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Televisão Black Mirror: Nova temporada é otimista, mas perturbadora e impactante Quarta fase da distopia chega à Netflix nesta sexta-feira com seis episódios

Por: Matheus Rangel

Publicado em: 28/12/2017 10:41 Atualizado em: 28/12/2017 10:42

Episódio Arkangel questiona limites para vigilância parental. Fotos: Netflix/Divulgação
Episódio Arkangel questiona limites para vigilância parental. Fotos: Netflix/Divulgação


O primeiro episódio de Black mirror, exibido em 2011, tinha como ponto de partida o sequestro de uma princesa britânica. A única exigência dos criminosos para libertar a amada e popular sucessora do trono era que o primeiro-ministro (Rory Kinnear) tivesse relações sexuais com um porco durante transmissão ao vivo em rede nacional. Perturbador e impactante, o capítulo explora até onde vai o comportamento humano face às possibilidades proporcionadas pelas próprias invenções. A premissa foi mantida nas temporadas seguintes e, agora, reforçada na quarta leva de episódios da série, que chega amanhã à Netflix, responsável também pela terceira temporada, após comprar os direitos do Channel 4.

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A primeira fase da antologia - formato no qual cada episódio ou temporada tem uma história independente - sob a batuta da plataforma de streaming chegou em outubro do ano passado e teve boa aceitação na continuação do bom trabalho do criador Charlie Brooker, que passeou por temas inerentes aos hábitos da sociedade moderna, como preconceito e obsessão por aceitação e "likes" nas redes sociais.

Na quarta fase, Brooker convidou bons diretores e alguns atores de peso para destacar que, independentemente da tecnologia disponível, é a ganância humana - ou a curiosidade, o egoísmo, a falta de empatia, etc - que se sobrepõe no balanço final. Por esse motivo, o escritor foca as relações interpessoais mais do que preconiza gadgets mirabolantes ou criações maquiavélicas, que, em Black mirror, servem apenas como base para o desenvolvimento das tramas. O conceito de consciência artificial, isto é, a capacidade de fazer o "upload" da mente de um indivíduo em um objeto ou outrem se repete em mais de um capítulo, mesmo já tendo sido abordado em histórias anteriores, como o especial de Natal, além dos episódios Volto já e San Junipero, vencedor de vários prêmios pelo enredo amoroso com elementos oitentistas.

Referências
Talvez em uma tentativa de repetir essa atmosfera romântica, foi criado Hang the DJ, que remete aos aplicativos de namoro como o Tinder, nos quais os usuários pulam de encontro em encontro até encontrarem alguém interessante o suficiente para uma relação duradoura. Também com a proposta de olhar para o passado, mesmo no futuro, USS Callister tem assumidas referências a Star trek (1966) e se passa, em parte, dentro de uma nave espacial nos moldes da série intergaláctica. Tudo é fruto da imaginação do criador de um jogo de realidade virtual.

Em USS Callister, Netflix faz referência ao universo de Star Trek. Foto: Netflix/Divulgação
Em USS Callister, Netflix faz referência ao universo de Star Trek. Foto: Netflix/Divulgação

No panorama geral, alguns pontos fracos ficam evidentes, como a preterição dos já tradicionais plot-twists surpreendentes, com a apresentação de desfechos mais óbvios. O episódio Black museum não sofre deste mal, mas se apoia em uma guinada de roteiro oriunda de uma narrativa pouco desenvolvida e antecedida por histórias que parecem estar presentes apenas para ocupar espaço. Retoma a ideia de uma sobrevida virtual pós-morte e aposta na crueldade do homem enquanto elemento-chave.

Apesar de ser um problema para os amantes das surpresas, a previsibilidade do final pode ser ignorada em alguns casos se for do interesse do espectador observar outros aspectos. Em Arkangel, Jodie Foster (O silêncio dos inocentes) faz um excelente trabalho de direção que, aliado ao bom roteiro de Charlie Brooker, conta bem a história de uma mulher (Rosemarie Dewitt) que passa a vigiar a filha com um dispositivo que a permite saber todos os passos da criança, até a adolescência. Não é difícil entrever o que acontece a seguir, com os experimentos inconsequentes da juventude, mas é possível afirmar que o interessante aqui são as reflexões incutidas nos meios - e não os fins.

A diversidade dos ambientes da série continua como um ponto alto: enquanto um capítulo é ambientado em um subúrbio dos Estados Unidos, outro se passa nas paisagens geladas da Islândia, como é o caso de Crocodile. O episódio é uma das incursões de Black mirror pelo suspense e tem como destaque mais as belas imagens, a direção de John Hillcoat (A estrada) e a atuação de Andrea Riseborough (Birdman) do que a história em si.

Metalhead é todo em preto e branco e cria clima de mistério. Foto: Netflix/Divulgação
Metalhead é todo em preto e branco e cria clima de mistério. Foto: Netflix/Divulgação


Talvez o mais divergente de toda a série, o capítulo Metalhead é um ponto fora da curva no quesito estética. Rodado em preto e branco, aparenta se passar em um mundo pós-apocalíptico nos quais pequenos robôs que lembram cachorros rastreiam e matam humanos. "Aparenta" porque nada é muito explicado aqui, incluindo as intenções da protagonista sem nome, vivida por Maxine Peake (A teoria de tudo), ao buscar uma caixa em um armazém abandonado. A ideia de solidão é salientada por cenários desérticos da Escócia, mostrados algumas vezes em belos planos abertos.

Confira a sinopse de cada episódio: 

USS Callister
História guiada pelas ações de um programador de um jogo de realidade virtual que reproduz o DNA de colegas de trabalho com quem mantém desafetos e prende suas versões digitais em um universo intergaláctico.


Arkangel
Dispositivo promete garantir a segurança das crianças ao relatar todas as informações em tempo real aos pais. Torna-se um problema quando uma mãe resolve retomar a vigilância da filha anos após desativar o produto.


Crocodile
Depois de encobrir uma morte durante a juventude, uma arquiteta bem-sucedida se torna assassina em série para manter o segredo. Ela é descoberta após se submeter a um aparelho que revive as memórias.


Hang the DJ
Um sistema tecnológico tem a premissa de encontrar o par ideal para cada usuário (algo semelhante ao aplicativo Tinder). Mas, antes, é preciso passar por uma série de relacionamentos com tempo pré-determinado e regras restritas. 


Metalhead
No episódio, pequenos robôs em formato de cachorro dominam uma terra pós-apocalíptica. Uma mulher precisa se desvencilhar de um deles em uma fuga permeada por vários desafios e barreiras.


Black museum
O dono de um museu criado para armazenar objetos relacionados a mortes e tragédias do passado tem o futuro mudado após a passagem de uma visitante surpresa, que vai ao local em época de baixa temporada. 


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