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Literatura Com mais de mil páginas, romance póstumo de Ariano Suassuna consolida o legado literário do escritor Escrito e reescrito ao longo de três décadas, Romance de Dom Pantero no Palco dos Pecadores é inovador em vários aspectos

Por: Fellipe Torres - Diario de Pernambuco

Publicado em: 11/12/2017 21:15 Atualizado em: 26/12/2017 16:57

Autor levou mais de 30 anos para finalizar o livro. Foto: Arquivo/Folhapress
Autor levou mais de 30 anos para finalizar o livro. Foto: Arquivo/Folhapress
 
Ciranda de personagens, espetáculo de circo, “castelo de cartas-espetaculosas”. Epopeia, ópera total, obra definitiva, poema-heroico. Mesmo para pesquisadores, familiares e discípulos, não há palavras muito precisas - ou há palavras em demasia - para classificar o livro póstumo do multiartista Ariano Suassuna (1927-2014). Ele próprio não foi econômico ao qualificá-lo no subtítulo da obra: “Autobiografia musical, dançarina, poética, teatral e vídeo-cinematográfica”.

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Recém-publicado pela Nova Fronteira, Romance de Dom Pantero no palco dos pecadores (1.012 páginas, R$ 189,90) é dividido em dois volumes: O jumento sedutor e O palhaço tetrafônico. Escrito, ilustrado e reescrito nos últimos 33 anos de vida do poeta paraibano, ostenta fôlego proustiano, engenhosidade linguística rosiana e estética armorial, com ilustrações inspiradas em arte rupestre.

Em uma narrativa marcada pela polifonia, o dramaturgo combina vozes de um sem-número de personagens, muitos deles inspirados em figuras reais. O principal deles é Pantero (ou Antonio Savreda), cuja ambição é conquistar a glória literária. Esse revezamento de criaturas, muitas delas já pertencentes ao universo de Suassuna, dá-se por meio de uma combinação de gêneros literários.

“É um formato bem peculiar. Ariano achou uma forma nova, inexplorada no mundo, mas usando elementos da cultura popular brasileira. O livro todo é um espetáculo de circo, com elementos do teatro e cartas transformadas em monólogos. De certa forma, até lembra algo de Auto da Compadecida, quando o palhaço anuncia a estrutura da peça”, compara o escritor Raimundo Carrero, desde muito seguidor de Ariano e autor de um dos textos de contracapa.

Para ele, Suassuna de fato se apoiou na própria vida para construir o romance. “É uma autobiografia no sentido de revisão da obra, revisão do seu espírito de escritor e dos temas da vida pessoal. Nela, vemos a consolidação da estética armorial e vemos os movimentos de cultura popular sendo levados para a literatura e para a cultura erudita”, completa. 

Tanto a demora para a publicação do romance quanto o apuro estético dos dois volumes foram frutos de exigências feitas por parte da família de Ariano. Até há pouco tempo com seus escritos divididos entre duas editoras, o dramaturgo passou a ter a obra completa sob a tutela da Nova Fronteira. Isso só foi possível graças a algumas contrapartidas: o processo de editoração de Romance de Dom Pantero foi feito inteiramente no Recife, por pessoas ligadas a Suassuna, e foi firmado o compromisso de publicar novas edições de toda a obra do dramaturgo, incluindo títulos inéditos.

 “Sempre conversamos muito sobre esse livro e sobre toda a obra dele. Quando aconteceu o ‘encantamento’ de papai, demorou esse tempo todo para a gente ter o juízo assentado e ter condições de trabalhar na publicação. Ele deixou tudo pronto, faltando somente as capas, organizadas por mim a partir de desenhos dele. Tudo foi feito por mim, Ricardo Gouveia de Melo e Carlos Newton Jr, então saiu exatamente como a gente queria, sem nenhuma mudança”, conta Dantas Suassuna.

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