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'Temer não ouve nada', reclama Chico Buarque diante de gritos de 'fora, Temer' em show. Assista

Após São Paulo, turnê de Caravanas será apresentada em Pernambuco entre 3 e 6 de maio

Por: Luiza Maia

Publicado em: 04/03/2018 11:10 | Atualizado em: 04/03/2018 12:59


São Paulo (SP) - Muito mudou o Brasil desde a última turnê de Chico Buarque, Chico, com a qual se apresentou em Pernambuco em 2012. Nos palcos, o novo show contempla as canções do disco Caravanas, lançado no ano passado, e enfrenta a ausência do saudoso baterista Wilson das Neves (1936-2017), a quem é dedicado. Na plateia, os fãs refletem a situação política do país e, alinhados com o posicionamento público do artista, ecoam a insatisfação de uma nação na qual o índice de rejeição ao atual governo circunda os 90%.

Em 2018, as declarações de admiração e um certo fetiche pelo carioca de 73 anos disputam os curtos intervalos entre as 30 músicas distribuídas em pouco menos de duas horas com gritos de "fora, Temer", "Desculpa, eu não percebo bem o que estão dizendo. Geralmente é Fora temer. Esse fone aqui…", respondeu o cantor e compositor aos ruídos, neste sábado, terceiro dia da série de 24 agendadas em São Paulo, com ingressos quase esgotados. A próxima parada após a capital paulista é o Teatro Guararapes, entre os dias 3 e 6 de maio. "O Temer também usa este fone? Porque ele não ouve nada, não escuta nada", continuou, para delírio dos fãs, em referência ao ponto utilizado para melhor performance durante a noite. Ele apoiou o protesto e fez um sinal de "legal" com o polegar.

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A epifania política provocada pelo carioca não tem sido frequente na turnê, apesar da estreia, na qual revelou ter sido chamado de "veado" e mandado para Cuba, e ocorreu após a interpretação de Homenagem ao malandro (1977), integrante da trilha sonora do espetáculo Ópera do malandro, de autoria dele. "Agora já não é normal/ O que dá de malandro regular, profissional/ Malandro com aparato de malandro oficial/ Malandro candidato a malandro federal/ Malandro com retrato na coluna social/ Malandro com contrato, com gravata e capital/ Que nunca se dá mal", defende a letra responsável por instigar o público. 

Com poucas palavras, como já é praxe, Chico demonstrou leveza nos contidos sorrisos de canto de boca e olhares compartilhados com o maestro Luiz Cláudio Ramos, amigo de mais de três décadas e assinatura por trás dos arranjos interpretados. Revelou curiosidades de algumas faixas – como a nova Massarandupió, feita junto com o neto, Chico Brown, e nomeada segundo a praia onde foi depositado o cordão umbilical dele, filho de Helena e Carlinhos Brown –, agradeceu, várias vezes, às efusivas demonstrações de carinho dos presentes e voltou a enaltecer os protestos políticos. 

O momento mais descontraído é o merecido tributo a Wilson das Neves, em Grande hotel, no qual veste um chapéu e passeia com malemolência pelo palco enquanto canta. A lembrança dançante com ares malandros é justíssima com a memória do baterista. Os dois dividiam os vocais na música, deles, e ensaiaram um gracioso futebol na turnê de Carioca – o dueto está registrado no DVD ao vivo (Biscoito Fino, R$ 48,90).

A já conhecida sintonia com a sólida banda, formada por exímios instrumentistas, consolida a qualidade técnica da noite. A entrada ocorre ao som de Minha embaixada chegou (1934), do baiano Assis Valente (1911-1958), única não autoral do setlist, emendada com Mambembe (1972) e também escolhida para o encerramento antes do bis. Partido alto (1972), famosa na marcante versão de Cássia Eller (1962-2001), ganhou interpretação quase recitada dos versos finais. 

O repertório de Caravanas se mantém desde a estreia, no Palácio das Artes, em Belo Horizonte, no dia 13 de dezembro. Estão nele todas as faixas do novo álbum, elogiado, coerente com o trabalho de mais de 50 anos dele e permeado, nas redes sociais, pelas polêmicas em torno do primeiro single, Tua cantiga, liberado antes da íntegra e acusado de machismo. A parceria com Cristóvão Bastos, uma das mais aplaudidas do show, é tocada na sequência da primeira composta pelos dois, Todo sentimento, de 1987, cantada apenas com o acompanhamento do piano.

