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Além de Pabllo Vittar: conheça as drag queens que o público LGBT escolheu como divas nacionais

Um dos destaques da cena no país, a natalense Kaya Conky lidera festa com temática drag no Recife

Publicado em: 12/05/2018 12:06 | Atualizado em: 24/05/2020 18:17

As drags são famosas entre o público LGBT e, em passos largos, fecham contratos com gravadoras e fazem parcerias com grandes nomes da música.  (Foto: Lia Clark, Kaya Conky, Aretuza Lovi e Gloria Groove/Divulgação)
As drags são famosas entre o público LGBT e, em passos largos, fecham contratos com gravadoras e fazem parcerias com grandes nomes da música. (Foto: Lia Clark, Kaya Conky, Aretuza Lovi e Gloria Groove/Divulgação)


As divas pop norte-americanas sempre tiveram destaque nas playlists de festas destinadas ao público LGBT no Brasil. Desde 2015, no entanto, músicas nacionais têm conquistado cada vez mais esses ambientes, principalmente devido ao fenômeno das drag queens cantoras. Assim como as estadunidenses, nomes como Pabllo Vittar, Kaya Conky, Gloria Groove, Aretuza Lovi e Lia Clarck evocam coreografias, sensualidade e empoderamento nas pistas. Foi justamente nas transformistas, figuras outrora marginalizadas, que os brasileiros encontraram suas divas nacionais. Diante desse cenário, a festa Carola realizará uma edição focada na cultura drag neste sábado, no Espaço Almirante, no Recife, a partir das 22h.

A headliner do evento é a natalense Kaya Conky, jovem de 22 anos responsável por sucessos do funk como E aí bebê e Bumbum tremendo. "Vivemos um momento muito legal em que os olhos do público LGBT está voltado para um conteúdo que temos produzido dentro do país. É um combustível ótimo para que outros artistas locais tenham gás para produzir, criar e acreditar na possibilidade de crescer na mídia”, diz a artista, que divide palco com as drags locais Mahalla Kashman, Envy Hoax, Zizara Caralhon e Vanda.


A nordestina ressalta que o êxito das queens também está intrinsecamente ligado a um certo avanço das pautas dos movimentos LGBT no Brasil. "A cultura drag já foi muito marginalizada, mas estamos conseguindo coisas sólidas dentro dela. É um avanço para nós e para os LGBT em geral. Faz parte de uma conquista para todos: nossas pautas estão sendo levantadas e nossas vozes sendo ouvidas”. Desde que largou o curso de Turismo na UFRN para investir na carreira de cantora, Kaya acumulou oito milhões de visualizações no YouTube, uma apresentação no Festival Mada - realizado em um estádio na cidade de Natal -, participação no Amor & sexo da Rede Globo, entre outras conquistas.

Igor Ferreira largou o curso de Turismo para investir na carreira de cantora. ( Foto: Kaya Conky/Divulgação)
Igor Ferreira largou o curso de Turismo para investir na carreira de cantora. ( Foto: Kaya Conky/Divulgação)

O mais recente "checkmate" de sua carreira foi a participação no clipe de Hasta la vista, a música do Coca-Cola Fan Feat. Conky foi uma das convidadas por Pabllo Vittar para integrar um time de drags no vídeo da canção, feita em parceria com Luan Santana e Simone & Simaria. “Quando recebi o convite, foi incrível. A Pabllo faz questão de reforçar a cena drag. Ela poderia chamar qualquer pessoa, dançarino, atriz, mas ela escolheu a gente para dar força ao movimento. Ela sempre teve atenção com a gente. Acho isso muito bafo".
 
Atualmente, Kaya finaliza a segunda parte do EP Sabe que vai - a primeira foi lançada no ano passado. "O trabalho terá algumas participações especiais, inclusive de renome nacional", adianta a artista. Na Carola, ela irá cantar músicas autorais, além de alguns sertanejos de “sofrência” e funks mais antigos. "Logo quando comecei a me montar, a Carola foi uma das primeiras festas que fui fora de Natal. Foi nela que eu também lancei minha primeira música. Voltar para fazer um show nesse evento é muito legal. Eu estou bem empolgada". Além de Conky, outro nome de destaque na programação é Byanka Nicoly, que aparece como "special guest" da festividade. Natural de Nazaré de Mata, no interior do estado, ela se tornou um viral na internet através de áudios que circulam no WhatsApp. 

