Negritude
Resistência e visibilidade marcam 4º Festival de Cultura Negra do Recife
O evento celebrou os doze anos do Coco dos Pretos e contou com a participação de diversos grupos populares na noite do último domingo (03)
Por: Samuel Calado
Publicado em: 05/06/2018 12:20 | Atualizado em: 05/06/2018 12:59
Promover um espaço de troca de saberes, resistência e visibilidade. Foi com este objetivo que vários grupos de cultura popular se reuniram na noite desse domingo (03), na comunidade de Chão de Estrelas, na Zona Norte do Recife, para apresentar a IV edição do Festival de Arte e Cultura Negra. Segundo os organizadores, o evento reuniu um público de aproximadamente 3 mil pessoas.
A produtora cultural Wanessa Paula Santos, uma das idealizadoras, disse que o evento teve a intenção de reacender as ações de combate ao racismo e a intolerância religiosa. “A nossa comunidade sempre foi ativa no universo cultural. Com o passar do tempo essas ações começaram a enfraquecer. Nos anos 2000 decidimos reforçar os laços de militância para reavivar as manifestações locais".
O Festival celebrou os doze anos do grupo Coco dos Pretos, composto por artistas da localidade e bairros adjacentes. No palco, os músicos trouxeram um vasto repertório de canções populares que exaltaram a identidade e a religiosidade de matriz africana.
O Centro Cultural Cambinda Estrela, localizado na Rua Doutor Elias Gomes, próximo ao terminal de ônibus de Chão de Estrelas, oferece diversas atividades sociais e profissionalizantes durante o ano. Além do Coco dos Pretos, a instituição contempla um grupo de Afoxé, o Omolu Pá Kèrú Awô (considerado o único afoxé a ter como patrono esta divindade africana, ligada a cura e a terra), e uma nação de maracatu, o Cambinda Estrela, entidade cultural bastante tradicional na cena cultural pernambucana, com mais de 80 anos de existência.
Fora as apresentações dos grupos da casa, o festival recebeu outras atrações. Entre elas, a Ciranda de Sant’Anna, do bairro de Casa Amarela, que trouxe o pequeno Gabriel Santos, de 6 anos na equipe de músicos. Uma criança prodígio, filho do presidente do grupo, Arthur Santos, que com muito carinho ensinou ao filho como tocar o agogô, um dos instrumentos mais utilizados nos ritmos de afrodescendentes. A criança chamou bastante atenção de todos que assistiam, muitos comentavam que nem sequer conseguiam bater palma e dançar ao mesmo tempo, quem dirá tocar, dançar e cantar como o pequeno gigante. O pai explicou que o costume já é uma tradição dentro da família. "Meu pai, Hamilton Santos me levava quando eu era criança para assistir aos grupos e hoje eu que levo o meu filho. O meu compromisso é mostrar para ele importância da música enquanto resistência do nosso povo. Temos muita luta pela frente diante de uma sociedade onde a desigualdade ainda está impregnada nas relações de poder e a cultura negra ainda é encarada por alguns com preconceito”.
Em seguida foi a vez do Bongar, grupo de Olinda, abrilhantar a noite com os encantos da Nação Xambá e a homenagem à Malunguinho, símbolo da resistência negra em Pernambuco, presente no culto a Jurema Sagrada. Enquanto os músicos tocavam no palco, o público formava uma grande roda de coco, revezando-se entre as duplas e passos improvisados. O encerramento ficou a cargo dos músicos da Cadência, com participação especial de Gabi do Carmo.
A Mestra Ana Lúcia, da comunidade do Amaro Branco, no Sítio Histórico de Olinda, também foi uma das convidadas especiais da festividade. A cantora realizou uma participação especial junto com o grupo de coco aniversariante. Com um trabalho social de grande visibilidade na localidade, a artista, também coordena dois grupos populares, entre eles um Pastoril. Seu nome esteve entre as indicadas pela prefeitura de Olinda para ser uma das homenageadas do carnaval deste ano.
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