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Rappers pernambucanos apostam no trap, ritmo em alta nos EUA

NexoAnexo e Joma investem em nova vertente da cultura hip hop que deixa de lado o discurso engajado e centra fogo na curtição

Publicado em: 07/04/2018 17:02 | Atualizado em: 24/05/2020 17:58

NexoAnexo e JOMA, membros da Hoodcave, banca de trap recifense. (Foto: Hoodcave/Divulgação)
NexoAnexo e JOMA, membros da Hoodcave, banca de trap recifense. (Foto: Hoodcave/Divulgação)


Atlanta, capital do estado norte-americano da Georgia, passou décadas fora do circuito da indústria fonográfica do rap. Tudo mudou durante os anos 2000, quando a metrópole, que tem grande importância nos cenários cultural e econômico do EUA - sendo a sede de corporações como a Coca-Cola e a CNN -, acabou sendo o cenário da criação do trap. 

O ritmo é uma vertente alternativa do gênero que incorporou instrumentais mais eletrônicos e dançantes, com rimas pegajosas que versam sobre ambição, festas e bens materiais. O apelo comercial foi o responsável por tornar o hip hop o gênero musical mais popular dos Estados Unidos em 2017, de acordo com o relatório da empresa de pesquisas Nielsen. Migos, Gucci Mane, Post Malone, Lil Uzi Vert e Travis Scott são alguns exemplos de artistas que fizeram o trap dominar as paradas de sucessos internacionais.

NexoAnexo e o "ritmo do futuro"

No Brasil, o ritmo é mais popular no Sudeste - região mais globalizada do país. Apesar disso, alguns rappers trabalham na cena underground para que o estilo desponte em Pernambuco. NexoAnexo é um deles. Em um ano e cinco meses de carreira, o recifense lançou 32 músicas, oito clipes e quatro mixtapes. Assim como outros jovens do nicho, ele sonha com o dia em que o estado irá seguir o exemplo da Georgia nos EUA, usando do trap para ascender à cúpula do rap nacional.

 (Foto: Hoodcave/Divulgação)
Foto: Hoodcave/Divulgação


"Me encontrei no trap pela liberdade do estilo, tanto musicalmente quanto liricamente. O rap passa uma visão de mundo interessante, mas o trap vai além e tenta alegrar por ser mais dançante e eletrônico. Em shows, é tudo muito contagiante. Acho que esse é o ritmo do futuro", diz Gabriel Marques, nome real do artista que também é estudante de engenharia agrícola e ambiental na UFRPE. Em 13 de abril, o jovem de 21 anos vai se apresentar na casa de eventos Estelita, na Zona Sul do Recife, abrindo o show do paulista MC Igu, um dos maiores nomes do trap brasileiro. Ele também já se apresentou na Galeria Arvoredo, o "solo sagrado" do rap pernambucano localizado no bairro da Boa Vista.

Para produzir suas canções, NexoAnexo está montando um estúdio em sua casa, localizada no bairro de Jardim São Paulo, Zona Oeste da capital. Ele também conta com o apoio de produtores de todo o país, em um fenômeno chamado “collab”. "Eles me presenteiam com os beats e eu divulgo o ‘trampo’ deles como beatmakers", explica. 

Até o momento, o recifense acumula algumas faixas de destaque na cena local: 081 DDD, Trashstar e Copos de fim são exemplos. A canção que quebrou as barreiras regionais foi O pior trap do ano, uma colaboração com os pernambucanos D3, Dalf, Marck-SA e OG Thug. Produzido pelo canal RAPensantes, o clipe ultrapassou a marca das 70 mil visualizações no YouTube.


No ramo audiovisual, o artista conta com a parceria da Hoodcave, grupo que também é responsável pelo agenciamento de sua carreira. Nos clipes, os jovens tentam emular produções internacionais; XXXTentacion, Migos, A Rocky e Playboi Carti são algumas referências. Apesar de almejar o padrão norte-americano, eles começaram tudo do zero, sem câmera própria ou conhecimento de programas de edição. 

Provando que é possível fazer muito com pouco, a Hoodcave estudou essas questões de produção juntamente com estratégias de marketing digital para a divulgação dos projetos. Hoje, o canal de NexoAnexo no YouTube acumula mais de 60 mil visualizações.

Joma: a moda em evidência

 (Foto: Hoodcave/Divulgação)
Foto: Hoodcave/Divulgação

Desde os anos 1980, a moda e o rap sempre caminharam juntos. Marcas criadas para atender demandas do gueto estadunidense, como Supreme e Off White, se tornaram grifes cobiçadas. Essa relação tênue entre indústrias distintas é a aposta de Joma (nome artístico de João Marcelo Santana, 21 anos), outro expoente da Hoodcave - empresa que, inicialmente, planejava ser uma marca de roupas. “No trap, a moda masculina é explorada como um estilo autônomo, sem regras. O rapper Young Thug, por exemplo, posou na capa da revista Daze usando um vestido”, conta o artista.

A autonomia de estilo é uma das principais marcas do pernambucano, que mantém um penteado trançado e com as pontas roxas. Seu clipe mais recente, Willy Joma, tenta explorar essas questões de comportamento usando o rapper ASAP Mob como referência. “No vídeo, vemos um cara que não é um padrão de beleza por preconceitos da sociedade, mas pode se sentir bem com o cabelo diferente, com uma roupa diferente. Ele é bonito do jeito que quiser”, elucida.



Além de ambição, dinheiro e outras temáticas comuns ao trap, a autoestima da população negra é um dos pilares das composições de Joma. "Falo muito sobre a minha autoestima e prego que negros podem ficar ricos e esbanjar luxo. E se isso é possível hoje em dia, grande parte é graças à música. Não é só com crime, como alguns pensam. Isso é importante para servir de espelho para pessoas que ainda não perceberam", destaca.

Confira outros clipes:




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