Homenagem

Nelson Mandela, líder sul-africano, completaria 100 anos nesta quarta

Há 100 anos, nascia o homem que influenciou para sempre as diversas cenas culturais em todo o mundo

Publicado em: 18/07/2018 18:53 | Atualizado em: 18/07/2018 19:03

Foto: Arquivo/AFP Photo

Liderança, resistência, ativismo, força e sabedoria. Essas são algumas das características que tornaram Nelson Mandela uma das personalidades mais relevantes do século 20. Há exatos 100 anos, Rolihlahla Mandela nascia no vilarejo de Mvezo, localizado no sudeste da África do Sul.

A importância do acontecimento transformou 18 de julho no Dia Internacional de Nelson Mandela, data instituída pela Assembleia Geral da Organização das Nações Unidas, em 2009. A reverência ao líder inspirou não só a população e o meio político, mas também o universo cultural: a luta e a vida de Mandela são temas de filmes, livros, músicas, exposições, documentários e de outros segmentos artísticos.

Madiba, apelido atribuído carinhosamente pela população sul-africana ao líder — foi uma das principais personalidades no combate ao apartheid e à dura e violenta política de segregação racial na África do Sul. Estudante de direito, o jovem Mandela ingressou, em 1942, no Congresso Nacional Africano (CNA), partido que defendia os direitos da população negra maioria no país.

Como participante do grupo, Madiba tornou-se um grande representante do movimento anti-apartheid, especialmente após o agravamento do regime, em 1948. Em 1964, o ativista foi preso. Condenado à prisão perpétua, Mandela permaneceu encarcerado até o ano de 1990. Após a libertação, tornou-se presidente do CNA, e, em 1994, alcançou a presidência do país pelo partido.

“Lembrar da relevância de Mandela é fundamental para a luta internacional contra o racismo. O apartheid era um regime autoritário, violento, que levou à morte de milhares de pessoas e que torturou e matou inúmeras esperanças políticas. Mesmo preso, ele continuava a ser uma pessoa que estimulava os africanos a não retrocederem.” As palavras do professor Nelson Inocêncio, doutor em artes pela Universidade de Brasília (UnB) e atuante em estudos das relações raciais, evidenciam a importância e a força que Mandela representa para a população ao redor do mundo.

De acordo com o professor, a trajetória de Madiba foi fundamental para a reestruturação do país após o fim do regime do apartheid. “Quando ele consegue ser libertado, continua pavimentando o caminho até a presidência, ciente de que a África do Sul precisava ter novos rumos, uma nova direção”, explica Inocêncio.

Memória 
 
Um ícone em solo brasileiro 
Nelson Mandela em visita à Universidade de Brasília em 1991. Foto: Arquivo/Universidade de Brasilia


Legado

As influências do ativista ultrapassaram o âmbito político e chegaram até a arte. Esse fato se deve à estreita relação entre cultura e política. Para Inocêncio, o racismo é um fenômeno político e cultural. “Por isso, o combate a esse tipo de discriminação também afeta as relações artísticas. Quando Mandela se torna essa referência que o mundo inteiro reconhece, influenciou o teatro, o cinema, a literatura, a poesia, as artes visuais…”

Segundo o especialista, esse é o motivo pelo qual atividades, como o concerto Free Nelson Mandela, em 1988, no estádio de Wembley, em Londres, teve tanta força e reuniu artistas incluindo Harry Belafonte, Sting e Stevie Wonder. O show, que comemorava os 70 anos de vida do líder e pedia a libertação de Mandela, contou com cerca de 600 mil pessoas na plateia da arena londrina. “Artistas renomados e politizados participaram de eventos em homenagem a Mandela. Eu os chamo de ‘artivistas’: artistas ativistas. Eles se deram conta de que era importante trabalhar esse conteúdo em suas áreas específicas”, conta o professor.

Além disso, uma das razões para a retratação da vida de Nelson Mandela nas artes é o destaque que a atuação do líder teve frente ao apartheid. “Mandela foi tão brilhante, que conseguiu ser maior que o apartheid, ser maior que a ditadura que oprimiu o povo sul-africano durante décadas. É por isso que ele continuará sendo lembrado e seu legado seguirá influenciando as gerações seguintes, inclusive na cultura”, ressalta Inocêncio.

Entretanto, para o professor, além das questões políticas, o sucesso de Mandela se deve a um fato: ele soube conquistar o povo por meio do carisma, da simplicidade e da sabedoria. “Ele foi intelectualmente uma pessoa que resistiu e, ao mesmo tempo, não esmoreceu. Manteve-se firme até o último momento de vida. Ele foi o tempo inteiro uma pessoa que demonstrava um amor imenso para o povo sul-africano”, afirma Inocêncio.

