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Grupo pernambucano Estesia aguça os sentidos do público em novo projeto no Recife, com música e debates

Programação também aborda financiamentos de projetos culturais e expõe trabalhos de fotógrafos e videomakers

Publicado: 04/09/2018 às 10:41

Grupo é formado por Carlos Filho, Miguel Mendes e Tomás Brandão. Foto: Felipe Schuler/Divulgação/

Grupo é formado por Carlos Filho, Miguel Mendes e Tomás Brandão. Foto: Felipe Schuler/Divulgação/


De modo geral, shows musicais são espetáculos com uma série de canções conectadas entre si e tocadas em sequência. Com o objetivo de repensar esse modelo, o grupo Estesia, formado por Carlos Filho (voz e guitarra), Miguel Mendes (baixo, sintetizadores e programações) e Tomás Brandão (guitarra e programações), decidiu criar um projeto de dramaturgia musical para dialogar com outras linguagens artísticas. A partir disso, convidaram o iluminador cênico Cleison Ramos para participar como criador e performer do espetáculo, tornando o Estesia um projeto não só de músicos, mas de uma união de criadores. “Todos nós viemos de experiências com bandas independentes, porém percebemos como este modelo de criação e de gestão de carreira estava esgotado e em declínio dentro da nova estrutura da indústria musical, obrigada a se reinventar após o advento do MP3 e do streaming de áudio”, explica Carlos Filho.

Além de analisar os modelos de criação de shows de música, o grupo ressignifica o papel do artista e do público, sobretudo pelas possibilidades abertas com a cultura digital. “É como diria Trepliov, personagem central da peça A gaivota, de Tchekhov: 'Precisamos de novas formas. E, se elas não existirem, é preferível que não haja nada'”, avalia Carlos.

A segunda edição do evento Estesia Convida ocorre a partir desta terça-feira (4), às 19h30, com uma série de shows e debates interativos, no Portomídia (Rua do Apolo, 235, Bairro do Recife). O espetáculo ainda será realizado nos dias 18 de setembro, 2 e 16 outubro, com ingressos a R$ 15, disponíveis através do site da Sympla. Sempre nas terças-feiras, algo pouco habitual no calendário cultural da cidade, essa temporada vai abordar financiamentos de projetos culturais, expor, através de projeções, os trabalhos que fotógrafos e videomakers registraram na primeira edição do encontro e terá um momento no qual os artistas provocarão os sentidos do público.

A programação começa com um debate sobre financiamento cultural e promoção da economia criativa com Eduardo Sarmento (diretor do Paço do Frevo) e Guitinho (vocalista do Grupo Bongar). No dia 18, os convidados serão Maurício Backer Spinelli (da Rabixco Comunicação e Produção Criativa) e o pianista Amaro Freitas. Já Carla Valença (do Baile do Menino Deus) e a poetisa Luna Vitrolira fazem parte da programação do dia 2 de outubro. No encerramento do Estesia Convida, participam o ator pernambucano Irandhir Santos e André Brasileiro (do FIG). “Os convidados são pessoas que nós tomamos como referência no mercado e que acreditamos terem respostas para algumas de nossas dúvidas. Nesse sentido, a escolha é bem egoísta: nós convidamos essas pessoas a sentar e dialogar conosco sobre nossos atuais desafios. Mas, no fim, nossas dúvidas terminam quase sempre sendo as dúvidas de outras pessoas também. Daí a ideia do debate com o público participando”, comenta Carlos. Após a roda de diálogos, os convidados dividem o palco com o grupo Estesia em um espetáculo que mistura arte, música, teatro e tecnologias antigas e novas.

2 perguntas // Carlos Filho - criador do Estesia 

De que forma os sentidos do corpo humano serão estimulados na apresentação?
O show surgiu desde sempre com a pretensão de colocar o público dentro do palco. Queríamos que a plateia sentisse o calor das luzes e a vibração do som em seus corpos. Isso em um palco italiano, em que o público assiste ao show distanciado, é difícil. Portanto, desenvolvemos o Estesia em formato arena, em que a luz recai sobre o palco e a plateia, e o som é feito com caixas espalhadas ao redor do público. Dessa maneira, luz e som deixam de estimular apenas a visão e a audição e se tornam táteis, seja pelos lasers que tocam suas peles ou pelo som grave que mexe com as entranhas. Além disso, neste ano, teremos uma novidade: em uma das cenas, o público será convidado a estimular o paladar. Como? Só indo no show.

Como as diversas linguagens artísticas irão se integrar ao espetáculo?
Essa integração com outras linguagens faz parte de nossa pesquisa desde sempre. Em nossa primeira apresentação, há uns dois anos, incorporamos ao show textos, vídeos e movimentos. Miguel e Tomás atuam há algum tempo fazendo trilha para teatro e dança, e Cleison é formado em artes cênicas. Desde o ano passado, na primeira edição do Estesia Convida, estamos trabalhando com convidados de áreas artísticas diferentes. Portanto, a integração é espontânea e é construída nos ensaios. A premissa do espetáculo é ser aberto e multilinguagem. Parece propaganda enganosa, mas nós nunca repetimos um show. Sempre tem uma cena nova, um convidado novo. Já tivemos atores, escritores, músicos, dançarinos e VJs participando. Por isso, gosto de pensar que não chega a haver integração. O Estesia já nasceu multilinguagem, como tudo do nosso tempo.

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