Música

Conheça a 'sofrência pop' da recifense Duda Beat

Unindo batidas do synthpop com o brega, cantora está ganhando a cena musical alternativa

Publicado em: 22/09/2018 11:37 | Atualizado em: 24/05/2020 19:31

Duda Beat é atração nos festivais MECABrennand e Coquetel Molotov, ambos no Recife. (Foto: Raphael Narciso/Divulgação)
Duda Beat é atração nos festivais MECABrennand e Coquetel Molotov, ambos no Recife. (Foto: Raphael Narciso/Divulgação)


Ao unir batidas sintéticas do pop global com brega, reggae e ritmos latinos no álbum Sinto Muito, a recifense radicada no Rio de Janeiro Duda Beat tem despertado a atenção da cena musical alternativa. Loira, com estética visual plastificada e sotaque carregado, a cantora de 30 anos emerge como uma espécie de "diva cool" do Recife contemporâneo, transitando entre Michelle Melo e Kali Uchis. Após o lançamento do álbum de estreia, sua pretensão agora é ganhar o mainstream.

Apesar da fusão musical ousada, o projeto ganha unidade através das letras (assinadas por Duda e Tomás Tróia). A cantora incorpora a consagrada figura da mulher decepcionada com a vida amorosa. Esse discurso, no entanto, ganha pinceladas de modernidade diante da fluidez dos relacionamentos na era digital. Beat recupera o potencial romântico dos primórdios da música brega, mas o traz para uma sonoridade eletrônica, munida de sintetizadores sagazes. Por conta disso, seu som tem sido categorizado como "sofrência pop".

Com o disco, Eduarda Bittencourt (nome de batismo) finca sua presença em uma promissora cena alternativa carioca ocupada por nomes como Letícia Novaes (Letrux), Alice Caymmi e Mahmundi. Foi inserida nesse universo artístico prolífero que ela idealizou o álbum de forma independente durante dois anos. Contou com o apoio de Tomás Tróia, produtor musical que acabou se tornando seu namorado. Uma equipe composta por nomes como Lux Ferreira, Patrick Laplan, Diogo Strausz e Pedro Garcia finalizam a ficha técnica do trabalho, que já acumula dois milhões de streams no Spotify. 

Duda já se apresentou em várias casas do Rio de Janeiro, no Festival Transborda (BH) e na Virada Cultural de São Paulo. Neste sábado (22), se apresenta no Recife no MECABrennand, primeiro evento da plataforma multicultural MECA no Nordeste. Em 17 de novembro, será uma das atrações do festival Coquetel Molotov, realizado no Caxangá Golf Club.

ENTREVISTA / Duda Beat, cantora

 (Foto: Raphael Narciso/Divulgação)
Foto: Raphael Narciso/Divulgação

Como nasce sua história com a música?
Minha relação com a música sempre existiu, mas passou um tempo adormecida. Participei da banda da igreja quando adolescente. Também fiz algumas apresentações no intervalo da minha escola, em um evento chamado Sexta Cultural. No fim do Ensino Médio, decidi que queria ser médica. Tentei o vestibular no Recife, mas não passei. Decidi ir para o Rio de Janeiro aos 18 anos, pois lá existem quatro faculdades federais. Tentei ingressar na Medicina por sete anos, mas não consegui. No fim das contas, acabei cursando Ciência Política e me envolvendo com a música. Fui back vocal da banda Castelo Branco, cantei no disco da Letícia Novaes (Letrux), que é minha amiga há muito tempo, assim como a Mahmundi. Fazemos parte da mesma cena.

De onde vem o nome artístico Duda Beat?
Passei muito tempo para decidir esse nome artístico. Pensei em colocar Duda Bittencourt, mas soaria sério demais. Uma grande amiga sugeriu: ‘por que você não coloca ‘beat’ de batida?’. Tive medo de que as pessoas achassem que eu fosse uma rapper, mas depois lembrei do manguebeat. Me identifico com o movimento tanto como pernambucana quanto como artista, então não estou me apropriando de nada. Pude seguir com isso.

