Literatura

Nova edição de livro sobre metal em Pernambuco atualiza a trajetória do gênero no estado

PEsado - origem e consolidação do metal em Pernambuco foi escritor pelo jornalista e músico Wilfred Gadêlha

Publicado em: 25/04/2018 11:59 | Atualizado em: 25/04/2018 12:01

Integrantes da banda Cangaço. Foto: Shilton Araujo/Esp.DP

Era a década de 1970 e o heavy metal ainda não tinha aportado em terras recifenses. Naquela época, inexistia segmentação entre os roqueiros. Alguns eram identificados pelos cabelos longos, além das roupas pretas e de couro. Um tempo no qual frequentar a loja de Humberto Brito, na Rua da Matriz, na Boa Vista, era sinônimo de descobertas musicais de terras gringas. Um número incontável de músicos e produtores passou por lá, bebeu da fonte e multiplicou, de alguma forma, aquele caldo musical. Entre eles, os primeiros adeptos do metal em Pernambuco.

Quem conta essa e outras histórias é o jornalista, músico e escritor Wilfred Gadêlha, 44 anos, autor do livro PEsado - origem e consolidação do metal em Pernambuco, que será lançado hoje, em sua segunda edição, pela Companhia Editora de Pernambuco (Cepe). Os mil exemplares da primeira, lançada em 2014, com financiamento do Funcultura, foram esgotados em três meses. Em 150 entrevistas e 190 imagens, Wilfred faz um garimpo pioneiro sobre o metal em Pernambuco.

“Tenho fotos, por exemplo, do primeiro show do Sepultura no Nordeste. Foi em Caruaru, em 1987. O livro situa o leitor sobre o gênero musical, mas não conta a história (de forma linear). Não segue uma cronologia”, explicou. A primeira banda pernambucana a fazer shows grandes de heavy metal no estado foi a Herdeiros de Lúcifer. Lançada em 1983, e a média era de dez apresentações por ano.

“A gente chegou a influenciar a Viper, que, por sua vez, influenciou a banda Angra. Tivemos uma importância vital para a cena aqui no estado. Para a época, o trabalho da gente era muito bem feito. Os ensaios aconteciam todos os dias, dois meses antes dos shows”, lembrou Araken Accioly, engenheiro de sistemas, 59 anos, que era guitarrista do grupo, hoje extinto.

A Herdeiros tinha composições próprias, mas a maioria das músicas que tocava eram covers de Van Halen, Ozzy Osbourne,Iron Maiden e Metallica. Apesar do nome, a banda não tinha qualquer relação com o satanismo e Araken até brinca com o preconceito sofrido na época. “Alguns fãs eram sem noção. Teve um deles que certa vez pichou um tridente vermelho na porta da igrejinha de Boa Viagem. Adivinha o tema do sermão no domingo? O conjunto satanista”, lembrou.

O livro é dividido em três partes: O espaço, O som e A imagem. Para a primeira edição, as entrevistas aconteceram entre 2010 e 2013. A segunda publicação, no entanto, foi ampliada com entrevistas feitas até 2017. Hoje Pernambuco tem cerca de cem bandas de metal, entre elas, a do próprio Wilfred, chamada Will2Kill. O músico também já integrou a Cruor e a Câmbio Negro, ambas como vocalista.

“O espaço do metal vai continuar no underground. A gente não ganha dinheiro com música. Hoje tocamos em lugares como Abreu e Lima, Moreno. Não temos espaços antigos, mas ganhamos o Estelita para fazer shows. Acho que o cenário não vai mudar”, prevê o jornalista. Após a primeira versão do livro, Wilfred lançou o documentário Pesado - que som é esse que vem de Pernambuco?.
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