Performance

Grupo de teatro Totem completa três décadas trazendo rituais e ancestralidades indígenas

O coletivo vai comemorar com uma série de eventos, incluindo, em outubro, uma reformulação para a rua de seu espetáculo mais recente, Retomada

Publicado em: 10/04/2018 09:20 | Atualizado em: 10/04/2018 10:59

 O Totem está na ativa há 30 anos e tomou a performance como seu ponto principal de atuação. Foto: Gabriel Melo/Esp. DP

As ladeiras de Olinda testemunharam o nascimento de um dos grupos teatrais mais longevos de Pernambuco. O Totem está na ativa há 30 anos e tomou a performance como seu ponto principal de atuação, trazendo os rituais e a ancestralidade ao centro do palco. Composto atualmente por Fred Nascimento, Lau, Taína e Inaê Veríssimo, Juliana Nardin, Gabi Cabral, Gabi Holanda e a performer convidada El Maria, o coletivo vai comemorar com uma série de eventos, incluindo, em outubro, uma reformulação para a rua de seu espetáculo mais recente, Retomada, criado a partir de visitas aos povos indígenas Xukuru, Kapinawá e Pankararu.

O Totem foi a fusão de dois grupos: um com o mesmo nome e o Trem Fantasma. Uma das características mais singulares é a raiz familiar. Lau e Fred formam um casal desde os anos 1970 e têm quatro filhos, todos ligados de alguma forma às atividades do coletivo: enquanto Taína e Inaê são performers, Caê é guitarrista e Uirá faz o trabalho de produção visual, como cartazes. “Quando começamos nossas atividades, Inaê tinha quatro anos e Taína, dois. Nunca houve imposição, mas eles sempre conviveram com isso”, afirma Fred, diretor das produções do Totem. 

A programação dos 30 anos começa em maio e vai englobar uma mostra de vídeos no festival A Porta Aberta, realizado semestralmente na Escola Municipal de Arte João Pernambuco, na Várzea, onde Fred dá aulas. Para agosto, está marcada a festa de 30 anos e, ao longo do segundo semestre, haverá mostra de performances, oficina e o evento Totemismo Hoje, com músicos convidados e ex-integrantes.

O grupo mescla linguagens e mídias. A palavra é usada apenas quando e se necessário, e a manipulação de símbolos e experiências de vida são parte do processo de criação. Todo espetáculo tem música composta especialmente para ele. Em Retomada, os rituais indígenas e sua expressão corporal, como o toré, são tomados como referência para criar algo novo que, ao mesmo tempo, materializa o sentimento de resistência compartilhado por esses povos. Na Semana Santa, o coletivo foi à aldeia Xucuru de Pesqueira mostrar o trabalho e fazer mais pesquisas para uma videoperformance. Tudo faz parte de um projeto maior chamado Geopoiesis.

Tendo Fred e Lau como esteio, o grupo acolhe seus integrantes como uma família. Chamada pelo resto dos integrantes de “xamãe”, Lau afirma que o cuidado entre eles se estende para além da cena. “Acolhemos e damos colo. Cada um traz o que pode. Existe uma união dentro da mesma linguagem”.

A gratidão por participarem de uma verdadeira escola, sem hierarquias rígidas, também transparece no relato de Gabi Cabral. “Entrei há 13 anos, quando era aluna de Artes Cênicas da UFPE. Eu queria conhecer o mundo e entrar nesse universo da performance. Hoje sou professora e trabalho com esse universo performático e, mais especificamente, ritualístico. É um processo no qual me descubro”. Já segundo Fred, não há uma fórmula para a longevidade do grupo, mas a horizontalidade de suas relações e a renovação dos integrantes pode ser um dos motivos para isso.

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