Como você define a sonoridade do álbum Sinto Muito?
Eu converso com o brega, o trap e alguns ritmos latinos, mas defino como pop mesmo. Eu sou uma cantora pop e cheguei nessa sonoridade pelas minhas próprias influências. Gosto muito de uma cantora colombiana chamada Kali Uchis, também tenho influências de artistas dos anos 1980, da Beyoncé, do Kendrick Lamar, tem até um pouco de hip hop no disco.

Os artistas que você citou também lhe inspiram visualmente?
Sim, eu queria passar um pouco dessa imagem da loira plastificada, algo que é bem comum da cultura pop. Ao mesmo tempo, não sou aquela cantora que vai ficar rebolando no palco. Sou mais uma mulher do pop chic, sabe?

Apesar dessa mistura de ritmos, o álbum soa bastante unificado.
Sim, a unidade dele não está na sonoridade, mas sim nas letras das canções. Eu falo sobre amor não correspondido e empoderamento. Preferi fazer assim não apenas para dialogar com várias bolhas, mas também porque me satisfazia. O processo do disco demorou dois anos. Tudo que está nele foi bem pensado.

Muitos estão definindo seu som como "sofrência pop". Você concorda?
No começo falaram que eu era 'sofrência indie'. Não gostei. Se "ser indie" for ser independente, todos somos. No entanto, na minha concepção essa categoria de indie me coloca em um nicho muito específico. Eu amo todo mundo, gosto de falar com as pessoas cara a cara, então preferi o termo ‘sofrência pop’. 

Então você tem a pretensão de ser uma artista pop massiva, para o mainstream?
Sim. Meus próximos singles serão totalmente pop. Não conversa muito com o Sinto muito, por exemplo. Esse álbum foi muito importante para servir como cartão de visita, para mostrar a minha identidade. Pretendo fazer outro disco e, quando se tratar de single, farei com apelo popular. Esse é o meu desejo.

Apesar de morar no Rio de Janeiro há 13 anos, você canta com um sotaque bem recifense. Também usou a sonoridade brega do disco. Existe uma vontade de soar regional?
Essa foi uma proposta que eu tive o tempo inteiro. Para minha mãe, por exemplo, eu não tenho mais o sotaque recifense. Tive medo de que as pessoas não entendessem que eu sou do Recife. Nas próximas músicas, eu quero colocar até alfaia. Pernambuco me formou como pessoa e artista. Eu passei a maior parte da minha vida aí. Nós pernambucanos nos identificamos muito com a nossa cultura, valorizamos muito. Inclusive achamos que é melhor, existe essa mania de grandeza. Sendo assim, eu quis passar isso.

Como tem sido o feedback do público?
Muito bom. Fazem quatro meses que eu lancei e já tem 2 milhões de streams no Spotify. Tem muita gente me seguindo. Estou muito feliz, sabe? Recebo muitas mensagens de pessoas falando que se identificam com as letras do disco. Gente que acabou de terminar um relacionamento e o álbum ajudou a melhorar a situação. Isso para mim, inclusive, é melhor do que qualquer número: quando alguém escuta sua mensagem, se inspira e se sente melhor. Na música Bolo de rolo, por exemplo, eu prego que as pessoas parem de buscar a felicidade nos outros e vejam o que está em sua volta. Foi isso o que eu fiz.

Você vai se apresentar no MECABrennand. Também se prepara para o Coquetel Molotov em novembro. Como está se sentindo?
Muito feliz. A minha família está em polvorosa, pois até então só a minha mãe me viu no palco. Estou muito ansiosa. O público de Recife só cresce no meu Instagram, as pessoas estão contando os dias. Serão grandes shows. Vou lançar músicas novas em ambas apresentações. Sempre que eu estiver no Recife, vou trazer novidades para vocês.

Ouça Sinto Muito:



Confira os clipes:



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