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A Forma da Água: líder em indicações ao Oscar é uma história fantástica de amor e monstro

Longa-metragem de Guillermo del Toro concorre em 13 categorias, incluindo Melhor Filme e Diretor

Publicado em: 01/02/2018 14:31 | Atualizado em: 04/03/2018 21:41

Filme levou o Globo de Ouro de Melhor Diretor e, no Critics Choice Awards, arrebatou os troféus de Melhor Filme e Direção. Foto: Fox/Divulgação
Pelas imagens promocionais e trailer de A forma da água, é fácil deduzir, com precisão, que o novo filme de Guillermo del Toro é uma fábula. Não é de todo equivocado, também, enxergar como uma espécie de A bela e a fera, mas fora a questão da paixão entre mulher e criatura, há pouco em comum entre as duas produções. Em cartaz no país a partir de hoje, o mais recente trabalho do cineasta mexicano mescla fantasia e romance, mas de maneira sombria e um tanto menos idealizada.

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Título com o maior número de indicações (13) ao Oscar 2018, incluindo Melhor Filme, Roteiro, Diretor e Atriz, o longa-metragem já levantou mais de 70 conquistas em outras premiações, entre elas o Globo de Ouro de Melhor Diretor e, no Critics Choice Awards, os troféus de Melhor Filme e Direção. Além de ser primoroso na direção e em outros aspectos técnicos, como design de produção e fotografia, outro ponto que pode ter influenciado o filme a conquistar essa sucessão de prêmios é o olhar reverente e afetuoso da história para com o cinema, em especial produções clássicas de terror. Algo similar ao que Michel Hazanavicius fez ao homenagear o cinema mudo em O artista (2011), ganhador do Oscar de Melhor Filme.

A referência mais explícita, e declarada pelo próprio Del Toro, é O monstro da lagoa negra (1954), cujo personagem-título serviu de inspiração para a criatura vista em A forma da água. Quase uma releitura do clássico, a nova produção é ambientada nos anos 1960 e se passa, em boa parte, dentro das instalações de um complexo militar norte-americano onde uma espécie de fera marítima (Doug Jones), capturada na América do Sul, é mantida em cativeiro para experimentos. Elisa (Sally Hawkins), faxineira muda que trabalha no local, se compadece do animal e é uma das primeiras a perceber o alto grau de inteligência e sensibilidade dele.

A mulher sente grande identificação com o cativo, tal como ela, solitário e sem voz. A mudez, aliás, extrapola a questão da vocalização e tem peso simbólico: diz respeito à própria condição de aparente insignificância e falta de poder dessas duas figuras naquele espaço. Há, em A forma da água, uma interessante inversão de papéis.

Se, no filme de 1954, o monstro sequestrava a amada Kay (Julie Adams), aqui Elisa se empenha na operação de retirada da criatura. No início, o contato entre as duas espécies parece baseado na compaixão de Elisa e no reconhecimento mútuo como indivíduos à margem. A aproximação, no entanto, vai ganhando profundidade emocional e sexual, fugindo do padrão geralmente infantilizado e ingênuo visto nas fábulas mais difundidas. Por vezes cruel, violento e curiosamente erótico, A forma da água tem aquela estranheza elegante vista nos melhores filmes de Guillermo del Toro.

"Fui salvo pelos monstros"
Já ultrapassando três décadas como diretor (o primeiro curta-metragem é de 1986) e com mais de dez filmes realizados, Guillermo del Toro não tem carreira marcada por prêmios da indústria, mas tem uma filmografia consistente e relevante. Facilmente figurada entre as suas melhores obras, A forma da água coloca o diretor sob novos holofotes.
Visual da criatura de A Forma da Água é inspirado no design do personagem de O Monstro do Lago Negro (1954). Foto: Universal/Divulgação

E nada mais justo do que uma produção estrelada por um monstro trazer essa visibilidade extra. "Fui salvo pelos monstros, que são os santos das nossas imperfeições. Durante 25 anos, criei contos muito esquisitos. Muitas dessas histórias salvaram a minha vida", chegou a declarar o diretor durante o discurso de agradecimento na cerimônia do Globo de Ouro, no início de janeiro.

O fascínio pelo estranho e fantástico vem de antes do cineasta se arriscar a contar as próprias histórias. O monstro da lagoa negra era um dos filmes favoritos da infância de Del Toro e, por muito tempo, ele desejou fazer um remake do clássico, sob o ponto de vista do monstro. No início da carreira, ele chegou a propor a ideia ao estúdio detentor do personagem, a Universal, mas o projeto não teve aprovação. Definido pelo próprio diretor como "primeiro filme adulto", A forma da água é certamente mais refinado do que outros títulos da filmografia dele, mas também mais maniqueísta e menos denso em comparação a O labirinto do fauno (2006) e a A espinha do Diabo (2001).

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