Entrevista

'Ninguém é uma coisa só', diz Thiaguinho sobre pagode eclético e mistura de ritmos

Artista lança novo disco do projeto Tardezinha e comemora 16 anos de carreira

Publicado em: 11/06/2018 20:00 | Atualizado em: 11/06/2018 18:49

A turnê Tardezinha viaja o Brasil com proposta de ser uma roda de samba e show prolongado. Foto: Sandro Mendonça/Divulgação


Assumidamente viciado em pagode, Thiaguinho celebra os 16 anos de carreira e homenageia os artistas que o inspiraram no disco Tardezinha Volume 2, lançado sexta-feira em todas as plataformas de streaming. O álbum é a continuação do projeto que teve início como uma festa no Rio de Janeiro, em 2015, para cantar sucessos do samba e do pagode. Em entrevista ao Viver por telefone, Thiaguinho explica o sucesso do projeto, fez balanço do momento atual da carreira e não esconde o carinho especial pela capital pernambucana. Ele explica porquê criou a hastag #Recifediferenciado. “Eu amo Recife. É  sempre muito diferente cantar aí, porque o público ama samba de um jeito louco. Me sinto muito em casa, tenho amigos e fãs que viraram meus amigos”, elogia.  

Ouça a playslist do disco Tardezinha 2:


A turnê Tardezinha viaja o Brasil com proposta de ser uma roda de samba descontraída e apresentação prolongada. O show encanta os pagodeiros com a estrutura de palco 360º e as mais de quatro horas ininterruptas de música que foram sucesso nas décadas de 1990 e 2000. Na última edição no Recife, em evento esgotado no dia 27 de maio, no Terminal Marítimo, Thiago André iniciou às 17h35 e parou de cantar após as 22h. Na ocasião, ele anunciou que voltará como atração do Samba Recife, no dia 29 de setembro, na área externa do Centro de Convenções. Tardezinha volume 2 é composto por 12 pot-pourris e inclui hinos como Ainda gosto de você (Sorriso Maroto), Luz do desejo (Exaltasamba), Depois do prazer (SPC), Quando a gente ama (Travessos), Recado a minha amada (Katinguelê) e Farol das estrelas (Belo). "Com todo o repertório que faço no show vai ter o terceiro,  o quarto, o quinto...", sugere.

Em paralelo, Thiaguinho trabalha faixas do disco de inéditas Só vem, onde expressa sua renovação musical e aposta na mistura de ritmos. "Busco algo novo pra mim, sem pender essência do pagode que faz parte da minha vida. Em Só vem tenho inéditas que refletem meu pensamento musical atual. Não que seja novidade, pois desde o Exalta procuro fazer essa mistura de gêneros e deixo transparecer nesse trabalho", afirma.

Entrevista // Thiaguinho

A turnê Tardezinha viaja o Brasil com proposta de ser uma roda de samba e show prolongado. Foto: Sandro Mendonça/Divulgação


A que atribui o sucesso do Tardezinha?
Acho que muita coisa faz com que esse projeto seja bem quisto. O samba, em primeiro lugar, é um gênero muito querido e para quem gosta, ver mais de três horas de show, as vezes quatro e até cinco, é muito legal. No repertório canto músicas da minha carreira e as que cresci ouvindo. A gente pode viajar no tempo. Em relação ao disco, quando iniciei a festa não tinha a intenção, mas com o tempo surgiu a ideia. É minha homenagem a esses artistas que respeito bastante. O primeiro não coube todas as músicas e nem caberia. Com todo o repertório vai ter o terceiro, o quarto, o quinto...

Com repertório extenso, como é o critério de escolha das músicas para o disco?
Nossa, é muito difícil mesmo. Sou viciado em pagode e conheço quase tudo. Muitas músicas me influenciaram e escuto até hoje. Divido essa missão com Prateado e com o Rodriguinho. São duas pessoas que vivenciaram o pagode. Prateado é um dos maiores produtores de samba e compôs muitas músicas desde os anos 1990. Já Rodrigo (ex-Travessos) é um dos maiores expoentes do samba dos anos 2000. Junto com eles fica mais fácil para mim.

Como outros projetos que resgatam antigos sucessos, o Tardezinha tem data de validade?
Acho muito difícil ter validade. São músicas com mais de 20 anos, que estão aí e os artistas continuam cantando nos seus próprios shows até hoje. De nomes consagrados que fazem sucesso como Alexandre Pires, Belo e Péricles. As pessoas não vão se cansar. É difícil cansar do que é bom. O projeto é muito gostoso e gostaria que não tivesse validade.

Em paralelo ao Tardezinha você está trabalhando faixas do disco Só vem. Como se divide entre as propostas?
Em um trabalho, a intenção é regravar canções e mostrar para as pessoas o que cresci ouvindo e fui influenciado. Por outro lado, estou muito mergulhado no Só vem. Já trabalhei Energia surreal, que ainda é uma música quente. Depois teve Só vem, com Ludmilla, e Ponto fraco é a nova que tem agradado demais.  Tenho vontade de que outras faixas toquem na rádio. Considero esse o disco mais legal que já fiz na vida inteira. Tô vivendo muito ele. Acabo de lançar com Alexandre Pires, Eu vim pra fazer a diferença, e teve a Saideira, com o Atitude 67.
 
As parcerias entre artistas de ritmos diferentes estão cada vez mais comuns. A música não está perdendo a identidade com essa mistura toda?
Não, pelo contrário. A gente vive em um país que tudo é misturado. Quanto mais misturada for a música melhor. Quanto menos fronteira tiver, melhor. Ninguém é uma coisa só. Acho que a mistura é louvável.

O espaço do samba na música brasileira mudou ao longo dos  anos, mas isso nunca atingiu sua carreira nesses 16 anos. Como analisa?
Primeiro, me sinto muito feliz em fazer parte do samba. Música que onde chega tem o carinho do brasileiro e é reflexo dessa mistura. Na minha realidade, na família, amigos e  pessoas que são próximas o samba é muito forte. Desde que me entendo por gente e continua sendo assim nas famílias do Brasil. Ao longo desses 16 anos não consigo lembrar de não ter público para consumir o samba. Os outros artistas que vivem disso a muito  tempo continuam levando essa musica que admiro e respeito para todo o país. 

O país passa por uma situação política delicada, como acredita que os artistas devam se posicionar?
Óbvio que tenho as minhas opiniões e visões. Acredito que a melhor forma de me expressar tudo é através da música, que é meu ofício. Entendo que as pessoas tenham curiosidade, mas nem  todo mundo está preparado para lidar e aceitar a opinião alheia.  Não sei se é realmente uma obrigação dar opinião sobre tudo o que acontece. Converso com familiares e amigos, com as pessoas que me cercam e faço parte da comunidade. É impossível fechar os olhos. A minha opinião, por ser criado na Igreja é acreditar muito no bem, seguir ensinamentos de Jesus. Que as pessoas sejam menos egoístas, pensem nos outros e em si mesmos. Isso serve para tudo, não só na política. 

Ouça Ponto fraco:



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