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Afropresentismo

Artista plástico recifense fará exposições em Nova York e Atlanta, mas precisa de ajuda

Natural do Totó, Samuel d'Saboia lançou uma campanha de vendas para custear sua estadia de quatro meses nos Estados Unidos

Publicado em: 02/07/2018 08:31 | Atualizado em: 23/04/2020 01:05

Samuel é representante de um movimento chamado Afropresentismo. (Foto: Josefina Bietti/Divulgação)
Samuel é representante de um movimento chamado Afropresentismo. (Foto: Josefina Bietti/Divulgação)
Historicamente, os negros foram representados pela arte ocidental sob esteriótipos negativos, geralmente ligados à escravidão, sexualização, violência ou loucura. Foi contrariando essa tradição que o recifense Samuel d’Saboia, de apenas 20 anos, conquistou os salões de arte de metrópoles como São Paulo e Nova York.

Natural do Totó, bairro da Zona Oeste, ele é representante de um movimento chamado Afropresentismo, que usa de uma estética contemporânea para redefinir a representação do negro na arte e reivindicar avanços para essa população na atualidade. Seus traços também transcenderam as telas e já estiveram no São Paulo Fashion Week e em um editorial da revista Elle.

Em contraste com o Afrofuturismo, movimento artístico que idealiza o negro no futuro, o Afropresentismo quer pensar o negro de hoje. "Eu quero realizações no agora e prezo muito pela união de todos, independe da raça. Nossos ideias como seres humanos são muito maiores do que isso tudo", diz o jovem, em entrevista ao Viver.

Telas Tríplice e Vesuvio Era uma Mulher. (Foto: Samuel d'Saboia/Divulgação)
Telas Tríplice e Vesuvio Era uma Mulher. (Foto: Samuel d'Saboia/Divulgação)

Nas obras, ele exalta a negritude com traços contemporâneos, coloridos e produzidos com técnicas de mixed media - que utiliza de múltiplos tipos de materiais. "Tinta acrílica, a óleo ou guache, café, carvão, jornais ou pigmentos mais caros. Uso o que eu tiver na mão". 

Atualmente, ele se prepara para duas exposições nos Estados Unidos. Uma será em Atlanta, organizada pela Messy Magazine, e outra na galeria Ghost Project, em Nova York. No intuito de arrecadar a quantia suficiente para a estadia no exterior, ele montou uma campanha de vendas sob encomenda. A ideia é arrecadar mais de R$ 15 mil (equivalente a U$ 4 mil) para bancar as passagens de avião, alimentação e transporte durante os quatro meses nos EUA.

Obras pinceladas no papel custam em torno de R$ 350, já as telas são vendidas a partir de R$ 1500. Samuel recebe encomendas na DM (direct message) do seu Instagram (@sarmurr). Grande parte dos pedidos estão sendo feitos por nova-iorquinos e entregues por transportadoras. Em Recife, sua terra natal, o público ainda é escasso. "Mas aqui eu faço questão de entregar os trabalhos pessoalmente", diz ele.

VISIBILIDADE NA INTERNET
 (Foto: Josefina Bietti/Divulgação)
Foto: Josefina Bietti/Divulgação
Samuel começou seus primeiros trabalhos artísticos com 14 anos, já fazendo um rascunho do que viria ganhar forma posteriormente. Aos 15, iniciou cursos superiores de arquitetura e design gráfico, ampliando sua visão sobre artes. "Apesar disso, a faculdade me tomava muito tempo e não conseguia produzir. Desisti dos cursos".

Para driblar as condições financeiras adversas e ganhar certo destaque no meio artístico, ele criou uma página no Facebook chamada Nympheshit. "Foi assim que comecei a me tornar uma persona na internet e a ter em contato com pessoas de outros países, alguns curadores, que se tornaram amigos e compradores".

O jovem centrou fogo na internet, sobretudo no Instagram, e não parou de colher frutos. Em 2016, fez sua primeira exposição em Nova York, na Teen Art Saloon. "Eles pagaram pelo envio do material. Depois disso comecei a ter um nome mais forte lá fora".

Nos EUA, o garoto chamou atenção do movimento norte-americano Afro Punk, que agrega ativismo, artes plásticas, música e moda. "Comecei a ter uma troca direta com o criador deles, o Lou Constant, que começou a me guiar na arte lá de fora".

AFROPRESENTISMO NA MODA
Peças das marcas Prada e Fendi em editorial de curadoria de George Krakowiak. (Foto: Josefina Bietti/Divulgação)
Peças das marcas Prada e Fendi em editorial de curadoria de George Krakowiak. (Foto: Josefina Bietti/Divulgação)
No Brasil, Samuel ganhou destaque em São Paulo com apoio de Susana Barbosa, diretora de redação da revista Elle. "Fui o primeiro a aparecer na coluna Vozes, que fala sobre pessoas criativas em ascensão no Brasil".

Sua inserção no ramo da moda se acentuou quando foi convidado para fazer pinturas em vidro para um editorial de moda da Elle idealizado pelo estilista George Krakowiak - participaram grifes como Channel, Gucci, Fendi e Prada.

Samuel também participou da 43ª edição do São Paulo Fashion Week, em 2017, ao assinar a estamparia de uma coleção da grife Cemfreio, do estilista Victor Apolinário. O mote do "desfile-protesto" foi Toda Beleza Pode Ser. "Foi um trabalho que me apresentou para a cena artística e da moda de São Paulo. Trouxe um debate para a presença de criadores negros nesses ramos. Um menino negro de 19 anos fazendo aquilo... Algo inédito”.

Nessa mesma edição do SPFW, o rapper Emicida realizou o segundo desfile de sua grife LAB, com todos modelos negros. Por ironia, esse evento simbólico foi o mesmo em que o Fioti, irmão de Emicida e sócio da LAB, foi barrado na entrada do evento por ser negro.
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