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Os ianques vêm aí

Boato sobre passagem de Steven Spielberg pelo interior de Pernambuco na década de 1960 inspirou investigação que culminou com o documentário 'Em nome da América'

Publicado em: 08/04/2018 16:36

 (Jaraguá Produções/Divulgação)
Jaraguá Produções/Divulgação

Spielberg teria morado no interior de Pernambuco nos anos 1960? O boato que circulava há décadas chegou ao conhecimento do niteroiense Fernando Weller, cineasta e mestre em comunicação hoje residente no Recife. A pitoresca história, ouvida em 2008, motivou o pesquisador a buscar a origem dos rumores, que tinham fundamento em um fato: a forte presença de norte-americanos no Sertão do estado, daquela década aos anos 1970.
 
“Descobri que eles vinham através de um programa governamental dos EUA, parte de uma política para desestabilizar movimentos do campo, como as Ligas Camponesas”, explica o realizador, que transformou a investigação no documentário Em nome da América, em exibição nos cinemas. No sábado, às 20h, o filme terá sessão especial e debate com o diretor, no cinema da Fundaj no Derby. Os ingressos custam R$ 7 (meia) e R$ 14 (inteira).

Apesar de tocar em questões delicadas, o documentário tem um clima predominante leve. Muitas passagens carregam certa graça, sobretudo quanto às hipóteses disparatadas a respeito das motivações por trás da presença dos estrangeiros. Para além da suposta presença do diretor de Tubarão em Pernambuco, que estaria vivendo no interior para fugir da Guerra do Vietnã, outras histórias tão ou mais improváveis foram ouvidas por Fernando Weller.

Muitos moradores consultados em cidades como Orobó e Bom Jardim até hoje não faziam ideia do que realmente significava o grande fluxo de estrangeiros. De corporações interessadas em explorar recursos naturais a conspirações envolvendo agentes da CIA disfarçados de hippies, as hipóteses variavam.
   
A movimentação de estrangeiros, que chegou a outros estados nordestinos, na verdade fazia parte dos esforços do Peace Corps (Corpos da Paz), organização que integrava a política de boa vizinhança dos Estados Unidos na América Latina. Arregimentados sob o pretexto de trabalho comunitário, muitos jovens dos EUA se inscreveram. “Eram pessoas, acredito, bem intencionadas e que se tocaram verdadeiramente pela situação social do Brasil”, diz Weller.

“Havia uma intensa articulação política de bastidores que passava quase despercebida aos sujeitos do interior do Nordeste e, muitas vezes, aos próprios norte-americanos”, analisa Weller. O filme reúne material de arquivo e entrevistas atuais com antigos voluntários e moradores que conviveram de perto com os Peace Corps.
 
A maior parte dos documentos e material em vídeo obtidos para o documentário foi encontrada nos Arquivos Nacionais, em Washington, e na Biblioteca JFK, em Boston. “Os arquivos norte-americanos tinham muito mais material acessível sobre o tema do que aqui”, explica Weller. “Para mim, é também um reflexo de como lidamos com a história, com o fato que preferimos esconder e apagar a memória”.
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