Diario de Pernambuco
Busca

Entrevista

'Não entendo como Deus tira a mãe de uma criança de 4 anos', diz Maria Rita sobre sua fé

Artista retorna ao samba em novo disco que será apresentado nesta sexta-feira, no Teatro Guararapes

Publicado em: 20/04/2018 18:03

O repertório traz composições de Arlindo Cruz, Marcelo Camelo e Zeca Pagodinho. Foto: Daryan Dornelles/Divulgação

Aos 40 anos, Maria Rita transborda Amor e música na nova turnê que viaja pelo Brasil com repertório do disco homônimo. Ela se apresenta na noite desta sexta-feira (20), no Teatro Guararapes, em Olinda. Acompanhada de oito músicos, a filha de Elis Regina interpreta as 13 faixas do oitavo álbum carreira, que veio com os pés fincados no samba.

O repertório traz composições de figurinhas carimbadas na música brasileira como Arlindo Cruz, Marcelo Camelo e Zeca Pagodinho, além de sucessos de sua carreira Tá perdoado, Maltratar não é direito e Rumo ao infinito. Em entrevista ao Viver, a cantora afirmou que apesar de passear por outros ritmos, sua relação com o samba é de plenitude. "O samba pra mim é assim, é onde me sinto mais completa, uma intérprete mais relevante e plena", diz.

Amor e música teve direção e produção da própria cantora e foi coproduzido por Pretinho da Serrinha. Cinco faixas do disco tiveram a participação do marido e músico Davi Moraes, além de arranjadores e sambistas próximos da artista, que deram total liberdade para os ajustes finais. No bate-papo, Maria Rita detalha o processo de produção deste trabalho, a relação com Arlindo Cruz, considerado seu padrinho musical, e como lida com questões como a religião e a morte da mãe. Por fim, ela tece comentários sobre as redes sociais e os limites que existem no universo online. Confira a entrevista completa.

Maria Rita // cantora 

A sua trajetória musical sempre teve ligação com o samba, mas nesse disco ele está mais nítido. Como se deu esse processo?
Esse disco nasceu das cinzas do DVD, então quando não deu certo eu saí em busca de repertório e muitos dos meus amigos próximos que compõem para mim são sambistas. Não tinha como escapar disso, eu já canto samba há muito tempo. Esse processo foi muito natural, muito orgânico, o samba pra mim é assim, é onde me sinto mais completa, uma intérprete mais relevante e plena.
 
Saudade louca e Cara e coragem são composições de Arlindo Cruz. Qual a importância do músico para a sua carreira? Você acompanha a recuperação dele?
O Arlindo é muito importante para mim, ele e a família dele me trouxeram para perto antes de eu entrar em estúdio para gravar Samba meu. Então foi uma aproximação de pura afinidade, pessoas que se gostaram logo de cara e de graça. Eu não tinha intenção de gravar disco nenhum. Quando ele me deu Tá Perdoado, ele disse “ah, se quiser grava, se não quiser não grava, mas eu escrevi pensando em você e é sua”. E ele acabou tomando um tamanho na minha vida absurdo. Foram oito músicas dele no meu primeiro disco de samba, então ele me trouxe e apresentou para classe. Entrar sambista, com a benção de Arlindo Cruz tem um peso diferente, talvez ele seja meu padrinho. Sim, eu acompanho a recuperação dele, sou muito amiga da mulher dele e dos filhos, constantemente falo com o Arlindinho, com a Florinha. Canto sempre meus shows pensando nele, tem muita amizade, muita admiração, muito respeito e muito carinho. São onze anos de amizade. É muito caminho juntos.
 
Cadê Obá, Reza e Nem por um segundo falam de religião. Como a fé norteia sua vida? 
Sempre tive uma relação muito instável com a fé. Desde criança eu já tinha questionamentos que não eram normais. Eu não entendia Deus, não entendia como ele tirava uma mãe de uma criança de quatro anos de idade, e esses questionamentos me deixaram endurecida. Então tudo era em função de mim mesma, dos meus esforços e da minha dedicação, nada era maior do que isso, mas fui amadurecendo e entendendo que nem tudo na vida é ciência. Existe o inexplicável, algo muito maior do que a gente. Então eu digo que sou espiritualizada. Embora eu entenda a existência de uma força maior, eu ainda oscilo e caio nas cobranças de mim mesma. E essas músicas que estão no disco, eu gravei porque tinham mensagens que eu precisava ouvir, eu cantando para mim. Elas me deixam emocionada, porque essas forças me procuram e isso por si só já me dá uma sensação de urgência e de entender melhor esse contexto.
 
