Cinema Não Devore Meu Coração traz história de amor com alegoria sobre relação entre Brasil e Paraguai Escrito e dirigido por Felipe Bragrança, roteirista de Praia do Futuro (2014), filme tem Cauã Reymond como produtor e ator

Por: Breno Pessoa

Publicado em: 23/11/2017 20:10 Atualizado em: 23/11/2017 19:20

O garoto Joca (Eduardo Macedo) é apaixonado por Basano (Adeli Benitez), indígena que mora na fronteira entre os dois países. Foto: Fênix Filmes/Divulgação
O garoto Joca (Eduardo Macedo) é apaixonado por Basano (Adeli Benitez), indígena que mora na fronteira entre os dois países. Foto: Fênix Filmes/Divulgação

Uma leitura desatenta da sinopse ou até o próprio título, Não devore meu coração, podem levar a pensar que o filme de Felipe Bragança, em cartaz a partir de hoje nos cinemas, se trata de uma história romântica. E, sim, há um caso de amor no meio da trama, mas não é disso que se trata exclusivamente o primeiro longa-metragem do realizador, responsável pelos roteiros de O céu de Suely (2006), Heleno (2011) e Praia do futuro (2014). Primeiro longa-metragem do diretor, a produção já passou este ano por Berlim e Sundance, além de ter aberto o Festival de Brasília.

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Produzido por Cauã Reymond, que também integra o elenco, que tem como protagonista o ator Eduardo Macedo, no papel de Joca, um garoto de 13 anos apaixonado por Basano (Adeli Benitez), menina paraguaia de ascendência indígena que, assim como ele mora na fronteira entre os dois países. Ambientada no Mato Grosso do Sul, a história é inspirada em contos de Joca Reiners Terron, em roteiro adaptado por Bragança.

Bem distante de um romance adolescente convencional, Não devore... está mais inclinado para o drama social, com toques de fábula. A sequência inicial de abertura traz a pintura A batalha do Avaí, de Pedro Américo (1843-1905), que representa um dos momentos mais importantes da Guerra do Paraguai, e traz um dado sobre o conflito: a morte de mais de 600 mil paraguaios no processo.

Embora as estimativas oficiais sejam mais modestas e apontem para cerca de 300 mil mortos, o exagero, intencional ou não, em relação ao número de vítimas reforça a animosidade ainda existente entre as duas nações. A antiga tensão fronteiriça ganha corpo e contemporaneidade no filme a partir dos frequentes embates entre motoqueiros de ambos os lados que disputam pegas nas estradas. Entre os brasileiros está Fernando (Reymond), irmão de Joca.

Ainda que distintos, os núcleos acabam circundando, de forma mais ou menos alegórica o antigo embate entre brancos e populações indígenas e talvez a impossibilidade de reconciliação entre esses dois lados. Tal como as investidas amorosas do menino Joca sobre a pequena e arisca Basano, a convivência pacífica também prece fadada ao fracasso, seja pelas inevitáveis marcas do passado ou por pura resistência.

[Três perguntas // Cauã Reymond, ator e produtor

Você tem cada vez mais abraçado papéis diversos, que fogem do padrão visto na TV. Sua carreira no cinema tem sido pautada por essa busca?

Tenho buscado cineastas e projetos em que possa subverter a lógica dos personagens que trabalho recorrentemente nas novelas, algo novo, um lugar diferente. As séries também têm me proporcionado isso.

O que o atraiu em particular a esse projeto, ao ponto de embarcar como produtor?

A linguagem do Felipe (Bragança), ele é um cineasta que filma muito bem esse lugar de fábula. A questão da prosódia, da geografia, das pessoas. É um universo completamente diferente da metrópole, em que circulo mais como ator e como cidadão. Essa ambientação acaba virando um personagem e dando um tom diferente.

Não devore foge ao padrão do cinema comercial. Como ator e produtor, você se preocupa com a questão da visibilidade do projeto?

Não tenho preocupação com bilheteria, pelo contrário. Eu sei que o filme se comunica com um nicho específico. Eu gosto de personagens que me propõem um lugar diferente. Eu sou consumidor de cinema de arte ou, como a gente brinca, cinema de resistência. E acabo me envolvendo cada vez mais no lugar de produção, eu nenhum momento eu faço por grana.


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