Literatura

'O poema é uma arma que o autor entrega para o leitor', diz Marco Polo Guimarães ao lançar coletânea poética

Escritor pernambucano reuniu textos escritos ao longo dos últimos 54 anos

Publicado em: 15/03/2018 20:28

Marco Polo selecionou 100 poemas. Foto: Daniela Nader/divulgação
Impressas no papel ou em formato de canção, as letras unem os músicos e escritores pernambucanos Geraldo Maia e Marco Polo Guimarães. Ambos revisitam o passado em livros editados pela Confraria do Vento, lançados nesta quinta-feira (15). Geraldo rememora a morte da mãe e a perda da virgindade em reedição de Breu (248 páginas, R$ 53), enquanto Marco Polo faz seleção de cem poemas escritos nos últimos 54 anos, agora reunidos em Sax áspero (176 páginas, R$ 47). 

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Entrevista // Marco Polo Guimarães, cantor e escritor

Sax áspero é seu primeiro livro desde 2013, quando lançou a coletânea de contos Autópsia do bípede. Em que contexto surge essa reunião de poesias?
Quis fazer uma espécie de panorama geral da minha poesia até agora. Fiz uma seleção de 100 poemas, desde o primeiro livro, incluindo dois inéditos. Ao longo desse processo, fui percebendo que tenho alguns temas recorrentes, como sexo, o espaço urbano, a morte, além de questões existenciais, que englobam questões sociais. 

Você é o mesmo poeta de quando começou a escrever? Observa alguma evolução nos textos?
Não há evolução, há mudanças. O meu primeiro livro, Voo subterâneo, foi escrito entre 1964 e 1968, mas só fui publicar em 1986. Ficou guardado na gaveta. Eu era um adolescente, estava carregado de hormônios, então é um livro muito visceral. No segundo, Palavra clara, explorei o verso mais discursivo, o poema mais longo. Já Brilho, o terceiro, é de poemas curtíssimos, que por sinal publiquei antes do segundo. Nunca liguei muito pra isso de cronologia. 

Enxerga semelhanças entre a escrita de poesia e a composição de músicas?
Acho que são dois trabalhos totalmente diferentes, de artistas diferentes. Na poesia há uma preocupação maior com a metalinguagem, com referências eruditas.  Na música, minha preocupação é o dia a dia, o cotidiano, o que acontece ao meu redor. Se bem que, como tenho carga de leitura grande, isso acaba vazando para minhas composições. 

Mas é natural que o leitor de suas poesias associe os textos à sua figura de músico. Isso lhe incomoda? Você se importa por quem vai ser lido?
Todo mundo quer ser lido. Quem disser que não quer, está mentindo. Cada poema pode ser interpretado de várias maneiras, assim como acontece com as músicas.  A arte melhora quanto mais aberta for, como diz aquele conceito de Umberto Eco, de obra aberta. O interessante é ela se predispor a ser interpretada. Na realidade, a poesia só se realiza quando é lida e interpretada. O poema é uma arma que o autor entrega para o leitor. Somente quando é disparada ela se torna arma. 

Nas poesias há referências a nomes da literatura como Luís de Camões, Leon Tolstoi, Micheliny Verunschk, Murilo Mendes... É uma maneira de estabelecer diálogo com a obra desses autores? 
São ao mesmo tempo homenagens, referências, diálogos... São normalmente autores que aprecio muito, cujas obras me tocam profundamente. Faço questão de citá-los e até interpretá-los. 

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