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'Presença do negro na TV tem que ser natural, não pode ser obrigação', diz Roberta Rodrigues

Atriz está na nova temporada de Cidade dos Homens, na Globo

Publicado em: 02/01/2018 21:31

Roberta Rodrigues dá vida à Poderosa em Cidade dos Homens. Foto: Globo/Divulgação

O Morro do Vidigal é habitado por talentos das artes. Uma delas é Roberta Rodrigues, negra nascida e criada na comunidade carioca que teve uma história meio atípica, como ela define. Fez nado sincronizado dos 6 aos 16 anos, jogou futebol e abandonou os desportos ao se encantar pelo teatro. Integrou o grupo Nós do Morro, quando as oportunidades começaram a surgir.

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Ela atuou em novelas como Mulheres apaixonadas e Insensato coração e nas séries A grande família, As brasileiras e Cidade dos homens. Roberta voltará à TV na nova temporada de Cidade dos homens, após dois anos afastada devido à maternidade. A personagem Poderosa entrou na série em 2004 e retornará convertida para a religião evangélica e lutando pelo direito de ter o filho.

"Os nossos personagens ultrapassam a questão de ser negro ou não. Qualquer pessoa naquela situação (da minissérie) sentiria da mesma forma", opina. "Na gravidez, refleti muito sobre cada personagem que fiz, quantas vezes sofri preconceito. Agora, eu quero poder sentar, estudar meu personagem e ver se é legal", diz.

Entrevista // Roberta Rodrigues

Como se dará o retorno de Poderosa após dez anos afastada?
A Poderosa era uma louca, desvairada em uma comunidade, que queria curtir a vida independentemente de qualquer coisa. Ela se envolvia com os marginais daquele lugar. Ela volta dez anos depois querendo rever o filho. Eu achei muito legal isso. Normalmente, quando você fala de Cidade dos homens, as pessoas sempre esperam a questão da violência. A violência está aí em todos os lugares, infelizmente. A gente pega tudo lá de trás e compara com hoje, e acho que a gente teria que acrescentar mais. Piorou um pouco. E essa mulher volta querendo rever o filho, tomar o lugar dela como mãe, em um momento em que ela descobre que teve um tiroteio que atingiu a escola do filho.

Ela agora é evangélica. Como foi a preparação para viver a mudança?
Eu recebi a religião para esse personagem como algo que não fosse a justificativa para essa mulher mudar. Ela teria que mudar por si só. Mas a fé é essencial para qualquer ser humano, independentemente de qualquer religião. Poderosa volta evangélica, grava um CD. Ela queria ser melhor e precisava de um caminho, de palavras. A religião é como se fosse um psicólogo dela. Não quis receber com fanatismo, porque ele te leva a ter preconceito ao próximo. A igreja não está ligada a isso. A religião é amor. É uma mulher que viveu tudo aquilo, mas acho que as pessoas podem se transformar. Não é questão de ter esperança. O ser humano é assim. Erra e pensa que pode fazer diferente. 

Cidade dos homens tem elenco predominantemente negro. Como vê a representatividade negra na TV?
Para mulher negra, a gente carrega uma responsabilidade muito grande. Ainda mais sendo mulher negra, de comunidade, nós somos atrizes. Se for morar em qualquer outro lugar hoje, as pessoas sempre vão me tachar como a “Roberta negra”. Eu não quero fazer uma “advogada negra”, não quero fazer uma “médica negra”. Eu quero interpretar a médica, a advogada. Meu DRT é igual ao das outras atrizes. Não tem diferença. A gente precisa ser representado sim, a gente precisa de mais. A gente tem que entender que é todo mundo feito da mesma matéria. Acho essencial a presença do negro na televisão. Isso tem que ser natural. Não pode ser obrigação.

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