Música

Plataforma digital disponibiliza gravações da 'paisagem sonora' de Olinda

Olinda Sonora é idealizado pelo historiador e produtor cinematográfico Caio Dornelas

Publicado em: 24/01/2018 21:51

O projeto oferece acesso gratuito ao patrimônio catalogado, algo útil para turistas. Foto: Gabriel Santana/DP

O viajante Marco Polo, personagem de Ítalo Calvino na narrativa As cidades invisíveis, descreve a memória da cidade fictícia de Zora com a seguinte frase: "O seu segredo é o modo pelo qual o olhar percorre as figuras que se sucedem como uma partitura musical da qual não se pode modificar ou deslocar nenhuma nota". Este olhar alternativo, que não necessariamente utiliza o sentido da visão, norteia o projeto Olinda Sonora, idealizado pelo historiador e produtor cinematográfico Caio Dornelas. A plataforma digital foi lançada nesta terça-feira.

Quer receber notícias sobre cultura via WhatsApp? Mande uma mensagem com seu nome para (81) 99113-8273 e se cadastre 

Caio morava na Cidade Alta em uma época em que buscava entender todos os elementos do cinema. Foi envolvido, então, pelos conceitos de paisagem sonora e da sonoridade como patrimônio imaterial. "Estava muito envolvido com Olinda na época e passei a 'enxergar' a cidade através da audição. Procurava perceber os sons antes de qualquer outro elemento", conta o idealizador, cuja ideia foi maturada ao longo de cinco anos.

O projeto Olinda Sonora oferece, pela internet, o acesso gratuito ao patrimônio catalogado, algo útil para turistas. Já para os olindenses, é um convite ao redescobrimento da própria paisagem e à reflexão sobre poluição sonora. Diferenciados em quatro categorias, os sons mapeados e captados se encontram e se confundem nas gravações disponíveis. A intenção não é entregar um som limpo, como o que ouvimos no cinema, mas o som real, com todos os ruídos que compõem a paisagem. 
 
Categorias
 
Marcos sonoros 
São os sons cotidianos que têm seus momentos e logo se esvaem, mas são marcantes, específicos e próprios de Olinda, como a batida na panela da tapioqueira e os sinos das igrejas. 

Sons envolventes
Ruídos do entorno, incluem apitos, o barulho dos carros na Ladeira da Sé, conversas de bar e tudo o que comumente não é entendido como som. 

Fonologia 
A colaboração do ser humano no mapa sonoro. O texto decorado do vendedor de peixes e as questões históricas que envolvem a vendedora de pamonha: “Há quantos séculos esses anúncios povoam estas ruas?”.  As vozes dos bêbados na madrugada, os únicos que “podem ouvir a cidade nascendo”. A paisagem sonora muda dependendo da hora do dia, da época do ano. Os moradores fazem a cidade histórica estar em constante construção.

Elementos musicais
Tudo que é considerado como tradição, ensaios de blocos e orquestras, o canto gregoriano dos monges e as serestas das sextas-feiras fazem parte desta categoria. Sangue do carnaval, prévias e troças bombeiam vida nas ladeiras anunciando fevereiro. "O contrário do sentimento oceânico, de um homem solitário ante a imensidão do mundo é o carnaval. (...) O inverso do sentimento oceânico é talvez a torrente sensorial momesca", discorre Caio Dornelas.

Acompanhe o Viver no Facebook:

Os comentários abaixo não representam a opinião do jornal Diario de Pernambuco; a responsabilidade é do autor da mensagem.
MAIS NOTÍCIAS DO CANAL