Cinema

Com investigação de um desaparecimento, filme Além do Homem é uma jornada geográfica e pessoal

No longa, o personagem Alberto Luppo investiga o desaparecimento no Brasil de um antropólogo francês

Publicado em: 28/06/2018 10:01

Os atores Sergio Guizé e Fabrício Boliveira no filme Além do Homem, de Willy Biondani. Foto: Arnaldo Pappalardo/Divulgação

Além do homem é um filme de viagem, em vários sentidos. Primeiro longa-metragem de Willy Biondani, em cartaz nos cinemas a partir de hoje, é tanto sobre uma travessia geográfica quando uma jornada pessoal. E, também, pode ser encarado como uma viagem no sentido figurado, dados os aspectos fantásticos que marcam a narrativa, impregnada por elementos oníricos.

Paris é o ponto de partida da história, local onde vive o escritor brasileiro Alberto Luppo (Sergio Guizé), que recebe uma incumbência: viajar ao país natal para investigar o desaparecimento do antropólogo francês Marcel Lefavre (Pierre Richard), supostamente devorado por uma tribo. A missão serviria de base para o seu próximo livro e, a contragosto, ele aceita a tarefa. Já no Brasil, Alberto é guiado pelo taxista Tião (Fabrício Boliveira) ao interior de Minas Gerais, em busca dos rastros do pesquisador desaparecido.

A ideia inicial do filme surgiu no fim dos anos 1980, quando o diretor morava na França e enfrentava uma espécie de crise de identidade em relação às origens. Sentindo-se descrente quanto ao quadro sociopolítico do Brasil daquele período (“algo que está acontecendo de novo”, diz) e buscando novos desafios, Biondani passou alguns anos fora, visitando o país apenas a trabalho, como fotógrafo. “Fui achando ser meio que europeu”, brinca o cineasta descendente de italianos, que do contrastes entre as duas culturas tentou entender o comportamento dos brasileiros. 

“Fui criando essa história, desse brasileiro que retorna contra a vontade. É um rito de passagem em que ele vai penetrando nesse universo feito de retalhos de cultura”, explica. De fato, a viagem é não só um reencontro, mas o primeiro contato do personagem com paisagens e personagens que simbolizam várias facetas do Brasil. O sisudo Alberto não consegue, a princípio, compreender a alegria dos moradores do vilarejo nos arredores do inóspito local.

Cheio de referências visuais e sonoras, o filme é, como o próprio diretor diz, “um sopão” de ideias. “É um apanhado daquilo que sou, daquilo que me atrai, em cineastas, pintores, na música”, afirma. Do movimento antropofágico ao tropicalismo, o filme mescla bem diferentes facetas culturais, originárias ou assimiladas nacionalmente, e transmite esses conceitos principalmente a partir de elementos técnicos, como a bonita fotografia, assinada pelo francês Olivier Cocaul, com complemento do paraibano Walter Carvalho. A trilha sonora original, de Egberto Gismonti, é outro destaque.

Inusitado, com boas ideias e apuro estético, Além do homem é uma estreia bastante interessante e traz bons questionamentos sobre a identidade nacional. A subjetividade pode incomodar a alguns; a trama por vezes ser deixada de lado em detrimento de uma proposta mais pautada na sensorialidade.
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