Música

'Homem feminino', pernambucano Juan Guiã faz pop militante e com referências religiosas

Ator e bailarino recifense embarca no mundo da música com o EP Também Sou Feito de Infernos

Publicado em: 27/03/2018 14:41 | Atualizado em: 24/05/2020 18:08

Juan Guimarães planeja lançar quatro clipes até o fim do ano ( Foto: Juan Guiã/Divulgação)
Juan Guimarães planeja lançar quatro clipes até o fim do ano ( Foto: Juan Guiã/Divulgação)

O ator e bailarino pernambucano Juan Guimarães se lançou no mundo da música na última semana com o EP Também sou feito de infernos, atualmente disponível nas principais plataformas de streaming. Na carreira de cantor, o recifense radicado em São Paulo optou por assinar como Juan Guiã, em uma tentativa de se afastar das raízes patriarcais do sobrenome e resgatar sua essência como artista. Em quatro faixas autorais, o projeto aposta em um estilo pop que aborda temáticas como liberdade, amor e os dilemas de ser um homem "feminino" em uma sociedade que exalta a masculinidade. 

Experiente no meio artístico - ele já atuou na novela Malhação e foi premiado como Melhor Bailarino no festival Janeiro de Grandes Espetáculos duas vezes -, Guiã sempre quis trabalhar diretamente com música. A vontade foi intensificada após um projeto de dois anos realizado com o grupo Doutores da Alegria. Para o EP, a escolha da música pop veio de uma conexão que o cantor possui com o estilo. "A sonoridade pop é algo de que eu gosto e acho que tem a ver com meu público. Na verdade, eu acho que transita por diversos gêneros, vai para um estilo mais experimental", pondera o artista de 30 anos.

Entre o sagrado e o profano
O experimentalismo do músico é bastante influenciado pela sua relação com a espiritualidade - ele é umbandista e uma das canções se chama Despacho. As faixas incorporam elementos da música eletrônica com sonoridades psicodélicas e orientais - tudo isso com uma roupagem pop.

Capa do EP Também Sou Feito de Infernos. (Foto: Juan Guiã/Divulgação)
Capa do EP Também Sou Feito de Infernos. (Foto: Juan Guiã/Divulgação)
"Há uns dois ou três anos, eu venho num processo bem forte de vivências, principalmente através do ayahuasca. Isso me fez entrar num lugar de encontro comigo mesmo", conta. Reflexões sobre vivências antigas, atuais, relações amorosas e autoconhecimento tomam conta das composições. Rastreando a cartilha da música pop internacional, é possível estabelecer semelhanças com o Ray of light - disco de Madonna que marca sua trajetória pela relação com a Kabbalah e um amadurecimento trazido pela expansão da consciência.
 
Na capa do disco, o recifense aparece como uma espécie de entidade religiosa moderna. A intenção é trazer um signo "sagrado" ao lugar do "profano" para entender esses dois polos que transitam nos indivíduos. "Vejo muita hipocrisia nas pessoas que se colocam em pedestais, então procuro desmitificar essa imagem de santo. Por isso o título é Sou feito de infernos. Eu tenho todas as possibilidades, eu sou tudo isso. Sou carne, feito de matéria".

"Homem feminino, não menino macho"
Outro ponto que chama a atenção no disco é a reafirmação do cantor como um homem fora dos padrões de masculinidade propostos pela sociedade. Esse é o foco de músicas como Despacho e a dançante Libera a raba, que trata de liberdade. Explorando uma das proezas de ser um artista pop, Guiã consegue soar político ao mesmo tempo em que convida os ouvintes para a pista de dança. "Acho extremamente importante a gente se colocar, principalmente nesse momento extremamente caótico que a gente vive. É o mínimo que posso fazer pela minha comunidade", diz.

 (Foto: Juan Guiã/Divulgação)
Foto: Juan Guiã/Divulgação


Próximos passos
Juan pretende lançar um clipe para cada faixa até o final do ano. O primeiro deles, da faixa Despacho, será lançado no final de março e foi gravado com o apoio cultural da Associação Vila Maria Zélia. Ele também adianta que, em breve, fará colaborações com artistas que contam com uma projeção considerável no música nacional. Também sou feito de infernos está disponível em plataformas de streaming como Spotify, Deezer, iTunes, Tidal, Claro Música, Google Play, Apple Music e Amazon.
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