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Fagner diz não ter tempo para redes sociais: 'Não quero alimentar essa vida irreal'

O cantor e compositor é atração da abertura do Festival Canta Brasil, neste sábado, no Cabanga Iate Clube

Publicado em: 12/05/2018 11:07

Aos 68 anos e discografia com 37 discos, o artista explica que não se adaptou às novas ferramentas, raramente acessa as redes sociais, mas não sente falta de incluir isso na rotina. Foto: Divulgação

Há quase quatro anos sem lançar novidades, o cantor e compositor cearense Raimundo Fagner afirma que já não tem mais tempo a perder e constata a efemeridade do tempo. O seu ofício é produzir material de qualidade. "Já desapareceu isso de ter que classificar. Música é a que chega no povo e tem que comunicar: bater, ouvir, ficar e emocionar. Faço música para isso", afirma. Ele é atração de estreia do Festival Canta Brasil, neste sábado, no Cabanga Iate Clube, que trará outros artistas do cenário nacional para shows ao longo do ano. "Sou fruto de festivais e vejo que os artistas precisam se colocar para ter visibilidade. Estou feliz de estar abrindo o projeto, espero que seja sucesso e novos nomes surjam a partir desse espaço", deseja. Em bate-papo por telefone, Fagner comenta como as mudanças no mercado alteraram seu processo de produção. Ele confessa que está em falta com o público e pretende lançar um novo álbum de inéditas em breve. 

Aos 68 anos e discografia com 37 discos, o artista explica que não se adaptou às novas ferramentas, raramente acessa as redes sociais, mas não sente falta de incluir isso na rotina. "Não sinto falta de estar envolvido com essas ferramentas e tenho pessoas que fazem por mim. Não sou escravo disso", afirma. O cantor de Borbulhas de amor e Deslizes retomou a parceria com Zeca Baleiro durante show recente em Brasília. Eles celebraram os 15 anos do CD e do DVD Raimundo Fagner e Zeca Baleiro (2003) e já apresentaram inéditas. Outro parceiro atual é Moacyr Luz, com quem já produziu cerca de dez faixas, que poderá compor o novo material. “O que eu faço é música que me agrada. Confio um pouco no meu gosto e sou um artista que me baseio em repertório. Se me agradou, estou dentro”, afirma.  

Curador e compositor, Fagner não descarta boas músicas e está aberto a parcerias com artistas de outros segmentos. Ele adiantou um possível dueto com Solange Almeida, na música Tudo o que eu queria, composição do pernambucano Raphael Moura. E que fará  parte do disco em homenagem a Accioly Neto, idealizado pela filha dele Talitha Accioly, e previsto para o final do ano. 

Durante o São João, a agenda dele se volta para shows nos principais polos juninos e presenças nas cidades do Nordeste. Defensor do forró tradicional, Fagner acredita que apesar da concorrência há espaço para todos. "Vejo que o que incomoda é o forró da garotada. Que toca para a juventude dançar, beber e não pensar. Quem faz forró de tradição, fala das coisas com mais profundidade, quer proteger seu espaço. É natural", defende. 

Entrevista - Fagner // cantor e compositor

No início da carreira você foi apontado como cantor de música brega e sempre levantou a bandeira do Nordeste. Já passou por discriminação?
De maneira nenhuma. Sou um cantor brasileiro e fui um dos nordestinos que passou a cantar em todo o Brasil, junto com a leva que trouxe Alceu Valença, Zé Ramalho e outros. Se recebi algum rótulo não me incomodou. Brega é a música considerada popular e não posso me incomodar se alguém me rotula assim. Não tem problema! A minha música atinge qualquer camada. Nunca me senti recriminado e uso essa bandeira para furar muita coisa por aí. Outros podem ter se sentido injustiçado, mas isso nunca me aconteceu. Meu primeiro disco já se chamava O Último Pau-de-arara, tenho orgulho da minha história.  

Você retomou a parceria com Zeca Baleiro e já divulgou canções inéditas. Vem disco novo por aí?
A nossa produção está otima. A gente fez esse show depois de 15 anos do nosso primeiro trabalho, foi muito interessante e já temos músicas prontas. Começamos em Brasília (maio)e recebemos convites para outros lugares. Já estamos pensando seriamente nisso. Estou fazendo bastante música com ele e Moacyr Luz. São duas pessoas que tenho trabalhado muito. Dois artistas dinâmicos que se entregam. Já temos um bom material. A ideia é fazer algo entre os três. Estamos  entrosados, pode ser que a partir daí surja o novo disco. 

Sobre a produção de discos, havia uma peridiocidade anual para cada lançamento. O que mudou?  Há cobrança do público?
Existia uma obrigação contratual nesse sentido e isso acabou. Os tempos eram outros e  passava diferente. A gente tinha contrato de quatro a cinco anos, era obrigado a gravar, apesar de gostar de fazer. Por vezes, fiz algum disco porque tinha que fazer. Hoje se tem mais tempo para selecionar, qualificar, produzir e se adaptar as coisas que estão acontecendo. É um jogo diferente. Há cobrança do público sim e as pessoas se ressentem. A gente vendia muito disco e tinha aquela rotina, todos já esperavam. Mas o jogo virou. A minha produção não para, mas a maneira como lançar e as ferramentas mudaram. Não estou adaptado e estou na hora de lançar disco novo. 

Você citou as ferramentas de divulgação. Quais utiliza e com que frequência acompanha as redes sociais? 
Não acompanho. Tenho Facebook e Instagram, mas não acompanho nada, sei que existem. Não sinto falta de estar envolvido com essas ferramentas e tenho pessoas que fazem por mim. Passo um ou dois meses sem acessar minha própria página. Não sou escravo disso. Para os artistas novos, é sim, uma maneira interessante e uma obrigação. Vou lá na página de mês em mês. Olho e vejo algumas coisas e procuro dar respostas, mas não dou prosseguimento. As pessoas devem se ressentir, pois estão acostumadas. Uso o zap (WhatsApp), é um meio legal de se comunicar. As pessoas acham meu número, não sei como. Acho que me falta tempo. Já tenho rotina muito corrida. Não quero isso e não sei se estou perdendo muita coisa. Essa moçada mais nova já tem isso como normal e natural. Não sinto falta.

Você comenta sobre a falta de tempo, do que está se privando?
Na idade da gente, o tempo passa mais rápido e ter tempo é uma dificuldade. Tenho público incrível, que me proporciona muita coisa. Tenho uma fundação de crianças e envolvimento com outras coisas. Já estou numa idade que tenho que curtir o máximo de tempo que tiver. Não sinto necessidade de estar atado a essas ferramentas, seria perda de tempo. Hoje tenho pouco para fazer o básico ou até ficar sem fazer nada. Somos escravos do tempo, do celular, do zap (WhatsApp). Não quero alimentar essa vida irreal.  
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