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Apresentador que rogou morte a maconheiros faz show de humor e defende uso de termos como 'quenga'

Escalado para filme de Danilo Gentili, pernambucano se apresenta no Recife

Publicado em: 23/03/2018 17:21 | Atualizado em: 23/03/2018 17:23


A maldição lançada contra usuários de maconha em um programa de televisão selou o ingresso do pernambucano Sikera Jr. no eslástico círculo nacional de apresentadores cujas opiniões deixam o telespectador atônito. À profecia, seguiu-se um roteiro improvável: dias após fixar o prazo natalino ao qual "maconheiros" não sobreviveriam, o jornalista sofreu um infarto. E superou. Meses depois, ele colhe a projeção pública obtida com a viralização da praga, o calvário de saúde e as oportunidades profissionais surgidas no esteio de uma exposição marcada pela combinação dos novos ares dos programas policialescos com a força da internet.

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Sikera se prepara para interpretar o diretor de um colégio no novo filme de Danilo Gentilli (Exterminadores do além contra a loira do banheiro), colega de profissão e autor de Como se tornar o pior aluno da escola, comédia criticada por fazer apologia ao bullying, e circula pelo Nordeste com o show de humor Sikera sem censura - com produção da Cia do Riso e da Cidadania e edição no Recife neste sábado. O apresentador também está de casa nova: no dia 12, trocou o Plantão Alagoas, da afiliada do SBT em Maceió, pelo Cidade em ação, da RedeTV! em João Pessoa. Mas manteve o formato policial. "Não tenho como tirar essa marca", diz.

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A aventura nos palcos é fruto das conversas em família e ecoa as histórias vividas nos bastidores do rádio, veículo do início da carreira em Palmares, na Mata Sul pernambucana, e da televisão. "Comecei a fazer em junho [do ano passado], mas quero parar e não consigo. Não aguentei o ritmo pesado de viajar pelas cidades. O do Recife devia ia ser o último, mas…", adianta. Para os palcos, atestam vídeos do espetáculo postados no YouTube, ele transpõe os trejeitos característicos da TV: dedo em riste e fala grossa, piadas com membros da plateia, bordões. "São histórias da minha vida, com começo, meio e fim", salienta.

A investida sobre filões do cinema e dos palcos reflete o fenômeno acentuado em anos recentes da aproximação do jornalismo com o entretenimento e é um indicativo da popularidade das mensagens dos programas policialescos  - cada vez mais influenciados por elementos de humor, com efeitos sonoros, frases de efeito, apreço por temas caricatos, mas ainda espaços para exercício de um discurso intransigente, imediatista e por vezes preconceituoso. Sikera Jr conjuga bem as duas vertentes. No programa de TV, exorta à morte usuários de maconha e chama de "quenga" a mulher envolvida com homens casados - posicionamentos claramente condenados por defensores da liberação da droga e dos direitos femininos.

"Hoje, [a cantora] Marilia Mendonça fala de amante, rapariga, e todo mundo está cantando a música. Uma coisa é chamar a sua irmã de 'quenga'. Outra é dizer que a mulher que pega homem casado é 'quenga'. Se fizer uma enquente, todo mundo vai dizer isso", justifica o apresentador. "Nunca tive problemas com direitos humanos. De vez em quando, pediam para aliviar. Nada oficialmente. A opinião que eu dou na televisão é a da grande maioria da população. Eu sou gente, vou na padaria, vou comprar carne. Tanto que é um perigo que todo mundo está em busca de um salvador. Sou até um tanto assustado".

Veja um trecho do show:



O conteúdo e formato dos programas policialescos têm sido questionados por entidades de monitoramento de mídia. Relatório mais recente produzido pela Andi - Comunicação e Direitos sobre transmissões em dez capitais brasileiras identificou quase 4,5 mil violações a leis do país ou convenções internacionais e ensejou campanha parlamentar contra as transgressões. Entre os principais problemas relatados, estão a exposição de crianças e adolescentes, o desrespeito para com suspeitos e acusados e o incentivo à tomada de decisões à margem da lei, como o justiçamento. A soma dos equívocos seria impeditivo à prática adequada do jornalismo.

Com seis anos à frente do último programa, Sikera Jr. conhece as implicações públicas da função, mas nega ter encontrado entraves:

Qual o limite para polêmicas na TV?
Não sei onde é ainda. Ando tendo muita sorte. Porque os diretores vão muito na minha onda. Nunca disseram para aqui e ali. Nunca houve. Uma coisa que eu pedia lá em Maceió e peço agora em Joao Pessoa é não falar nome de facção [criminosa]. Não gosto nem de usar esse nome. Acho que é promover. O criminosos estão se sentido num belo emprego. Evito falar. E política, também. Me "arrepia o osso da coluna vertebral".
 
Os programas policialescos parecem ter mudado o formato em anos recentes, com a absorção de elementos dos shows de stand up, investimento em efeitos sonoros, piadas e ridicularizações até da equipe. Como avalia isso? A que atribui?
Me sinto um pouco responsável por essa mudança. Quando a gente começou, disseram que a gente brinca demais, que não levava a sério. A gente queria tirar a seriedade do sangue, da facada, da explosão. O horário já é muito pesado, na hora do almoço, a criançada "tá" vendo. A gente começou a levar para a brincadeira. Tem muita coisa de Sikera rolando na internet porque a gente tirou o peso do sangue. 

O apresentador enxerga vida longa para os programas policiais e credita o fôlego à situação do país. "Têm [vida longa] porque desgraça ocorre todo dia. Todo dia o mercadinho da esquina vai ser assaltado, vai ser explodido o carro-forte, enquanto o Brasil não estruturar a educação, respeitar o professor, não gritar mais com o professor, não humilhar. Quando prepararem a educação, para depois cuidarem de segurança, aí, sim, vamos viver em um país bom. Mas, enquanto tiver condomínios - presídios de luxo - com câmeras, grades, isso vai acontecer". Mais uma previsão feita.

SERVIÇO
Sikera sem censura
Quando: dia 24, às 20h30
Onde: Teatro Boa Vista
Quanto: R$ 40 (inteira) e R$ 20 (meia), à venda na bilheteria, no Ticket Folia do Shopping Recife e nos sites bilheteriarapida.com e symplia.com.br/ciadoriso

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