Música

Sob gritos de 'Lula livre', Chico Buarque estreia turnê Caravanas em Pernambuco

Cantor aplaudiu a manifestação e usou do violão para criar um instrumental que acompanhar o coro

Publicado em: 04/05/2018 08:21 | Atualizado em: 04/05/2018 13:55

Chico vestiu um chapéu e passeou dançante pelo palco em homenagem ao músico Wilson das Neves. Foto: otos: Felipe Souto Maior/Divulgação

Após um hiato de seis anos, Chico Buarque subiu no palco do Teatro Guararapes, em Olinda, na noite desta quinta-feira (3), para realizar o primeiro show da turnê Caravanas em Pernambuco. O par de olhos azuis que encanta o Brasil desde a segunda metade do século 20 contemplou um auditório lotado, repleto de fãs que ansiavam por aquele momento - não à toa, ele é o artista brasileiro que mais vendeu ingressos em 2018. No repertório, o carioca incluiu todas as nove faixas do disco que intitula turnê, além de alguns números que resgataram um pouco de sua extensa discografia, composta por 37 álbuns de estúdio.

Nos curtos intervalos entre as músicas, pessoas mostravam admiração pelo músico com gritos constantes - “lindo” e “maravilhoso” eram os adjetivos mais usados. As exclamações de cunho político ficaram para o final. Quando Buarque e sua banda saíram de cena, parte considerável do público se levantou das poltronas e desceu as escadas em direção ao palco sob gritos de “Lula livre” (havia até uma faixa com os dizeres). 

Sorridente e com tom de aprovação, Chico voltou para um bis (cantou Geni e o zepelin, Futuros amantes e Paratodos). Bateu palmas discretas para o protesto e até usou do violão para criar um instrumental que acompanhasse o coro de “olê olê olê olá, Lula, Lula” entoado pela audiência. Bem-humorado e um pouco mais desinibido do que o usual, ele correu pelo palco, apertou as mãos de fãs e fez movimentos como se fosse pular nos braços da plateia.

Decorado com uma bela estrutura de oito cordas de aço desenhadas por Helio Eichbauer, o palco minimalista contou também com uma iluminação colorida de Maneco Quinderé. Os instrumentistas que acompanham o carioca são o maestro, arranjador e violonista Luiz Claudio Ramos - parceiro de mais de 30 anos e nome por trás dos arranjos -, Bia Paes Leme (teclados e vocais), Chico Batera (percussão), João Rebouças (piano), Jorge Helder (contrabaixo), Marcelo Bernardes (flauta e sopros) e Jurim Moreira (bateria).

A ausência do baterista Wilson das Neves, que faleceu no ano passado, não passou em branco. Em homenagem ao músico que o acompanhou por três décadas, Chico vestiu um chapéu e passeou dançante pelo palco enquanto cantava Grande hotel. Seguindo o setlist que a turnê propõe desde sua estreia em Belo Horizonte (MG) em dezembro do ano passado, o show não é um apanhado dos maiores sucessos da carreira de Chico. Cálice, A banda, Construção, Apesar de você, Cotidiano e Roda viva são alguns dos êxitos que ficaram de fora. 

Momentos de comoção do público foram atestados durante canções como Iolanda, Retrato em preto e branco (composta com Tom Jobim em 1965), As vitrines, Tua cantiga (acusada de machismo nos atuais tempos de problematização online) e Dueto - originalmente gravada com a neta Clara Buarque, mas com vocais de Bia Paes Leme na turnê. A música Homenagem ao malandro, por sua vez, causou certa euforia por sua contemporaneidade com a situação política de um país que discute o fim do foro privilegiado para políticos. "Malandro com aparato de malandro oficial / Malandro candidato a malandro federal / Malandro com retrato na coluna social / Malandro com contrato, com gravata e capital / Que nunca se dá mal", diz a letra. 

Chico Buarque segue se apresentando no Teatro Guararapes até o domingo (6). Todos os dias já tiveram ingressos esgotados. O público pagou R$ 490 e R$ 245 (meia), para plateia, e R$ 250 e R$ 125 (meia), para balcão.
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