O disco teve participação de Davi Moraes em várias faixas, como foi essa parceria profissional?
Essa parceria foi uma vantagem muito grande, o Davi entrou com cinco músicas, que ele gravou com amigos deles que também são meus amigos. Então ficou muito familiar, fácil e próximo. Por eu conhecer há tanto tempo esses compositores e arranjadores que admiro muito, tive uma liberdade muito grande. Esse processo foi muito fácil, aquilo de eu poder ligar no telefone e falar “essa palavra não está muito encaixada, pode tentar trocar?”, ou ficar em casa com o Davi repassando a melodia e adaptando a letra. Coisas assim, sabe, uma intimidade grande que foi muito vantajosa para o disco.
 
A sua presença nas redes sociais tem sido marcante. Os apelidos Emierri e nação bacanuda são geniais. Você participa da construção desse conteúdo? Quais os pontos positivos e negativos da ferramenta?
Esses apelidos são coisa minha, da época que nem existia agência de conteúdo digital. Eu inventei isso no Twitter, nem tinha Instagram, mas eu já era o Emierri e usava hashtag e tudo, brincava também com “minha nossa senhora do vestido curto na cidade fria” e mostrava esse meu lado mais bagunceira e gaiata, nunca tive uma orientação do que fazer e do que era legal. Comecei com 100 seguidores, depois virou 30 mil e hoje tô com quase um milhão e trezentos. Participo bastante de rede social, mas ela mudou muito desde quando comecei a usar. Hoje ela virou uma ferramenta comercial, dá para ganhar dinheiro com isso, já tem gente ganhando muito dinheiro. E acaba virando um objetivo, a gente usa a ferramenta como forma de divulgação dos trabalhos, e agrega um valor na coisa toda, eu acredito que essas ferramentas estejam aí para ficar, é positivo. Mas o lado negativo é que quem está ali, no caso eu, tem que aprender e desenvolver um discernimento do que é positivo e negativo: até onde eu posso permitir, a partir de onde eu devo me impor. Trato como se fosse a sala de estar da minha casa. Se você me tratar mal, eu tenho o direito de te botar para fora, então respeite para também ser respeitado. Mas redes também abrem um espaço para uma conversa incrível. Tenho diversos papos com os meus seguidores sobre preço do ingresso, sobre horário de show, atendimento, é uma oportunidade que me dá de esclarecer sobre uma parte da carreira que eles não tem acesso. Então acho que dá para ser usado de uma forma que agregue e seja construtivo, mas não usa o nome da minha mãe nem meus filhos, que eu não vou aceitar. Tem limite, como tudo na vida. 
 
Aos 40 anos e no oitavo disco da carreira, que mensagem quer passar para o público?
Minhas mensagens são de fé, otimismo e persistência; nesse álbum especificamente eu me peguei tomando bronca de mim mesma. Depois de ficar ouvindo tantas vezes as músicas eu percebi que várias daquelas mensagens eram coisas que eu precisava ouvir e aprender. Esse disco tem um grito que estava entalado na garganta de muita gente, um grito de força e união. Tem gente que vai sair do show questionando e refletindo, mas também tem espaço para aquelas que só vão curtir e esquecer dos problemas.

Sobre sua relação com Pernambuco, quando poderemos ter a presença de Maria Rita no carnaval do Recife?
Ah, minha gente, se vocês soubessem a saudade que eu fico do carnaval de Recife... Vocês tem que me chamar porque eu trabalho muito no carnaval entre Rio e São Paulo, mas sou fascinada por Pernambuco. Quando eu estive aí em 2009 eu vi um carnaval na rua, fiquei fascinada. Como é fiel às raízes e à origem... Eu gosto muito, é só me chamar que eu chego rapidinho (risos).
 
Serviço
Maria Rita em Amor e Música
Quando: Sexta-feira, às 21h30
Onde: Teatro Guararapes (Centro de Convenções)
Informações: 3182-8020
Os comentários abaixo não representam a opinião do jornal Diario de Pernambuco; a responsabilidade é do autor da mensagem.
MAIS NOTÍCIAS DO CANAL