Além de celebrar a história e a vida de Mandela, a data de hoje traz à tona recordações da passagem do ativista pelo Brasil, e, em especial, pela capital federal. Em 1991, a Universidade de Brasília concedeu a Nelson Mandela o título de Doutor Honoris Causa. Em parceria com o Itamaraty, a organização da universidade conseguiu levar o líder e a então esposa, Winnie Mandela, ao espaço.

“Quando se espalhou a notícia, os movimentos negros se mobilizaram. Era tanta gente, que tomaram conta do auditório da Faculdade de Medicina da UnB”, lembra o professor José Coutinho, da Faculdade de Arquitetura. Coutinho foi um dos organizadores da celebração e, emocionado, recorda do evento. “Tive a honra de conhecê-lo pessoalmente, apertar sua mão. Era uma figura de uma simplicidade!”, conta.

Na ocasião, Mandela discursou ao lado de Antonio Ibañez Ruiz, reitor da universidade à época. “Foi um instante maravilhoso, com discursos do reitor e de Mandela. Ele agradeceu em inglês”, afirma o professor Coutinho. Para ele, a vinda do ativista a Brasília é de grande importância para a história da cidade e da UnB. “O Brasil tem uma relação com a África. Mandela veio num momento em que o nosso país estava tentando estabelecer um elo com a população africana”, afirma.

Foto: Arquivo/AFP Photo


Inspiração

Conheça obras que falam sobre a vida e a história de Madiba:

Cinema

 Invictus
• (EUA, 2009, 132min, drama. Classificação indicativa livre). De Clint Eastwood. Com Morgan Freeman, Matt Damon e Tony Kgoroge. Eleito recentemente, Nelson Mandela (Morgan Freeman) vê a Copa do Mundo de Rúgbi, realizada pela primeira vez na África do Sul, como uma oportunidade para restabelecer a paz e unir a população pós-apartheid.

Mandela, a luta pela liberdade
• (Goodbye Bafana, EUA, 2007, 118min, drama. Não recomendado para menores de 10 anos). De Billie August. Com Joseph Fiennes, Dennis Haysbert e Diane Kruger. Baseado em relatos de um guarda da prisão onde Mandela (Joseph Fiennes) esteve encarcerado, o longa mostra a experiência e os ideais abraçados pelo líder na cadeia.

Winnie
• (Canadá, 2013, 103min, drama. Verifique a classificação indicativa). De Darrell James Roodt. Com Jennifer Hudson, Terrence Howard e Wendy Crewson. A vida de Winnie Mandela (Jennifer Hudson), ativista política e uma das mulheres de Nelson Mandela, é retratada no longa. O trabalho mostra a infância e o casamento de Winnie, além de abordar a relação entre ela e o líder durante o período de prisão.

Mandela — O caminho para a liberdade
• (Mandela: Long walk to freedom, Reino Unido e África do Sul, 2014, 139min, drama. Não recomendado para menores de 12 anos). De Justin Chadwick. Com Idris Elba, Naomi Harris e Tony Kgoroge. O longa é baseado na autobiografia de Nelson Mandela, lançada em 1994. O filme mostra, com uma abordagem pessoal, a trajetória de Mandela (Idris Elba), da infância à presidência da África do Sul.

Mandela e de Klerk
• (Mandela and de Klerk, EUA, 1997, 114min, drama.Verifique a classificação indicativa). De Joseph Sargent. Com Sidney Poitier, Michael Caine e Tina Lifford. O filme mostra a trajetória de Mandela (Sidney Potier) e de F.W. de Klerk, presidente da África do Sul que legalizou o Congresso Nacional Africano e recebeu, ao lado de Mandela, o Prêmio Nobel da Paz.

Música

Mandela day
• De Simple Minds. Street fighting years. 1989

Mandela
• De Santana. Freedom. 1987

Life is for living
• De Santana. Milagro. 1992.

Free Nelson Mandela
• De The Specials. In the studio. 1984.

Literatura

Cartas da Prisão de Nelson Mandela
• De Sahm Venter e Zamaswazi Dlamini-Mandela. Todavia livros. 648 páginas. R$ 84,90. 

Conversas que tive comigo
• De Nelson Mandela. Editora Rocco. 416 páginas. R$ 96. 

Nelson Mandela — Uma lição de vida
• De Jack Lang. Mundo editorial. 240 páginas. R$ 32,90.

Mandela — Retrato autorizado
• De Mac Maharaj. Editora Alles Trade. 356 páginas. R$ 88,80.

Nelson Mandela — O prisioneiro mais famoso do mundo
• De Seong Eun Gang. Editora Pallas. 42 páginas R$ 39,90.
Os comentários abaixo não representam a opinião do jornal Diario de Pernambuco; a responsabilidade é do autor da mensagem.
MAIS NOTÍCIAS DO CANAL