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Álbum colaborativo de Beyoncé e Jay-Z reafirma relevância cultural e econômica do casal

Norte-americanos usam da visibilidade para estimular reflexões sociais em Everything is Love, lançado de surpresa

Publicado em: 20/06/2018 09:19 | Atualizado em: 24/05/2020 18:31

Clipe de Apeshit foi gravado no Museu do Louve, em Paris (Foto: Divulgação)
Clipe de Apeshit foi gravado no Museu do Louve, em Paris (Foto: Divulgação)


Há 15 anos, Beyoncé e Jay-Z colaboraram pela primeira vez em Crazy in Love, um hit que inaugurou com chave de ouro a carreira solo da cantora texana, na época com 22 anos. O tempo passou e os dois levaram o êxito da parceria fonográfica para a vida: se casaram, tiveram três filhos e construíram um verdadeiro império que se expande a cada dia como uma Doutrina Monroe do entretenimento ianque. Celebrar toda a relevância cultural e econômica do casal é a proposta chave de Everthing is Love, álbum colaborativo lançado de surpresa na noite do último sábado.

Nas plataformas digitais, eles assinam como The Carters - nome de solteiro do rapper, adotado pela cantora em 2008. O projeto conciso (com nove faixas) soa como o encerramento de uma trilogia iniciada em 2016, quando Beyoncé expôs para o mundo que foi traída pelo marido em Lemonade - o álbum usou desse gancho para discutir sobre feminismo e racismo. No ano seguinte, Jay-Z pediu perdão no aclamado 4:44. Agora, eles mostram que as adversidades ficaram para trás e comprovam como os enlaces entre vida pessoal e privada são estratégias de marketing bem-sucedidas.


Produzido com colaborações de nomes como Pharrel, Dr. Dre e Quavo, Everything is Love segue a cartilha atual do hip hop e do R&B contemporâneo, mas ganha um valor simbólico especial devido ao talento e status midiático elevado dos intérpretes.

Na sensual Summer, eles declaram o amor que sentem um pelo outro - cada um de sua forma. Em Boss servem para exaltar o poder do dinheiro adquirido ao longo das décadas: "Meus tataranetos já são ricos", diz um dos trechos. Essa temática também aparece em Apeshit. "Eu não posso acreditar que nós fizemos isso / É por isso que somos gratos", versa Beyoncé, apresentando um flow tão preciso quanto o do marido.

A militância negra permeia todo o trabalho, mas tem foco especial em Black Effect, quando os norte-americanos usam de personagens históricos como Malcolm X e vítimas do racismo Kalief Browder e Trayvon Martin para criticar apropriação cultural e violência policial.

Templo (EX)Branco

 (Foto: Divulgação)
Foto: Divulgação


Para divulgar o projeto, os Carters divulgaram um clipe para a faixa Apeshit. Como cenário, eles escolheram o Museu do Louvre, epicentro da cultura ocidental e colonialista, localizado na capital francesa. O acesso ao acervo mais famoso do mundo comprova a importância do casal, que usa de sua ancestralidade para ressignificar e questionar os valores que permeiam a arte europeia.

Obras como Mona Lisa, Vitória de Samotrácia e Vênus de Milo sofrem intervenções visuais de Beyoncé, que aparece com interpretações femininas e negras. Outros afrodescendentes são vistos em contraposição a diversas pinturas, levantando reflexões sobre o lugar do negro na arte - a capa de Everthing is Love, inclusive, mostra um casal negro modelando um black power em frente ao mais famoso quadro de Da Vinci.

 (Foto: Divulgação)
Foto: Divulgação

Tanto o clipe quanto o álbum são registros atuais, necessários e que reafirmam Jay-Z e Beyoncé como artistas que suscitam críticas sagazes e comandam produções que beiram o impecável. Eles não apenas acompanham o mundo contemporâneo, como também usam da visibilidade para estimular reflexões e transformações sociais.
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