Série

O polêmico mundo de Osho é tema da série Wild wild country, na Netflix

Série documental aborda desde o início da religião até a prisão de líderes e seguidores

Publicado em: 13/06/2018 13:09

Osho e seus seguidores causaram uma série de controvérsias e originaram a série Wild wild country. Foto: Netflix/Divulgação

O início da década de 1980 foi movimentado na (até então) pacata comunidade de Antelope, interior de Oregon, nos EUA. Cerca de 50 aposentados viviam ali, como rancheiros, numa sociedade em que não parecia haver disputas em nenhuma instância.

A vida deles vira de cabeça para baixo com a chegada, em 1981, dos seguidores do guru indiano Rajneesh, o Bhagwan, ou ainda Osho. A instalação deles no Big Muddy Ranch, a fundação de uma cidade, os conflitos entre os moradores, a expansão e a derrocada da religião de Osho — tudo isso está presente em Wild wild country, série documental em seis episódios produzida pela Netflix e dirigida pelos irmãos Chapman e Maclain Way.

Em cerca de oito horas, Wild wild country se esmera ao trazer depoimentos inéditos (e colhidos especialmente para a série) de praticamente todos os envolvidos no episódio. Ganham voz rancheiros, adeptos da seita de Osho, o FBI e a líder dos sannyasins, Ma Anand Sheela. Os depoimentos são intercalados por impressionantes registros da época — vídeos feitos pelos dois lados da moeda, programas de tevê e jornais que cobriram o que estava acontecendo. É nessas imagens de arquivo que Bhagwan, morto em 1990, aparece.

Wild wild country mostra todos os passos da ascensão dos sannyasins. Na verdade, começa antes disso, na formação da religião de Osho, ainda na Índia, passa pela transferência para os EUA (escolha que não foi feita à revelia — a Constituição do país prevê liberdade para a formação de religião) e pela compra do rancho onde Sheela, a quem Osho dá total autonomia e uma procuração de plenos poderes, pretende instalar a comunidade deles, batizada de Rajneeshpuram, com a capacidade de receber mais de 10 mil pessoas.

Mesmo que os sannyasins viessem pregando preceitos vistos como bons (economia autossuficiente, comunidade livre de amarras sociais, amor livre, educação para todos e por aí vai), a recepção não foi nada dócil. Os moradores de Antelope fizeram o que podiam para tirá-los dali, mas é como diz um jornalista ainda na década de 1980: “Tudo que eles (os sannyasins) fizeram foi legal. A questão é se foi correto”.

Questões religiosas, filosóficas, morais e até legais vão se enfileirando — sempre com os dois lados tendo vez —, deixando o espectador de Wild wild country um tanto confuso (no bom sentido), pois há (pelo menos no início do imbróglio) argumentos convincentes de ambas as partes.

Crimes
É interessante ver na série que a disputa, iniciada no campo das palavras, chega logo à violência — primeiro por parte dos rancheiros, que foram seguidos pelos sannyasins. E que a sede pelo poder acaba tomando conta da líder Ma Anand Sheela (a verdadeira protagonista de Wild wild country), talvez aí o motivo da crise do credo de Osho. Somada à intolerância religiosa, a ganância representa o início do fim da seita e dos crimes que levaram Sheela, vários seguidores e alguns rancheiros à prisão.

Outro ponto que Wild wild country aborda é a vida que levava Bhagwan. O líder religioso quase nunca se expunha (somente no final, quando passa a temer o poder dado a Sheela) e, apesar de pregar o desapego, levava uma vida no mínimo luxuosa, chegando a ter 90 rolls royces ao mesmo tempo. A atitude de negar o que foi feito em nome dele — ele alega que não sabia de nada que faziam ali e questiona as provas materiais dos crimes que teria cometido — também merece a atenção na série, lançada quase na surdina pela Netflix em março e responsável por um bom barulho recentemente. 

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