreta Breno, enquanto Amanda Beça (direta) será Penha. (Foto: Paulo Paiva/DP)


A quarta-feira de cinzas sempre foi sinônimo de ressaca física (às vezes moral) e saudosismo, mas nas mãos de Hilton Lacerda também é uma oportunidade para despertar autoconhecimento e reviver utopias. Fim de festa, seu novo longa-metragem, tem os destroços do carnaval recifense como cenário para um assassinato que traz fortes reflexões aos personagens. Esse é o terceiro trabalho do pernambucano como diretor, após o documentário Cartola - Música para os olhos (2007) e o aclamado Tatuagem (2013), vencedor do prêmio de Melhor Filme no Festival de Cinema de Gramado. A previsão de lançamento é para o primeiro semestre de 2019.

Com produção da REC Produtores Associados, as gravações começaram no dia 8 de setembro, em diferentes pontos da capital pernambucana. As filmagens já passaram por locais como a sede da OAB, em Santo Antônio, e também pelas ruas do Bairro do Recife. Na última sexta-feira (14), a equipe alugou uma casa em Brasília Teimosa, na Zona Sul, com vista ampla para a Bacia do Pina. A residência foi transformada em um bar fictício, que servirá como palco para uma festa com cenas importantes ao enredo. O Viver acompanhou os registros.

Os atores Gustavo Patriota, Amanda Beça, Leandro Villa e Safira Moreira estiveram presentes, junto com mais 80 figurantes e a MC Negrita, que faz uma ponta no filme interpretando uma artista do brega-funk local. Como de costume, a trilha sonora será assinada por DJ Dolores - parceiro de Hilton desde os tempos do manguebeat e responsável pela memorável trilha de Tatuagem. De acordo com o diretor (que também assina o roteiro), pode-se esperar uma sonoridade "alucinante". Irandhir Santos, Suzy Lopes, Maria Barreira e Matheus Tchôa são alguns outros nomes do elenco.

Hilton Lacerda em conversa com os atores Safira Moreira e Leandro Villa. (Foto: Paulo Paiva/DP)
Hilton Lacerda em conversa com os atores Safira Moreira e Leandro Villa. (Foto: Paulo Paiva/DP)


SINOPSE
A história acompanha os jovens recifenses Breno (Gustavo Patriota) e Penha (Amanda Beça), que durante os festejos do carnaval conhecem Ângelo (Leandro Villa) e Indira (Safira Moreira), um casal da Bahia. Em meio a uma convivência orgástica, o quarteto se reúne na casa de Breno, mas a quarta-feira de cinzas traz uma má notícia: uma jovem francesa chamada Emma (Maria Barreira) é brutalmente assassinada a pauladas. O ocorrido antecipa a volta do pai de Breno - que leva o mesmo nome do filho e é interpretado por Irandhir Santos -, um policial civil que interrompe suas férias para investigar o caso. Além do incômodo por ter estranhos em sua casa, o oficial acaba encontrando vestígios afetivos no desdobramento do crime.

CASO JENNIFER
Não por acaso, o assassinato de Emma foi inspirado em um crime de repercussão internacional que ficou conhecido como Caso Jennifer, ocorrido em São Lourenço da Mata, na Região Metropolitana do Recife, no ano de 2010. Na época de carnaval, a alemã Jennifer Kloker, 22 anos, foi assassinada a mando da própria sogra, que buscava ganhar uma fortuna milionária pelo seguro de vida da turista. 

Para realizar Fim de festa, Hilton conversou com a editora-assistente de produção do Diario Ana Paula Neiva, responsável por acompanhar o caso junto aos jornalistas Marcionila Teixeira, Wagner Oliveira e Ana Cláudia Dolores - eles foram finalistas do Prêmio Esso de Jornalismo pela cobertura. Ana e Wagner, inclusive, farão uma ponta no filme como jornalistas em uma coletiva de imprensa.

