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Entrevista

Geraldinho Lins comemora melhor fase da carreira e é homenageado do São João

Artista de 45 anos representa o forró tradicional em maratona com 35 shows durante o período junino

Publicado: 22/06/2018 às 15:50

"Tem sido motivo de muito orgulho e estou saboreando isso diariamente", diz o músico com 28 anos de carreira. Foto: Jonas Liberato/Divulgação/

"Tem sido motivo de muito orgulho e estou saboreando isso diariamente", diz o músico com 28 anos de carreira. Foto: Jonas Liberato/Divulgação/

"Tem sido motivo de muito orgulho e estou saboreando isso diariamente", diz o músico com 28 anos de carreira. Foto: Jonas Liberato/Divulgação
Umas das manifestações culturais mais fortes no Nordeste, o São João é celebrado com dança, música e gastronomia típica em vários pontos do estado. Pernambuco está em festa do litoral ao Sertão, com programações gratuitas de sexta-feira (22) a domingo (24), em cidades como Recife, Olinda, Caruaru, Santa Cruz do Capibaribe, Arcoverde e Petrolina.

A principal atração do São João do Recife e o homenageado da festa é o cantor e compositor Geraldo Pereira Lins Filho, de 45 anos, mais conhecido como Geraldinho Lins. Ele cumpre maratona de cerca de 35 shows neste período. Após passar por Petrolina, Caruaru e Bezerros, o cantor nascido em Serra Talhada fará show particular nesta sexta-feira, em Campina Grande, na Paraíba, e no sábado (23) estará no Polo Lagoa do Araçá, às 20h, e às 23h, no Sítio Trindade, em Casa Amarela. "É uma alegria muito grande. O maior cachê que um artista pode receber é ter o reconhecimento da sua cidade. Tem sido motivo de muito orgulho e estou saboreando isso diariamente”, comemora o artista em entrevista ao Viver.

Geraldinho começou na banda Quenga de Coco nos anos 1990. Inspirado no legado de Luiz Gonzaga e Jackson do Pandeiro, representa o sotaque e as sonoridades do forró tradicional em 28 anos de carreira. Já viajou para Europa e participou festivais da cultura nordestina e também acha ser imprescindível a renovação musical e as fusões. No palco, é acompanhado pelos músicos Sandro Pick (bateria), Marquinhos Casa Amarela (zabumba), Daniel Félix (teclados) e Kiel Hernandez (guitarra). Para a turnê 2018, Geraldinho criou o show batizado Tudo e mais um pouco, do disco de mesmo nome lançado em abril. O cantor começa no estilo romântico com as inéditas Reapaixonar, Um pôr de sol de sentimento e Tudo que eu queria agora, esta última do compositor pernambucano Raphael Moura. Em seguida, propõe um passeio pelos principais sucessos e discografia composta por 14 CDs e 3 DVDs.

ENTREVISTA
Geraldinho Lins // cantor

Como foi o início e em que momento decidiu seguir a carreira musical?
Foi na época do Colégio Nóbrega, quando me juntei com amigos e tocava nas missas da igreja, nas festas de formatura e em bares na Boa Vista. No final do ensino médio, ter um filho com 16 anos tocando em bar era uma preocupação para os meus pais. Tive que lutar e provar que era aquilo que eu queria. Comecei na banda Quenga de Coco e não parei mais. Se não tivesse dado certo, seria difícil voltar e retomar a caminhada. Agora estou em um momento bacana, com trabalho solidificado e sigo sem me acomodar, pesquisando sempre. Prestei vestibular e estou cursando jornalismo. Voltei a ser muito feliz, sempre foi uma lacuna a questão da vida acadêmica. Com o jornalismo descobri uma nova paixão e estou associando à vida artística.

Amor do sertão é uma das principais canções do seu repertório. Imaginava essa repercussão?
Ela foi feita no dia 12 de dezembro de 1989. A letra é minha e de Luciano Barros, um grande amigo. A gente tinha marcado de estudar na casa dele, em Campo Grande, mas nesse dia só fez a música. Ela primeiro agrada muito as pessoas e conquistou uma geração inteira. Cantamos muito nos anos 1990 em festivais da Católica, do Contato e o Canta Nordeste. Era uma época de efervescência musical na cidade. Agradeço pode ter participado desse universo. Para mim, Amor do sertão é como a Morena tropicana de Alceu Valença e a Asa branca, de Luiz Gonzaga. O mais bonito é que foi uma canção natural, não foi trabalhada e criada com estratégia, simplesmente aconteceu. Até hoje atrai um novo público e os filhos ouvem e também curtem. 

Você levanta a bandeira do forró pé de serra, mas ao mesmo tempo inova dentro do seu trabalho. Que tipo de adaptação faz?
Boto o teclado para puxar a sonoridade do jazz e a guitarra com mais força, também tenho um reggae no meio do xote. Adoro fazer essas fusões musicais, mas sem perder a estética do baião e a poesia nas letras. Não posso ser chamado de Geraldinho pé de serra, por exemplo. Entendo que a música precisa se modernizar mesmo. Na década de 1980, via os shows de Jorge de Altinho e Alcymar Monteiro, com bandas e estruturas enormes e aquilo me encantou. Pego referências nas obras de Lenine e Alceu Valença, com uma pegada mais eletrônica e pernambucana. Fui criando esse meu jeito de cantar e de transmitir uma mensagem. No repertório, incluo músicas conhecidas do Rappa, Lulu Santos e Cidade Negra em ritmo de xote. Também toco Magníficos e Mastruz com Leite. Acho que é preciso essa inovação como forma de conquistar novos públicos. A gente não pode se limitar e colocar barreiras. 

O que representa ser homenageado no São João do Recife?
É um divisor de águas. Um momento de muita alegria e por ter sido reconhecido por esse trabalho que faço há quase 30 anos. Ninguém trabalha em busca de homenagem e sucesso. Mas tenho privilégio de ser artista, compor e poder cantar. As homenagens são consequências desse esforço. Foi o conjunto de trabalho, junto com a produtora Luan Promoções, que cuida de mim há tantos anos. Que me apoiam e fazem com que o projeto caminhe, não só no São João, mas no ano todo.

Qual sua melhor lembrança junina da infância?
Quando era muito criança passava São João em Serra Talhada, cidade onde fui criado. Alternava entre as fazendas Maitá e Exu Velho da minha família. Lembro de uma festa sem luz e com fogueira, assando milho e meu tio tocando violão. Essa visão vem cheia de aromas e foram vários anos assim. E depois, quando morava em Caruaru, tenho uma visão junina musical de quando vi o Trio Nordestino pela primeira vez. Nesse mesmo dia teve um show de Quinteto Violado na Rua da Matriz, em 1980. Entre minhas leituras de São João essas me marcaram muito.
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