As mais antigas dele são com Tom Jobim (1927-1994), maestro soberano mencionado por ele na letra de Paratodos, com a qual escolheu concluir o segundo bis – a letra, vale lembrar, homenageia ícones da música, como o pernambucano Luiz Gonzaga. "Nestes mais de 50 anos, fiz muitas parcerias. Letras que escrevi para músicas que gostaria de ter feito", elogiou, antes de Retrato em branco e preto (1938). Do mesmo ano, resgatou Sabiá

Iolanda (Pablo Milanés, em versão de Chico, 1984), Injuriado (1998), na qual faz dueto com a tecladista Bia Paes Leme, As vitrines (1981), A história de Lily Braun (com Edu Lobo, 1982), A bela e a fera (com Edu Lobo, 1982) – ambas da peça O grande circo místico – e Gota d’água (1975) são outras canções pinçadas. Para o bis, foram selecionados grandes clássicos: Geni e o zepelin e Futuros amantes, seguido por Paratodos

O palco, novamente minimalista, é composto por uma estrutura de aço e ondas compostas de oito cordas, desenhadas por Helio Eichbauer e trabalhadas com iluminação colorida de Maneco Quinderé. Os instrumentistas que acompanham Chico são o maestro, arranjador e violonista Luiz Claudio Ramos, João Rebouças (piano), Bia Paes Leme (teclados e vocais), Chico Batera (percussão), Jorge Helder (contrabaixo), Marcelo Bernardes (flauta e sopros) e Jurim Moreira (bateria).

Caravanas interrompe com delicadeza o jejum de seis anos desde o fim da turnê Chico. Sem grandes surpresas ou arranjos inesperados, o show dialoga intimamente com a trajetória de mais de cinco décadas de um dos mais importantes artistas brasileiros, com suas conhecidas nuances políticas, românticas, malandras e poéticas. 

O próximo destino é o Teatro Guararapes, em Olinda, com shows entre os dias 3 e 6 de maio. Ainda há ingressos, por R$ 490 e R$ 245 (meia), para plateia, e R$ 250 e R$ 125 (meia), para balcão, à venda no local e na Bilheteria Virtual.

Assista ao momento no qual Chico Buarque se refere a Michel Temer:

%u201CTemer não ouve nada, não escuta nada%u201D, reclamou @chicobuarque diante dos gritos de %u201Cfora, Temer%u201D durante show neste sábado, após interpretar o clássico Homenagem ao Malandro. A frase foi dita depois de o artista revelar a dificuldade de ouvir a plateia, devido ao fone usado na apresentação. %u201CDesculpa, eu não percebo bem o que estão dizendo. Geralmente é Fora temer. Esse fone aqui%u2026%u201D, disse. %u201CO Temer também usa este fone?%u201D, provocou. Ele fará 24 shows na capital paulista. A turnê Caravanas chega a Pernambuco entre os dias 3 e %u202A6 de maio%u202C, no Teatro Guararapes. Os ingressos estão à venda no local e na Bilheteria Virtual. Imagens: @luizamaias/DP #ChicoBuarque #Caravanas #ForaTemer #Show #SãoPaulo #Malandro #Temer #MichelTemer #Política #ViverDiario #DiariodePernambuco

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REPERTÓRIO
Minha embaixada chegou Mambembe
Partido alto
Iolanda
Casualmente
A moça do sonho
Retrato em branco e preto
Desaforos
Injuriado
Dueto
A volta do malandro
Homenagem ao malandro
Palavra de mulher
As vitrines
Jogo de bola
Massarandupió
Outros sonhos
Blues pra Bia
A história de Lily Braun
A bela e a fera
Todo o sentimento
Tua cantiga
Sabiá
Grande hotel
Gota d'água
As caravanas
Estação derradeira Minha embaixada chegou
BIS
Geni e o zepelin
Futuros amantes 
BIS 2
Paratodos

SERVIÇO EM PERNAMBUCO
Show Caravanas, de Chico Buarque
Quando: 3 e 4 de maio, às 21h30, 5 de maio, às 21h, e 6 de maio, às 20h. Abertura dos portões uma hora antes
Quanto: R$ 490 e R$ 245 (meia), para plateia, e R$ 250 e R$ 125 (meia), para balcão, à venda no local e na Bilheteria Virtual
Onde: Teatro Guararapes (Centro de Convenções, Olinda)
Quanto: 3182-8000

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