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Entrevista

Confira entrevista com o autor do livro que inspirou a série Altered Carbon

A obra chega ao Brasil em maio e a sequência ainda não tem previsão de lançamento

Publicado em: 14/03/2018 14:49 | Atualizado em: 14/03/2018 15:01

O britânico fala sobre o principal mote da obra, a imortalidade. Foto: Acervo pessoal/Divulgação


Em fevereiro deste ano, a Netflix lançou a série original Altered carbon (Carbono alterado, em português). A produção é inspirada em um livro homônimo escrito pelo britânico Richard K. Morgan. A obra foi a primeira criação de cyberpunk do autor e deu origem a mais dois livros: Anjos partidos, que está em pré-venda e será lançado em maio no Brasil, e Woken furies, ainda sem previsão de chegada ao país. A trilogia acompanha o protagonista Takeshi Kovacs que, no seriado, foi interpretado pelos atores Joel Kinnaman e Will Yun Lee.

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O primeiro livro da saga se passa no século 25, quando a tecnologia permitiu que qualquer ser humano transferisse sua consciência para outro corpo e, assim, pudesse viver para sempre. Só há um tipo de morte real, quando o cartucho é comprometido. Mesmo assim, os mais ricos conseguem contornar isso fazendo back-up de suas memórias em outros corpos. Nesse contexto, Takeshi Kovacs, um emissário (integrante de um grupo de guerreiros que lutou na guerra com o Protetorado, sistema atual), é convocado para investigar a morte do milionário Laurens Bancroft. O autor fala sobre a história, além da adaptação da Netflix e do principal debate da obra, a imortalidade.

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Origem do livro
Foi, basicamente, durante uma discussão, um pouco embriagado, com um budista em uma festa em Londres nos anos 1990. Ele estava expondo a ideia de carma e reencarnação e como se você está sofrendo nessa vida é porque você fez algo ruim em outra vida. Meu problema com essa versão de justiça é que se eu não consigo lembrar da minha vida anterior, então, todas as intenções e propósitos, eles não me aconteceram, esse era um outro cara e eu estou sendo punido pelos erros dele. Essa questão de personalidade e da responsabilidade ficou presa comigo e fui procurar uma maneira de expor na minha escrita.

Gêneros de narrativa
Eu acho que é uma mistura fácil. Já existe uma boa parte da sensibilidade embutida no cyberpunk, melhor evidenciada, penso eu, pela série Sprawl, de William Gibson, mas escorrendo para todo o subgênero ao longo do tempo. E quando eu comecei a escrever Carbono alterado, eu já era um fã da ficção criminosa americana em primeiro lugar, com os clássicos de (Raymond) Chandler, (Dashiell) Hammett e Jim Thompson, e o também os mais modernos, como Lawrence Block e James Ellroy.

Adaptação do roteiro
De fato, uma parte do contrato que eu assinei com a Netflix foi para que pudesse dar uma consultoria à série. Enviaram-me os scripts e as audições do elenco e me perguntaram sobre as escolhas, fui questionado sobre mais detalhes do romance e das implicações do texto, que não são explicitadas no livro. Tudo isso foi levado para Laeta Kalogridis, a produtora da série, e ela usou como achou conveniente. Vários feedbacks que eu dei foram usados de uma forma ou outra. Isso é algo que eu sempre vou agradecer a ela.

A série
Eu achei que foi uma homenagem surpreendentemente meticulosa do livro. Obviamente, há mudanças, o que é inevitável em qualquer adaptação. Mas não há quase nada no livro que não esteja na série. Há uma enorme quantidade de cenas que foram retiradas quase inteiras ou inteiras do texto de um livro que eu escrevi há 20 anos. A espinha narrativa do livro está intacta, assim com o espírito e o tom. Então, eu não poderia pedir um resultado melhor.

Segunda temporada
Eu adoraria que houvesse uma segunda temporada. Acho que há muito a se explorar. Uma das coisas que Kalogridis diz que a atraiu para os livros, em primeiro lugar, foi a profundidade e a complexidade desse mundo. Existem outros universos que podem ser explorados, outras culturas planetárias para mergulhar, sem mencionar a enorme quantidade de questões não resolvidas para Kovacs e seus companheiros.

Continuação da saga 
Bom, nunca se fala nunca, certo? De fato, eu nunca disse que não voltaria e escreveria mais, só que eu não conseguiria pensar em nada interessante ou atraente o suficiente para fazer isso naquele momento. Com a série e todas essas novas áreas de desenvolvimento, agora posso começar a enfraquecer um pouco sobre isso. Não estou fazendo nenhuma promessa, mas acompanhe.

Projetos atuais
Atualmente, estou finalizando a minha nova série de ficção científica chamada Thin air (Ar fino, em tradução livre), que é similar ao tom dos livros sobre Kovacs, mas em um universo completamente diferente. É uma espécie de sequência do meu outro livro Black man, que lida com questões de humanos geneticamente modificados e as consequências morais disso. Black man foi ambientado na Terra em 2107, com menção a uma colônia em Marte. O Thin air está situado nessa colônia e se passa cem anos após os eventos de Black man. Para mim, é um retorno à ficção científica depois de 10 anos escrevendo fantasia. Também é um retorno à narrativa em primeira pessoa, que usei nos livros de Kovacs.

Carbono alterado
De Richard K. Morgan
Tradução: Edmo Suassuna
Editora: Bertrand Brasil, 490 páginas
Preço médio: R$ 49,90

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