Música

Grupo Attooxxa une pagodão baiano com música eletrônica em show no Recife

'Nossa intenção é ser pop. Colocamos o mundo na Bahia e a Bahia no mundo', diz Rafa Dias, DJ e produtor da banda

Publicado em: 30/11/2017 20:01 | Atualizado em: 18/05/2020 18:52

Grupo é composto por Rafa Dias (DJ), Oz (vocal e baterista), Raoni (vocal) e Alef Carvalho (guitarra). (Foto: Attooxxa/Divulgação)
Grupo é composto por Rafa Dias (DJ), Oz (vocal e baterista), Raoni (vocal) e Alef Carvalho (guitarra). (Foto: Attooxxa/Divulgação)

Os anos 2010 trouxeram consigo a consolidação do sertanejo e do funk como os principais ritmos do mainstream nacional, dando ao cenário musical baiano um certo descanso dos holofotes após duas décadas de êxito da axé music. Nos últimos anos, no entanto, a Bahia passou a assistir a um novo momento musical, menos comercial, porém mais criativo e experimental. Um dos expoentes deste movimento é o projeto ÀTTØØXXÁ, que tem ganhado destaque por explorar a diversidade percussiva da música baiana com os elementos eletrônicos que dominam as pistas de dança pelo mundo.

Este singular "pagodão eletrônico" é a atração principal da festa TudoJunto, que será realizada hoje, a partir das 20h, no Boca da Mata (Praça Farias Neves, s/n,  Dois Irmãos). MC Troia e seis DJs locais completam o line up da festa. Os ingressos estão sendo vendidos por R$ 30 pelo site Sympla.

ÀTTØØXXÁ é encabeçado pelo DJ e produtor musical Rafa Dias, que iniciou o trabalho sozinho há três anos. Com a entrada dos integrantes Oz (vocal e baterista), Raoni (vocal) e Wallace Carvalho (guitarra), o projeto tomou forma de banda e já lançou dois álbuns, o Ã F*ODA P*ORRA e o Blvckbvng. Para produzir o estilo cosmopolita, o grupo se inspira em nomes como Parangolé, Fantasmão, Major Lazer e Skrillex. “Nossa intenção é ser pop. Colocamos o mundo na Bahia e a Bahia no mundo”, conta Rafa. Assim como foi o Manguebeat em Pernambuco, esse encontro do regional com a cultura pop internacional é a principal marca da atual reinvenção da música baiana, que tem BaianaSystem como o representante mais popular até então.

Com o objetivo de alcançar cada vez mais as massas, o grupo lançou em setembro uma colaboração com Psirico, intitulada Popa da bunda (Elas gostam). “Salvador inteiro está escutando a música, o resultado está sendo ótimo. Até nomes fora do nosso nicho, como Wesley Safadão e o Aviões estão cantando nos shows”, comemora o artista. Além do hit, a apresentação na TudoJunto irá contar com algumas novidades. “O repertório vai ter algumas coisas novas que estamos produzindo, incluindo uma canção do nosso projeto de verão. Já estamos começando a tocar para dar uma chacoalhada”, adianta o músico.

ENTREVISTA / Rafa Dias, produtor do ÀTTØØXXÁ

De onde vem o nome do grupo e a tipografia usada nas letras?
Hoje moro em Salvador, mas nasci em Paulo Afonso, uma cidade no extremo norte da Bahia. Lá o termo “atoxa” é usado para se referir a intensidade. É comum você ir em um paredão e gritarem ‘atoxa aí, aumenta o volume!’. A escrita com letras repetidas vem da minha crença no ying yang, que representa a dualidade do bem e do mal. Já a tipografia remete a um visual indígena, pois sou descendente de índios.

Como você enxerga esse novo momento da música baiana da qual a banda faz parte?
Vejo a Bahia como um local de vanguarda na música nacional, de onde veio o samba, a tropicália e até a bossa nova. Para mim, o último momento inovador até então tinha sido o Timbalada nos anos 1990. De lá até 2010 houve uma produção muito pensada no comércio, mas um tanto descartável, sem muita intenção de dialogar com o mundo. Em 2008, tivemos uma ponta de lança nesse diálogo mais internacional com o Baiana System. Como todo processo de querer inovar, tudo pareceu meio caótico no começo, ninguém entendia muito o Baiana, assim como não entendiam a gente. Hoje a galera já entendeu o conceito; colocamos a Bahia no mundo e o mundo na Bahia. Acho o atual movimento muito positivo, amadurecemos junto com o público no sentido de reinventar essa forma de enxergar a música popular.

O grupo possui um público bastante diverso. Como lidam com isso?
Aqui na Bahia existe um nicho que cresceu com um discurso um tanto retrógrado, vendo os homens tratando as mulheres de forma errada, sem essa noção de que as mulheres são tão livres quanto os homens. Existe uma galera do pagode, por exemplo, bem conhecida por por objetificar a mulher e fazer piadas com gays. Então faz parte do ideal ter essa intenção de estar aberto para todo mundo e dialogar. Nos nossos shows vemos rockeiros, nerds, o pessoal LGBT, não procuramos restringir e achamos ótimo. O mundo mudou e acompanhamos essa evolução.

Ouça Popa da Bunda (Elas Gostam):

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