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Onde Nascem os Fortes: conheça a supersérie gravada no sertão nordestino

Primeiro capítulo da nova produção da Globo já está disponível na plataforma de streaming da emissora

Publicado em: 16/04/2018 15:03 | Atualizado em: 16/04/2018 14:00

Um dos cenários mais interessantes da trama, o Lajedo dos Anjos tem estrutura com mais de 50 metros de profundidade e dez de largura. Foto: Estevam Avellar/Globo
CABACEIRAS (PB) – A árida paisagem do interior nordestino é não só cenário, mas também personagem de Onde nascem os fortes, nova supersérie da Globo, gravada quase que inteiramente em Cabaceiras, no semiárido paraibano. "O sertão está dentro desta história", diz o diretor artístico da produção, José Luiz Villamarim, sobre a opção de passar cinco meses, dos sete previstos para as gravações, imerso na região, evitando ao máximo o uso de estúdios. Com estreia programada para o dia 23, o título terá o primeiro episódio liberado antes na plataforma de streaming da emissora, o Globo Play, já nesta segunda-feira (16).

Realizador interessado em narrativas situadas fora do eixo Rio-São Paulo, Villamarim, que no ano passado lançou Redemoinho, filme ambientado em Cataguases (Minas Gerais), celebra o distanciamento do ambiente urbano. Além de trazer maior verossimilhança quanto à ambientação, a escolha de estabelecer a produção ao longo de meses na área tem o intuito de intensificar a imersão da equipe no projeto. "Isso ajuda a aprofundar, se ambientar em um outro tempo, outra temperatura, outra geografia", explica o diretor artístico.

"Nunca pisamos no asfalto", diz em referência ao fato de a produção transitar, essencialmente, por estradas precárias do interior nordestino. Momentos depois, se corrige, lembrando que alguns personagens tiveram cenas rodadas no Recife. As filmagens tiveram início em outubro do ano passado, e, além da Paraíba, a equipe rodou sequências em Pernambuco e no Piauí, e em estúdio no Rio de Janeiro Villamarim, assim como os autores George Moura e Sergio Goldenberg, costumam tratar a incursão pelo interior nordestino como uma espécie de esforço de guerra.

Chegando a mobilizar mais de uma centena de pessoas, a produção tem como quartel general um hotel situado no Lajedo de Pai Mateus, em Cabaceiras. O local, além de hospedar elenco e realizadores, abriga camarins e uma ilha de edição. As locações foram definidas a partir de raio de até 100 km de distância.

Parceiros habituais, o trio de realizadores assina sucessos televisivos como O canto da sereia (2013), O rebu (2014) e Amores roubados (2014). A trama da supersérie tem colaboração também dos roteiristas Flavio Araujo, Mariana Mesquica e Claudia Jouvin, além de direção geral de Luisa Lima, e, ainda, direção de Isabella Teixeira e Walter Carvalho, este último responsável ainda pela fotografia.

Pernambucano, George Moura que, apesar de contemporânea, a obra perpassa questões de ancestralidade e misticismo do sertão. Dividida em três eixos, Terra, Céu e Coração, a narrativa tem personagens representando cada um desses aspectos. Citando uma frase atribuída ao filósofo Nietzsche, Moura diz que "a boa literatura se faz com os pés" e, seguindo o preceito, explorou a região ao longo de dez dias, percorrendo cerca de três mil quilômetros, jornada que serviu tanto para o desenvolvimento da história quanto para pesquisa de locações.

De acordo com o roteirista, a cada dez cenas da supersérie, sete são rodadas no sertão. "É um equilíbrio raro em narrativas longas”, diz sobre a tendência em se privilegiar gravações em estúdio. Com 53 capítulos, a produção vai ao nas terças, quintas e sextas, após a novela O outro lado do paraíso. Durante a Copa do Mundo, o horário e dias de exibição sofrerão alterações. 

[A trama
Recife faz parte do início da trama. Entre as figuras que partem da capital pernambucana estão os irmãos gêmeos Maria (Alice Wegmann) e Nonato (Marco Pigossi), que vão para a cidade Sertão em busca de trilhas de mountain bike. No local, ela conhece Nonato (Gabriel Leone), jovem por quem se apaixona, enquanto Nonato desaparece após se envolver em briga com o poderoso empresário Pedro Gouveia (Alexandre Nero), apelidado de Rei de Sertão e dono de fábrica de betonita no município. Além da conturbada história de amor e o sumiço do irmão de Alice, a trama acompanha a saga de Cássia (Patricia Pillar), mãe de Nonato, retorna a Sertão, sua cidade natal, em busca do filho, após décadas distante do local e estabelecida no Recife.
[FOTO3]
Outro personagem importante é Samir (Irandhir Santos), espécie de líder espiritual em Lajedo dos Anjos, comunidade instalada sob formação rochosa em Sertão. Lá são acolhidas pessoas que desejam deixar o passado para trás e iniciar nova vida. O autor George Moura diz que, embora existam diferentes universos na narrativa, a produção não segue a estrutura habitual da teledramaturgia, com o uso de núcleos. "Aqui, não. São oito "ou nove personagens que empurram a história para frente", afirma. "À medida que a trama vai acontecendo, você entende que os personagens são diferentes do que se imaginava inicialmente”, completa. "Tem uma frase do Oscar Wilde que eu adoro: ‘Não me compreendam tão cedo’. É uma frase que poderia usar para todos os personagens", diz Moura.

Intervenção
Fora o bom aproveitamento da beleza natural das locações, a produção também investiu em intervenções cenográficas para criar a ambientação adequada para a série. Para se transformar no Lajedo dos Anjos, a paisagem original da formação rochosa no Lajedo de Pai Mateus, em Cabaceiras, recebeu a instalação de uma enorme estrutura, similar a uma oca, feita com canos de PVC tingidos e manipulados para se assemelharem a galhos. Extremamente realística, a construção parece, de fato, feita com material orgânico e ocupa uma área com cerca de 50 metros de profundidade e 10 metros de largura. 

Shakira do Sertão
Um dos personagens que deve ganhar destaque na trama é Ramirinho, interpretado por Jesuita Barbosa. Filho do juiz Ramiro Curió (Fabio Assunção), o rapaz se apresenta como a drag queen Shakira do Sertão. “É um cara que experimenta o corpo, que se monta, que se percebe em um gênero diferente do que foi estabelecido para ele. Mas acho que se a gente sair da questão sexual, Ramirinho é um artista e tem a função do artista, que é de transformação, de rompimento”, define o ator. “Com a arte, ele enfrenta todos os paradigmas sociais, da cidade, do pai”, acrescenta. Jesuita diz que buscou explorar a androginia do personagem evitando estereótipos.

Nordestinos
O elenco tem um grande número de atores da região. Entre os pernambucanos estão Jesuita Barbosa, Maeve Jinkings e Irandhir Santos, além de Erivaldo Oliveira e Giordano Castro, do Grupo Magiluth de teatro. Da Paraíba, nomes como Nanego Lira e Zé Dumont, além de inúmeros figurantes, que surpreenderam a produção. "É outro tipo de sensibilidade, todo mundo fica impressionado”, diz Jinkings a respeito dos amadores. Eles não se limitam ao que estamos acostumados em um trabalho de figuração. Eles atuam, vivem aquilo", enfatiza a atriz, que diz tentar se camuflar entre essas pessoas e se tornar parte deles.

*O repórter viajou a convite da Rede Globo 
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