Janela de Cinema Filme nacional com lobisomem extrapola o gênero terror e fala sobre resistência e afeto As Boas Maneiras, longa-metragem de Juliana Rojas e Marco Dutra ainda não tem data de estreia

Por: Breno Pessoa

Publicado em: 06/11/2017 13:01 Atualizado em: 06/11/2017 13:16


A presença de um lobisomem em As boas maneiras leva a uma classificação quase automática do filme como sendo terror. Usar o gênero para definir o novo trabalho de Juliana Rojas e Marco Dutra não é de todo impreciso, mas não sintetiza bem tudo que a produção abarca. Exibido no domingo durante o X Janela Internacional de Cinema, o título tem nova sessão nesta segunda-feira, às 15h40, no Cinema do Museu (Avenida Dezessete de Agosto, 2187, Casa Forte). Os ingressos custam R$ 6.

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Disputando a mostra competitiva de longas do Janela, As boas maneiras foi premiado recentemente no Festival do Rio nas categorias melhor longa de ficção, atriz coadjuvante (Marjorie Estiano) e fotografia (Rui Poças). Antes, ganhou também o prêmio do júri no Festival de Locarno, na Suíça. A produção é a segunda dirigida em conjunto pela dupla, responsável por Trabalhar cansa (2011). Individualmente, dirigiram, ainda, Sinfonia da necrópole (Rojas), Quando eu era vivo e O silêncio do céu (ambos por Dutra).

Ana (Marjorie Estiano) mãe solteira grávida, moradora de uma área nobre de São Paulo, contrata Clara (Isabél Zuaa) como faz-tudo para auxiliar nas tarefas domésticas durante a gestação e, futuramente, servir de babá para a criança. Sem experiência no trabalho, Clara conquista a empregadora por conta dos conhecimentos em enfermagem, adquiridos em um curso que não chegou a concluir. Recorrendo ao humor para mostrar o absurdo das situações, a dupla aborda, de maneira certeira, temas espinhosos como segregação entre brancos e negros, ricos e pobres etc.

Representadas na dinâmica entre Ana e Clara, essas dualidades tomam corpo na maneira serviçal que o trabalho é imposto: a babá é obrigada a dormir na casa da patroa, assume todo tipo de tarefas, de pintar o quarto do bebê a carregar compras no shopping etc. O passar do tempo torna a interação entre a patroa branca e a empregada negra uma relação afetuosa e quase simbiótica, conduzida muito bem pelas duas atrizes.

Sim, o lobisomem do filme está no ventre de Ana e o seu nascimento marca uma divisão muito nítida na história. São duas narrativas bem fechadas, uma antes e outra após o parto. A presença do bebê lupino em tela cativa e, em igual medida, impressiona. Os efeitos práticos e digitais estão impecáveis e ganham maior peso ao longo da projeção, quando a criança amaldiçoada, interpretada por Miguel Lobo, aparece mais crescida. Quem também passa por uma transformação na segunda parte da trama é personagem de Clara, um grande trabalho de atuação de Zuaa, impecável como figura materna. O ator mirim honra o sobrenome e se sai muito bem como o pequeno lobisomem.

Tecnicamente bem realizado e competente em suas propostas, As boas maneiras transcende a ideia de filme de gênero e dosa muito bem o conteúdo social. Uma obra cheia de coração, em que o afeto se sobrepõe ao horror.

Censura
Na primeira exibição no Janela, os realizadores foram informados pelo realizador do festival, o cineasta Kleber Mendonça Filho, de que As boas maneiras teria recebido classificação indicativa de 18 anos, segundo informação repassada para a organização do evento. "Vamos recorrer. É muito hipócrita isso. Para mim, é um filme sobre amor e resistência. De personagens resistindo, à sua maneira, à margem de uma sociedade que não aceita eles", afirmou na ocasião Juliana Rojas, que esperava, no máximo, censura de 14 anos, por conta de uma cena de sexo presente no longa.

Para efeito de comparação, o terror norte-americano It, exibido recentemente nos cinemas, recebeu censura 16 anos no Brasil, produção com cenas bastante viscerais de violência, inclusive em personagens crianças. Apesar de algumas sequências um pouco mais explícitas, o conteúdo é bastante ameno em relação à média vista em produções do gênero.

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