Diario de Pernambuco
Busca
Cinema Filme francês A Trama investiga raízes da intolerância entre a juventude Produção é dirigida por Laurent Cantet, mais conhecido por Entre os Muros da Escola (2008)

Por: Breno Pessoa

Publicado em: 23/11/2017 14:00 Atualizado em: 23/11/2017 09:31

À exceção de Marina Foïs, elenco é formado por atores não profissionais. Foto: Esfera Cultural/Divulgação
À exceção de Marina Foïs, elenco é formado por atores não profissionais. Foto: Esfera Cultural/Divulgação

Entre os principais alvos de atentados terroristas nos últimos anos e cenário de uma grande crise de imigração, a França tem visto crescer movimentos racistas e xenófobos. Esse complexo e delicado cenário sociopolítico serve de pano de fundo para A trama, novo trabalho de Laurent Cantet (Entre os muros da escola), em exibição a partir de hoje nos cinemas.

Quer receber notícias sobre cultura via WhatsApp? Mande uma mensagem com seu nome para (81) 99113-8273 e se cadastre 

O atual mal-estar que atinge o país e, aliás, outras tantas nações, dentro e fora da Europa, é abordado de forma indireta no filme a partir do jovem Antoine (Matthieu Lucci), integrante de uma oficina literária comandada pela escritora Olivia (Marina Foïs). Influenciado pela ressurgente direita extremista, o rapaz branco tem manifestações de racismo e agressividade que chegam a assustar os colegas de classe.

Quase que totalmente ambientado na sala de aula, o filme acompanha esse grupo envolvido na tarefa de produzir, em conjunto, um romance policial em sintonia com o contexto social e histórico de La Ciotat, região onde reside o grupo. Criativo e talentoso, Antoine chama a atenção da escritora, que busca entender melhor o comportamento problemático do garoto, responsável por várias discussões entre os participantes da oficina, principalmente por conta do teor violento da narrativa que ele almeja para a trama colaborativa. A convivência pouco harmoniosa entre estudantes, próximos pelo fato de serem essencialmente de classes mais baixas mas étnica e culturalmente diversos, funciona como um microcosmo da atual França.

Sem ser necessariamente condescendente, mas trazendo certa isenção, Cantet desenvolve no filme um olhar clínico sobre uma juventude que é resultado direto desse caldeirão de problemas socioeconômicos dos tempos atuais. "Não quero julgar, é importante aceitar que as pessoas mais jovens leem o mundo de maneiras diferentes", destacou o cineasta em entrevista recente, durante sua passagem pelo Brasil para divulgação de A trama, exibido no Recife no início do mês, no Janela Internacional de Cinema. A produção começou a ser desenvolvida pouco tempo após o atentado ao escritório do jornal humorístico francês Charlie Hebdo, em janeiro de 2015, acontecimento que, segundo o cineasta, o deixou "bastante deprimido".

Em certos aspectos similar à sua obra de maior sucesso, Entre os muros da escola (2008), premiado com a Palma de Ouro em Cannes, A trama se diferencia principalmente pelos diferentes contextos. "Existem conexões entre os dois filmes, são retratos de uma juventude, mas o mundo mudou bastante", enfatiza Cantet, citando novas expressões da violência e tecnologias que influenciam mudanças na maneira como os jovens enxergam a sociedade e buscam sentido para suas vidas. "Se não fomos capazes de fazer uma confrontação sem julgamentos, será difícil", reforça o diretor francês, que, apesar do complexo cenário atual, se diz otimista com o futuro.

Acompanhe o Viver no Facebook:



MAIS NOTÍCIAS DO CANAL