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Ganhador da Palma de Ouro em Cannes, The Square faz comédia sobre arte moderna

Filme sueco propõe debate sobre elitismo na produção artística contemporânea

Publicado em: 04/01/2018 13:02 | Atualizado em: 04/01/2018 12:53

Obra em forma de quadrado (square) é alvo de sátira proposta pelo longa-metragem. Foto: Pandora Filmes/Divulgação

A subjetividade e elasticidade sobre o que define algo como produto artístico não raro gera situações em que há dificuldade em se identificar uma obra como tal ou na conexão do público com o trabalho do artista. É sobre essas e outras questões relacionadas que a comédia dramática The square: A arte da discórdia se debruça. Em cartaz a partir de hoje nos cinemas, o longa-metragem do sueco Ruben Östlund levou a Palma de Ouro da 70ª edição do Festival de Cannes, no ano passado, e é também o candidato a Melhor Filme Estrangeiro no Oscar.

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A história é conduzida a partir de Christian (Claes Bang), curador do X-Royal Museum, espaço dedicado à arte contemporânea em Estocolmo prestes a inaugurar uma nova mostra. A exibição tem como principal obra uma instalação com um quadrado (em inglês, square) que deveria representar o conceito de confiança e confiabilidade entre as pessoas, segundo descrição fornecida pela própria artista. A forma geométrica, em suma, seria um espaço de segurança.

Enquanto acompanhamos os preparativos para o lançamento da exposição, temos vislumbres de outros espaços do museu e instalações tão genéricas quanto de fácil paralelo com obras por vezes exibidas em galerias e museus dedicados à produção contemporânea. Entre as áreas, uma sala com letreiros em neon na parede e, no chão, série de pilhas de cascalhos organizados de maneira simétrica. Em outro ambiente, uma projeção mostra alguém imitando um macaco. Sem evidenciar algo explicitamente ridículo nessas obras, na maior parte do tempo Östlund deixa a cargo do espectador a tarefa de julgar o valor artístico (ou ausência dele).

Ainda que, pela temática central, o filme pudesse enveredar por um caminho mais denso, The square é bastante acessível, mesmo não sendo demasiadamente didático. Por outro lado, algumas sequências acabam por demonstrar certa pretensão artística similar à que o longa-metragem se propõe a criticar: cenas com pouco significado e de difícil diálogo com o espectador. E, em outros momentos, a sátira perde força ao pender exclusivamente para o caricatural.

Eventuais imperfeições ou contradições, no entanto, não reduzem o valor de The square. É um trabalho que, sim, tem algo a dizer não apenas sobre arte moderna, mas também sobre a maneira elitista como a cultura é frequentemente tratada. Presidente do júri de Cannes em 2017, o diretor Pedro Amodóvar afirmou que o filme "ataca a ditadura do politicamente correto". Aproveitando o subtítulo nacional recebido pelo longa, cabe a discordância: as atitudes predominantemente execráveis dos personagens alertam sobretudo para o equívoco inerente nas posturas questionáveis no convívio social.

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