Música

'Estamos aqui para levantar a autoestima do povo brasileiro', diz Moraes Moreira em Pernambuco

Show dos Novos Baianos no Classic Hall foi marcado por clássicos do disco Acabou Chorare, estrutura simples, exaltação da cultura local e críticas ao cenário político nacional

Publicado em: 02/12/2017 10:35 | Atualizado em: 18/05/2020 18:56

Banda é composta por Moraes Moreira, Baby do Brasil, Pepeu Gomes, Paulinho Boca de Cantor e Luiz Galvão.  (Foto: Jacqueline Litwak/Reprodução)
Banda é composta por Moraes Moreira, Baby do Brasil, Pepeu Gomes, Paulinho Boca de Cantor e Luiz Galvão. (Foto: Jacqueline Litwak/Reprodução)


Os integrantes de Novos Baianos, uma das bandas mais importantes da MPB, subiram no palco do Classic Hall, em Olinda, nesta sexta-feira (1). Após o adiamento de quatro meses do show devido ao estado de saúde de Moraes Moreira, o grupo matou a ansiedade dos admiradores ao cantarem, como se fosse na época do lançamento, os clássicos do disco Acabou chorare, lançado em 1972. Um público composto por homens e mulheres de faixas etárias variadas cantarolou as canções, provando que o material do grupo atravessou as décadas e permanece atemporal.

Apesar do ótimo show, a estrutura cenográfica deixou a desejar. Diferentemente de outras apresentações da turnê nacional, intitulada Acabou Chorare: os Novos Baianos se encontram, o espetáculo em Pernambuco não contou com a decoração assinada por Gringo Cardia, composta por um carro, letreiros brilhantes e baldes coloridos pendurados no teto. A decoração se resumiu a um telão que tentava, sem sucesso, projetar o cenário original.

A presença de palco dos integrantes e o repertório, no entanto, foram suficientes ofuscar esse detalhe. O clima começou a esquentar quando Paulinho Boca de Cantor entoou Dê um rolê, música fresca na memória do público pela regravação de Pitty para abertura da novela global Rocky story. Outros auges foram justamente as canções do Acabou chorare; Preta, pretinha, Tinindo trincando, Swing do campo grande, A menina dança, Besta é tu, Mistério do planeta - aqui muitos celulares foram empunhados para filmagens - e Brasil pandeiro, espécie de segundo hino nacional que encerrou o show.

Também houveram interpretações de outros compositores, quase todos referências em expressar brasilidade; Brasileirinho, de Waldir Azevedo, e Isto aqui o que é?, de João Gilberto, gênio da bossa nova que inspirou a elaboração do Acabou chorare. Durante todo o show, Moraes Moreira fez questão de enaltecer a cultura pernambucana: "Quando o avião vai descendo por aqui, me arrepio. Essa terra é de arrepiar". Há 70 dias do carnaval, ele cantou o clássico foi Frevo Nº 2, do pernambucano Antônio Maria. O público acompanhou: “De que adianta se o Recife está longe, a saudade é tão grande que eu até me embaraço”.

Moreira também fez discursos em crítica a política nacional. "O homem é um animal político, nós precisamos dela. Mas no Brasil a política é uma atividade criminosa", disse. Ele ainda relembrou da ditadura militar e chegou a comparar o conservadorismo dos "tempos de chumbo" com a atual conjuntura político do país: "Quando lançamos o Acabou chorare, o Brasil estava vivendo aquela dificuldade toda, a ditadura chegando cada vez mais com o AI-5. Me parece que estamos tão atrasados quanto naquele tempo. Não é atoa que estamos vivendo esse Brasil louco”. Como esperado, o público puxou gritos de “Fora, Temer". Como forma de acalmar os ânimos, ele soltou: "Pode deixar que estamos aqui para levantar a autoestima do povo brasileiro".

Na mesma medida que Moreira falou de política, Baby do Brasil falou de religião. Apesar de continuar como uma entidade de mechas roxas, com vocais e presença de palco excelente, a artista não deixou de comentar sobre suas crenças recentes - ela se tornou pastora e fundou o Ministério do Espírito Santo de Deus em Nome do Senhor Jesus Cristo. No final do show, ela gritou “Glória a Deus, aleluia” e “Digo isso porque li nas escrituras sagradas: feliz é a nação que tem Deus como senhor”. Quando cantou Brasil pandeiro para encerrar o espetáculo, ela trocou o trecho “Eu fui à Penha / Fui pedir à padroeira para me ajudar” por “Fui pedir a Jesus Cristo para me ajudar”. Era como se Classic Hall tivesse se transformando, durante alguns segundos, em uma igreja neopentecostal.
Os comentários abaixo não representam a opinião do jornal Diario de Pernambuco; a responsabilidade é do autor da mensagem.
MAIS NOTÍCIAS DO CANAL