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Homenageado do carnaval 2018, J. Michiles relembra carreira e lista frevos essenciais

Cantor e compositor é mais conhecido na voz de Alceu Valença, por hits como Me Segura, Senão Eu caio, Diabo Louro e Bom Demais

Publicado em: 08/02/2018 20:30 | Atualizado em: 08/02/2018 18:01

Recifense, hoje o músico mora em Olinda, cenário de muitas de suas músicas. Foto: Thalyta Tavares/Esp.DP

J. Michiles escolhe como local da entrevista o Alto da Sé, em Olinda. O motivo, explica, é que, de lá de cima, além da visão das ladeiras, cenário de muitas de suas composições, consegue ver o município vizinho. "A gente vê toda a Recife, essa cidade bela onde nasceu e cresceu o frevo, o ritmo mais eletrizante da música brasileira", justifica, respondendo em seguida com versos da música Moleque centenário, de sua autoria. "Faz do corpo da gente parafuso, dobradiça, no passo que atiça e bota pra mexer", cantarola o músico, um dos homenageados deste ano do carnaval do Recife.

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A conversa com o compositor e intérprete é permeada por intervenções musicais. As inevitáveis menções aos sucessos aos sucessos da carreira, não raro, são acompanhadas de alguma cantoria. "Minha vida é muito musical. Eu durmo, acordo, almoço, janto, tudo em torno da música", acrescenta, a respeito do quase incontrolável movimento melódico que permeia sua fala. "Nunca parei de compor, de seguir essa trilha musical que aprendi desde menino, no rádio do vizinho, ouvindo as grandes emboladas dos ambulantes nas ruas", recorda sobre o despertar do interesse pela música.

A relação com o carnaval surgiu em paralelo, na infância, ao ver os blocos que passavam pelos subúrbios por onde morou. "Ficava assombrado com as troças que vinham arrastando multidões", diz. "Era da periferia do Recife", lembra, citando os bairros de Campo Grande, Arruda, Água Fria e Ponto de Parada como alguns dos endereços da juventude. Hoje, mora em Olinda. Nascido José Michiles da Silva, com recém-completados 75 anos, no dia 4 de fevereiro, J. Michiles contabiliza mais de cinco décadas de envolvimento com a música. Ainda que o frevo seja seu principal objeto de trabalho, as primeiras incursões musicais bem-sucedidas eram de outra seara.

A primeira gravação foi o bolero Você me maltratou, feita em parceria com o tio, o músico Orlando Dias. A canção foi lançada em 1962, na voz do cantor romântico Victor Bacellar. Mas o primeiro grande passo, afirma, veio dois anos depois. “Foi quando gravei a canção Não quero que chores, em um compacto simples do grupo vocal Golden Boys”, diz sobre a música, um calipso que fez sucesso como lado B do disco cujo destaque era faixa Quero afagar suas mãos, versão para I Want to hold your hand, dos Beatles. "Houve um comentário que os Beatles iriam regravar minha música, mas foi tudo um boato. Se fosse verdade, hoje eu seria um compositor riquíssimo", recorda.

A vocação para o frevo viria depois, em 1996, com a vitória no festival Uma Canção para o Recife, instituído pela prefeitura. "Eu ganhei o primeiro lugar, concorrendo com os grandes nomes da cena pernambucana, Capiba, Nelson Ferreira, Ariano Suassuna, Luiz Bandeira, Aldemar Paiva e tantas outras estrelas", se gaba.
Parceria com Alceu Valença teve início nos anos 1980. Foto: Arquivo DP/D.A Press

Parceria 
As carreiras de J. Michiles e Alceu Valença estão interligadas há mais de três décadas. Para o primeiro, a parceria significou a consolidação como compositor de frevo, enquanto o segundo firmou o nome no carnaval. "Alceu, até então, não fazia show nos carnavais", conta Michiles, que credita essa mudança ao sucesso da música Bom demais, em 1986. A relação se aprofundou com outros hits nos anos seguintes, lista que inclui Me segura, senão eu caio, Diabo louro, Fazendo fumaça, Roda e avisa e Vampira. Questionado sobre o fato de muitos creditarem as letras dessas músicas a Alceu Valença, o compositor se diz satisfeito com o fato da sua obra ser difundida, mas faz questão de corrigir quem não lhe dá os créditos.

Inspiração
Michiles descreve as composições como frevos cinematográficos. "Têm uma história cinematográfica, com começo, meio e fim", explica. "A inspiração vem espontaneamente, como aconteceu com o frevo Vampira", acrescenta, citando, afirmando que muitas das canções surgem a partir de observações do cotidiano. "Eu estava em pleno sábado de carnaval, na sacada do restaurante Mourisco, em Olinda, quando no meio da multidão esvoaçada no frevo, uma foliona deu um bote no cangote de um folião, caíram os dois no chão, ela se levantou e saiu correndo. Aí eu concluí: 'acabo de ver um beijo de vampira'. Me sentei à mesa e comecei a escrever. E surgiu mais um sucesso carnavalesco".

[Os frevos essenciais
Michiles lista cinco composições que não podem faltar no carnaval.

Micróbio do frevo (1954)
"Um grande frevo de Genival Macêdo, na interpretação de Jackson do Pandeiro, que ficou marcado até hoje", destaca. A faixa saiu no lado A do compacto, que trazia ainda Vou gargalhar, de Edgar Ferreira.

Último dia (1959)
A música de Levino Ferreira, considerado por muito o maior expoente do frevo de rua, saiu pela primeira vez em um compacto da gravadora Continental, executada pela orquestra de Severino Araújo.

Lágrima de folião (1950)
"Outra de Levino Ferreira", acrescenta Michiles sobre o maestro e compositor e multi-instrumentista, que escreveu ainda valsas, maracatus e peças folclóricas.

Frevo nº 3 (1957)
"Do saudoso Antonio Maria", diz J. Michiles ao exaltar o autor do frevo que evoca recordações sobre o Recife. A gravação original saiu na voz de Claudionor Germano, em disco da gravadora Rozenblit.

Evocação (1957)
"De Nelson Ferreira, foi sucesso em 1957", recorda Michiles. De fato, a canção foi a mais tocada no Brasil no carnaval daquele ano. A primeira gravação foi interpretada pelo coro feminino do bloco Batutas de São José.

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