Artes visuais

Ações do projeto Sentir Insurgente usam a arte urbana para fazer ativismo

Iniciativa começou com oficina na Fundação Joaquim Nabuco e propõe reflexões sobre preconceitos e falta de oportunidades para segmentos da sociedade, como LGBT e negros

Publicado em: 19/02/2018 15:15

Grupo de cerca de 20 pessoas ocupou a cidade para espalhar o material da oficina Sobre um Sentir Insurgente. Crédito: Sentir Insurgente/Divulgação

“Quantos calos na tua mão sustentam uma branca revolução”? A frase aparentemente anônima, colada em muros do Recife, é um convite à reflexão mesmo na rotina atribulada da cidade. A ela se somam outras, vinculadas ao ativismo LGBT e à permanência de um ranço escravista no Brasil. Atingir um público mais amplo por meio do poder da imagem foi o objetivo proposto pela oficina Sobre um sentir insurgente. Vinculada à exposição Bandeiras da revolução: Pernambuco 1817-2017, a ação extrapolou as dependências da Fundação Joaquim Nabuco, onde aconteceu em dezembro passado, e ganhou a cidade com lambe-lambes, bandeiras, fitas, carimbos e intervenções urbanas.

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No total, o grupo produziu oito ações voltadas para o espaço público, dos quais participaram cerca de 20 pessoas. “Para mim, a oficina só fazia sentido se tivesse uma interação com um público mais geral e uma conexão com movimentos convidados pela mostra. Então, fiz uma mobilização de um mês para integrantes de coletivos independentes participarem. As oficinas sao uma forma de pensar alem do textão, do discurso verbal. A intenção foi pensar como se consegue comunicar as lutas que estão sendo realizadas por esses grupos a partir de mecanismos mais subjetivos”, detalha a fotógrafa Ana Lira, responsável pela oficina.

A partir daí, Abiniel Nascimento, Adri Aguiar, Aline Sales, Alison Pereira, Anina Dias, Elli Ciríaco, Ige Martins, Inana Sabino, Joelson Souza, Júlio de Abreu, Lin Diniz, Marcel Lima, Matheus Beltrão, Méle Dornelas, Mitsy Queiroz, Rafael Amorim, Rodrigo Lima, Telma Buarque e Wyrá Potira pensaram, junto com Ana, em ações como Bons ventos nos trazem, que imprimiram em duas mil fitinhas frases com as conquistas dos movimentos LGBT nos últimos anos. Outra obra impactante são os cartazes da série Parte da família, que usam fotos históricas das antigas amas de leite na qual trechos de uma conversa entre patroa e empregada ocupam o espaço das crianças cuidadas por essas mulheres.

O grupo que se formou durante a oficina e pensou nessas ações deve formar um novo coletivo artístico, ainda sem nome, para continuar esse trabalho na cidade. “Pessoas de outros estados estão pedindo os trabalhos e estamos disponibilizando. Também acompanhamos se as imagens ainda resistem, pois esta é uma forma de atuar no espaço público e de fazer esses debates perdurarem. As paredes não precisam ser espaço apenas de diálogo privado”, defende Ana.  As imagens podem ser vistas também no instagram @sentirinsurgente.

O uso de formas populares de comunicação gráfica, como santinhos e lambe-lambes, não é novidade na trajetória de Ana, uma das participantes da Bienal de São Paulo em 2014 com a performance Voto!, que distribuiu santinhos com fotos já desgastadas de políticos ao público. “Uma das coisas que levei para a oficina foi pensar a cidade como um território político. Essa questão moldou meus trabalhos anteriores e consideramos a parede como espaço de discussão, porque nos formamos muito pelo que vemos na rua. Também debatemos o respeito a outros tipos de ocupação urbana, como o grafite”.

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