Além de Pabllo Vittar
Era noite de domingo, 10 de dezembro de 2017, quando Fausto Silva anunciou, ao vivo, que uma canção de Pabllo Vittar era a vencedora do prêmio de Música do Ano no Troféu Domingão - Melhores do Ano, a principal premiação de entretenimento da Rede Globo. Foi um momento simbólico: a maranhense mostrou, em pleno horário nobre, que é possível ser drag queen, ganhar reconhecimento, dinheiro e conquistar o mainstream. Embora ela ainda seja a figura mais conhecida do movimento, outras drags aparecem flertando com a grande mídia. Elas já são famosas entre o público LGBT e, em passos largos, fecham contratos com gravadoras e fazem parcerias com grandes nomes da música. Cada uma com seu estilo e brilho próprio. Conheça algumas delas:

Gloria Groove

Gloria Groove criou uma ponte entre o movimento LGBT e a música rap. (Foto: Gloria Groove/Divulgação)
Gloria Groove criou uma ponte entre o movimento LGBT e a música rap. (Foto: Gloria Groove/Divulgação)

Pensar em hip hop é, automaticamente, imaginar rappers - figuras que exalam masculinidade. Gloria Groove veio para quebrar esse arquétipo. Ao compor sua primeira música como drag, trocou o segundo verso por um "flow", ganhando fama de "drag rapper". "Isso me ajudou a ganhar destaque entre as drags, que em maioria estavam dentro de um movimento pop”, diz Daniel Garcia, jovem de 23 anos que foi vocalista do Balão Mágico na formação de 2006. Inspirada em nomes como Lil Kim, Missy Elliot e Nick Minaj, Gloria lançou seu primeiro disco, O proceder (2017). O trabalho despertou curiosidade por misturar rap e pop. "Acredito que estabeleci uma espécie de ponte entre o hip hop e o movimento LGBT. Foi um álbum muito legal por isso".


Neste ano, decidiu diversificar seu estilo para "conquistar as massas” e lançou Bumbum de ouro, um funk que caiu no gosto popular durante o carnaval, com 18 milhões de execuções. Atualmente, se prepara para o lançamento de Arrasta, uma parceria com Leo Santana. "O tempo que passei com ele dentro do estúdio foi um dos momentos que mais me senti respeitada como artista até hoje”, diz Groove, sobre trabalhar ao lado do baiano. Para ela, um artista heterossexual, do axé, teria vários motivos para não querer nenhum envolvimento com a arte drag. Muito pelo contrário: "Ele veio até mim pelo que eu sou".

Aretuza Lovi

Aretuza Lovi, 28 anos, assinou com a Sony Music. (Foto: Aretuza Lovi/Divulgação)
Aretuza Lovi, 28 anos, assinou com a Sony Music. (Foto: Aretuza Lovi/Divulgação)

Aos 21 anos, o goiano Bruno Nascimento perdeu uma aposta que fez com amigos e teve de se vestir como uma drag para ir em uma boate. A brincadeira deu tão certo que virou profissão. "O personagem caiu no gosto do povo e aqui estou (risos)", diz Aretuza Lovi, em entrevista ao Viver. Seu estilo mescla funk, pop e inúmeras brasilidades. "Pego referências nas regiões, nas mulheres brasileiras, no folclore, no swing tropical. Eu tento misturar tudo, como um grande milkshake de diversidade", define.


Em dezembro do ano passado, foi contratada pela Sony Music, gravadora antenada no mercado que as drags estão cooptando -  o selo também é responsável por Vittar. "Quando eu assinei, pensei: Eu nunca imaginei que chegaria até aqui. Estamos fazendo um trabalho lindo. Que mais gravadoras acreditem na diversidade”. Entre os seus hits estão Joga a bunda (parceria com Pabllo e Gloria Groove) e Catuaba (também com Gloria). Na busca de ampliar seu público, lançou uma música com a baiana Solange, Arrependida, e prepara seu primeiro disco, intitulado Mercadinho.

Lia Clark

Lia já fez parceria com os cariocas do Heavy Baile e Tati Quebra Barraco na música BERRO. ( Foto: Lia Clark/Divulgação)
Lia já fez parceria com os cariocas do Heavy Baile e Tati Quebra Barraco na música BERRO. ( Foto: Lia Clark/Divulgação)


Foi em um bairro periférico de Santos, no litoral paulista, que Rhael Lima de Oliveira, 26, teve seus primeiros contatos com o funk, ritmo que levaria para sua carreira como Lia Clark. "Comecei a fazer para me divertir. Acabei lançando o Trava trava e a carreira foi brotando aos poucos, sem muitas pretensões. Hoje, olhando para trás, parece muito um sonho. Sou muito feliz e grata". Seu estilo musical é marcado por uma fusão de funk e pop. "Esses estilos são as principais fontes para tudo que eu faço. Sou muito fã da Britney Spears, esse universo do pop dos anos 2000 me inspira bastante". 


Boquetáxi, Chifrudo (parceria com Mulher Pepita) e Tome curtindo (com Pabllo Vittar) alguns de seus sucessos, que exploram a sensualidade com certo tom de humorístico. Alguns dos seus clipes tiveram restrição de idade no YouTube. Apoiada pela comunidade LGBT, a artista acusou a plataforma de preconceito.
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