ENTREVISTA

Vencedor do Jabuti de Ilustração, Odilon Moraes oferece curso no Recife. Confira a entrevista exclusiva

Ilustrador premiado vem ao Recife para ministrar o curso Quando os desenhos fazem literatura

Publicado em: 07/06/2018 17:22 | Atualizado em: 08/07/2019 17:37

Foto: Nino Andres/Divulgação (Foto: Nino Andres/Divulgação)
Foto: Nino Andres/Divulgação (Foto: Nino Andres/Divulgação)

Palavras, imagens e o desafio de criar uma história. Assim o livro ilustrado se apresenta como uma das narrativas mais curiosas e inventivas na literatura do século 19. Mergulhando nesse segmento do universo literário, para todas as idades, o premiado autor e ilustrador Odilon Moraes vem ao Recife, no sábado (9) e domingo (10), para apresentar o curso Quando os desenhos fazem literatura. A vivência será realizada no Edf. Texas, no bairro da Boa Vista, Centro do Recife. 

Durante os dois dias, Odilon pretende compartilhar todo o seu processo criativo, abordando uma breve história do livro ilustrado - contextualizando o nascimento da literatura infantil, no século 18 -,  à criação dos livros brinquedos. Além da abordagem teórica, o autor vai trazer bonecas de livros (a primeira versão do livro impresso, para ajustes ou correções) e outras narrativas inéditas construídas por ele. 

O curso é uma realização do projeto social Lindeza, idealizado pela arteterapeuta Gabriela Vasconcellos. “Trazer Odilon é trazer possibilidade de outras pessoas verem arte. Através de uma literatura com imagens, ele pensa o livro como um todo - não só a ilustração”, comenta Gabriela. “Esse tema  é novo o suficiente para compreender várias discussões e, no curso, vamos ter a oportunidade de viver o trabalho criativo dele”, finaliza. 

Biografia

Nascido em São Paulo, cursou a faculdade de arquitetura, mas a sua paixão por livros e desenhos o levou a trabalhar com ilustração. Odilon é autor dos livros O presente, A princesinha medrosa e Pedro e a lua. O último lançamento foi Rosa, uma união entre as experiências da paternidade e A terceira margem do rio, de Guimarães Rosa. Seu prêmio mais recente é o Troféu Monteiro Lobato de Literatura Infantil 2018. Além disso, Odilon carrega na bagagem dois prêmios Jabutis, nas categorias Ilustração de Livro Infantil ou Juvenil e Infantil.

Pedro e a Lua é um dos livros do paulista  (Foto: Reprodução/Internet)
Pedro e a Lua é um dos livros do paulista (Foto: Reprodução/Internet)


Confira a entrevista exclusiva com Odilon Moraes

O livro ilustrado é literatura infantil? 

Sim e não. Não, porque a literatura infantil existiu antes do livro ilustrado, no século 18. Nesse período, o próprio conceito de criança não existia. A criança não tinha um mundo à parte dos adultos. Existiam livros com histórias para crianças, mas eram os pais que liam para elas. 

E como se deu essa história?

A partir do século 19, a realidade é outra. As coisas são pensadas para crianças, existe um segmento de produtos e a pedagogia tenta entender a criança como universo particular. Nessa época, é inventado o toybook, que é o livro brinquedo. Até então, a criança não tinha o próprio livro dela e o toybook surge para ser manuseado pela criança. O próprio fato de usar a imagem como narrativa é uma derivação do universo da criança, assim como imagens coloridas, pouco texto, imprevisibilidade na exploração do objeto. Então, podemos dizer que o livro ilustrado nasce dentro desse pensamento do livro-brinquedo, onde desponta uma curiosidade, que é a ilustração passar a ser um trilho para construir histórias. 

Então a literatura infantil e o desenho ilustrado são narrativas indissociáveis?

Alguns estudiosos entendem o livro ilustrado para além do universo infantil, embora tenha nascido lá. Uma invenção é sempre baseada em outras, os livros medievais têm a ver com isso também. Hoje, outros autores, dizem que o livro ilustrado é literatura pós-moderna, porque congrega vários elementos: a imagem, a palavra e às vezes o objeto. 

O que você acredita? 

Minha teoria é que, pelo fato do livro ilustrado ter nascido dentro da literatura infantil guarda-se o território da criança, da experimentação. Mesmo um adulto que fala “não faço livro ilustrado para criança”, na verdade ele está se utilizando de recursos do universo infantil que foram muitos expressivos.  

Pensando na composição do livro ilustrado, é mais “difícil” desenvolver uma narrativa visual ou verbal?

No livro ilustrado, o talento do ilustrador que está em jogo é maior do que o de interpretar um texto. Uma narrativa visual nasce de alguém que tenha no talento de desenhos também a característica de criar com eles uma sequência. O livro, por si só, carrega o formato chamado códice, que são as páginas amarradas. Pedaços de papel costurados que remetem a uma sequência. Assim, se cria a ilusão de temporalidade e a grande mágica do livro é transformar espaço em tempo. De certa maneira, o desafio do ilustrador está em fazer com o que o olhar não pare em um só desenho, que passe de um para outro naturalmente. O ilustrador joga quase uma batalha entre a imagem - pare e olhe X passe e vire a página. É um trabalho difícil transformar desenhos em narrativas. 

Você acredita que a compreensão de palavras e imagens devem ser independentes?

Uma coisa bonita do livro ilustrado é falar do poder que a imagem tem, inclusive de transformar a palavra. Você vê a palavra e entende uma coisa, olha a imagem entende outra, e vice-versa. A grande riqueza é esse jogo entre palavras e imagens e isso significa interdependência. 

Outra coisa, se pensar bem a forma de narrativa do livro ilustrado, é a maneira como compreendemos o mundo. A gente não compreende o mundo pelas palavras, compreendemos o mundo pelas palavras e imagens. O leitor precisa se sujeitar a essa dupla orientação, uma coisa contada pela imagem e outra pela palavra, que muitas vezes não se cruzam, mesmo quando quer contar a mesma coisa, são contadas de forma diferente.

Qual o seu público alvo?

Acho muito complicado para todo tipo de arte decidir o destinatário a priori. Se pode até dizer que o público do livro ilustrado no começo era direcionado para crianças, mas ao mesmo tempo tem que pensar que a beleza da arte é exatamente o contrário, é o destinatário que escolhe seu remetente, como uma carta ao contrário. O livro ilustrado toca a criança por essa criança que tem dentro dele. Acho que é inevitável. O máximo que você pode deixar é ser verdadeiro. 

O curso já foi realizado em outros lugares no Brasil. Qual é a expectativa de oferecê-lo no Recife?

Só visitei o Recife uma vez, inclusive tenho vários amigos ilustradores lá. Será um prazer ficar um pouco mais. 

Serviço

20 vagas
Quando: 9 e 10 de junho
Horário: 9h às 17h
Onde: Edf. Texas (Rua Rosário da Boa Vista, 163. Boa Vista, Recife)
Valor: R$ 450,00
Inscrições: maislindeza@gmail.com 
  

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