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Músico lança releituras de Nação Zumbi feitas com sintetizador considerado 'pai' da música eletrônica

Carlos Trilha, tecladista do Los Sebozos Postizos, usou um sintetizador analógico dos anos 1970 para dar vida ao projeto Moogbeat

Publicado em: 27/08/2018 08:38 | Atualizado em: 24/05/2020 19:18

O minimoog, versão compacta do moog, foi lançado em 1970. (Foto: Alessandra Marfisa/Divulgação)
O minimoog, versão compacta do moog, foi lançado em 1970. (Foto: Alessandra Marfisa/Divulgação)

Não é preciso ter vivido os anos 1980 para ouvir sucessos de bandas como Depeche Mode, Eurythmics e New Order e ser transportado diretamente para os clubes noturnos daquela época. Por trás dessas sonoridades misteriosas e envolventes, havia um importante artefato para a cultura pop: o minimoog - sintetizador analógico considerado "pai" da música eletrônica como conhecemos hoje.

O tecladista Carlos Trilha sempre foi fascinado pelo instrumento. Tornou-se tão íntimo das batidas retrôs que resolveu lançar um álbum recriando faixas da Nação Zumbi com o sintetizador. Trilha, por sinal, é integrante da banda Los Sebozos Postizos, projeto paralelo da Nação, com música de Jorge Ben Jor.

Moogbeat: Nação Zumbi para Minimoog, disponível nas plataformas digitais, apresenta nove faixas do grupo pernambucano, incluindo clássicos como Meu maracatu pesa uma tonelada, Quando a maré encher, Blunt of Judah e Futura. Nos dedos fluídos do catarinense, que já trabalhou com Legião Urbana, Marisa Monte e Erasmo Carlos, os clássicos do manguebeat ganharam uma roupagem inédita e nostálgica, soando como sucessos dos primórdios da música eletrônica ou até mesmo trilhas sonoras de filmes de ficção científica dos anos 1970-1980.


“No universo da música, o grande trunfo do minimoog foi poder criar sons que são impossíveis de serem realizados acusticamente. É um instrumento com possibilidades infinitas, mas com a limitação de fazer apenas um único som de cada vez”, explica Carlos Trilha, em entrevista ao Viver. “Todo tecladista ligado em síntese sonha possuir um, porém é muito difícil de encontrá-lo à venda e ainda funcionando".

O projeto com as canções da Nação Zumbi nasceu a partir da amizade que o tecladista construiu com os membros do grupo. O pontapé foi a música Meu maracatu pesa uma tonelada. “Fui totalmente fisgado pelo som e pensei: 'Esses graves no moog seriam um terremoto'.”

Para realizar a "tradução eletromagnética", Carlos teve que identificar cada elemento dentro do turbilhão sonoro do manguebeat, reproduzindo-os manualmente no minimoog. Um verdadeiro desafio: só para finalizar Meu maracatu, foram dois meses. “Fiz tudo em segredo. Quando terminei, percebi que havia surgido algo novo e artisticamente interessante. Uma decodificação em síntese analógica do maracatu, do peso das alfaias”, avalia.



O resultado também agradou Pupillo, baterista que foi o primeiro integrante da Nação a ouvir o trabalho. "Ele me chamou de ‘doido’ e sugeriu que eu desenvolvesse um álbum inteiro neste formato", relembra Carlos. As outras faixas foram escolhidas de forma um tanto aleatória, de acordo com temas, sonoridades ou simplesmente pelo desafio, como no caso de Quando a maré encher.

Para Pupillo, o projeto de Carlos soa como um álbum lançado por Walter Carlos entre o final dos anos 1960 e os anos 1980: "Ele remonta esse quebra-cabeça com maestria e a sensibilidade de quem enxerga o possível e eficaz diálogo entre a raiz africana da Nação Zumbi e esse instrumento, com sonoridade atemporal e possibilidades infinitas", elogia.

Para divulgar o Moogbeat, Trilha prepara um show batizado de Concerto para sintetizadores. Armado com um "cockpit" de sintetizadores, sequencers e drummachines, irá apresentar releituras da Nação Zumbi e versões retrô-futuristas de Vangelis, Heitor Villa-Lobos, Jean Michel Jarre, Carlos Gomes e Kraftwerk.

PILARES
Embora o trabalho do músico desperte curiosidade por criatividade e ousadia, a música eletrônica já era um dos pilares do manguebeat difundido por Chico Science e Fred 04, juntamente com o maracatu, o rock e o hip hop. O álbum de Carlos reacende como a versatilidade do sintetizador foi (e ainda é) importante para esse movimento - e tantos outros gêneros ao redor do mundo. Confirma que o cosmopolitismo musical não tem barreiras geográficas ou temporais.

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