OUTRAS PRODUÇÕES
Atualmente, Hilton Lacerda trabalhou (ao lado de Anna Francisco e Dillner Gomes) no roteiro de Piedade, longa dirigido por Cláudio Assis. O filme é protagonizado por Fernanda Montenegro e Cauã Reymond e o enredo usa de tubarões do litoral pernambucano como metáfora para criticar o poder político de grandes empresários da região.  Recentemente, o roteirista também trabalhou ao lado de Helder Aragão (DJ Dolores) dirigindo a minissérie Lama dos dias, que estreia no Canal Brasil no próximo domingo (23). A produção mostra o Recife durante a efervescência do manguebeat nos anos 1990.

ENTREVISTA - Hilton Lacerda, cineasta

 (Foto: Paulo Paiva/DP)
Foto: Paulo Paiva/DP


O que você pode nos antecipar sobre Fim de festa?
No geral, essa ideia de “fim de festa” tem a ver com uma leitura metafórica do Brasil. É sobre uma coisa que aconteceu, algo que foi fraturado e virou uma quarta-feira de cinzas. Esse crime que ocorre faz o Breno pai, personagem do Irandhir, ter de lidar com algo muito negativo do passado. Há dez anos, ele cometeu um erro muito grande, que praticamente dividiu a sua vida. Fez ele até se divorciar, mas o filho acabou morando com o pai porque ele se tornou uma pessoa muito solitária. Há um espelhamento da vida desse personagem com o filho. A história desse pai vai tomando um caminho diferente, quase como a reeducação de um homem.

Podemos dizer que é um filme sobre a relação entre pai e filho?
É sobre uma tentativa de readequar utopias. Ele vê no filho o espelhamento do que ele costumava ser. O menino é superlivre, inclusive se relaciona com meninos e meninas. Não existe confusão geracional, mas ele não gosta de ter sua vida invadida e, do nada, passa a ter que dividir isso com muitas pessoas.

E por que se inspirou no Caso Jennifer?
Foi uma inspiração apenas no sentido de ter acontecido no carnaval. Me chamou muita atenção os relatos da autora do crime (Delma Freire, que encomendou a morte da nora em 2010). Aquele caso foi ficando tão absurdo que nenhuma ficção seria capaz de relatar. Parecia um roteiro malfeito. No filme, o assassinato é o ponto de partida que vai espelhando uma história (família de Breno) na outra (família de Emma). O barato da história é outro. O que interessa para nós são os personagens.

Então o longa também foca na família da francesa assassinada?
Sim, é um outro núcleo. Uma família de classe popular do Recife, mas que decidiu morar na França. Em um determinado momento, eles conseguem certo status de classe média baixa, mas expressam certa arrogância. Voltam para o Recife para curtir o carnaval e visitar os parentes. O espelhamento dessa família com a família de Breno também é um ponto chave sobre como o filme se desenvolve. A narrativa vai revelando camadas da história que você tem que ir montando na cabeça para fazer a coisa se fechar.

Por ter a ver com o carnaval, o filme terá uma relação forte com a música, como Tatuagem?
Muita. A gravação de hoje, por exemplo, é uma festa que acontece todo sábado em um bar que eles frequentam. Aqui se apresentam artistas do bairro. Hoje, é a vez da MC Debinha (MC Negrita), que tem um grupo de brega-funk chamado Eletrólise. É tudo bem alucinante, tanto o ritmo quanto a letra. A pegada de carnaval não tem, fica só a purpurina das pessoas, aquela coisa saudosa... A trilha, inclusive, é quase um contraponto do que você está vendo no filme. Leva você para um outro lugar, apesar da história tensa.

Confira mais fotos do set de filmagem:

 (Foto: Paulo Paiva/DP)
Foto: Paulo Paiva/DP


Foto: Paulo Paiva/DP


 (Foto: Paulo Paiva/DP)
Foto: Paulo Paiva/DP


 (Foto: Paulo Paiva/DP)
Foto: Paulo Paiva/DP


 (Foto: Paulo Paiva/DP)
Foto: Paulo Paiva/DP
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