Cinema

Cine Ceará: Filme resgata prosa poética de Eduardo Galeano

Documentário traz depoimentos do escritor uruguaio e trechos de obras recitadas por artistas e pessoas próximas do autor

Publicado em: 09/08/2018 13:05 | Atualizado em: 09/08/2018 13:26

Longa traz trechos de entrevista concedida em 2009. Foto: Cine Ceará/Divugalção

Fortaleza – "É uma forma de voltar a estar com ele", diz o cineasta Felipe Nepomuceno a respeito da motivação para realizar um documentário sobre Eduardo Galeano (1940-2015), após a morte do escritor uruguaio. Exibido pela primeira vez ao público durante o 28o Cine Ceará, no Cineteatro São Luiz, o filme Eduardo Galeano Vagamundo leva para tela a prosa poética do consagrado autor.

"Senti uma necessidade de conversar, eu quis conversar com ele. Eu quero conversar com ele agora", comenta Felipe sobre a lacuna sentida pela partida do escritor, uma figura familiar para ele. O diretor teve a oportunidade de, muito cedo, conhecer o autor de As veias abertas da América Latina. Nos anos 1970, o pai de Felipe, o jornalista, tradutor e escritor Eric Nepomuceno, morava em Buenos Aires, na Argentina, e trabalhou na revista cultural Crisis, dirigida por Galeano.

Longeva, a amizade entre os dois acabou por inserir o uruguaio naquela família brasileira. O longa-metragem, aliás, tem como matéria-prima uma entrevista de Galeano concedida a Nepomuceno para o programa Sangue latino, do Canal Brasil, em 2009. Desse material, foram para o ar cerca de 15 minutos e havia, ainda, aproximadamente meia hora de trechos inéditos, não aproveitados. À esse conteúdo, resgatado após a morte do escritor, foram acrescidas leituras de passagens de algumas obras, na voz de figuras diversas, entre eles o escritor moçambicano Mia Couto, o ator argentino Ricardo Darín, a esposa, Helena Villagrana e até o marceneiro José Carlos, amigo e personagem de um dos textos.
O ator Paulo José é um dos convidados que recitam obras de Galeno. Foto: Nepomuceno Filmes/Divulgação

Todo filmado em preto e branco, mantendo a estética apresentada em Sangue latino, o documentário não envereda pelo formato tradicional de entrevistas e depoimentos, nem faz qualquer recorte especificamente bibliográfico. São pequenos trechos da entrevista com Galeano, essencialmente contando pequenas histórias, recordações e algumas reflexões atemporais sobre vida, amor e outros tópicos explorados frequentemente na obra do uruguaio.

Entre as falas de Galeando e as leituras, há espaços mais contemplativos, com construções visuais ou cenários bastante poéticos, ora com uma trilha sonora discreta, ora em silêncio. Essas escolhas estéticas casam bem com a beleza dos textos e falas do autor, funcionando como um complemento visual para o conteúdo. Uma das locações é justamente a residência do escritor. "A casa continua igual, ainda é a casa dele. O escritório está do jeito que ele deixou. Essas imagens foram as mais difíceis de fazer", diz Nepomuceno sobre a emoção de retornar ao lugar onde conviveu anteriormente com o amigo.

Apesar desses sentimentos nem sempre fáceis de lidar durante a feitura do longa, Nepomuceno teve um particular apreço na hora de montar o filme. "Na ilha de edição, tem a questão do monitor estar muito próximo. Era como se Galeano estivesse a meio metro de mim, foi muito bom voltar a me sentir acompanhado por ele".

*O repórter viajou a convite da organização do festival
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