Estreia Janela Internacional: Drama real vivido por viajante brasileiro na África vira filme Produção é exibida pela primeira vez no Recife no festival de cinema e entra em cartaz no dia 16 de novembro

Por: Breno Pessoa

Publicado em: 04/11/2017 17:14 Atualizado em: 04/11/2017 17:40

Parte do figurino utilizado pelo protagonista é composto de roupas utilizadas por Gabriel. Foto: Pagu Pictures/Divulgação
Parte do figurino utilizado pelo protagonista é composto de roupas utilizadas por Gabriel. Foto: Pagu Pictures/Divulgação

O economista carioca Gabriel Buchmann iniciou uma expedição por 26 países da África e da Ásia para realizar pesquisa de campo sobre distribuição de renda. Próximo à data de retorno, em julho de 2009, ele desapareceu, e o corpo foi encontrado quase 20 dias após o sumiço. O brasileiro morreu de frio enquanto fazia uma trilha no Monte Mulanje, no Malauí, no continente africano. A trágica jornada é recontada no filme Gabriel e a montanha, que estreia neste mês nos cinemas. Dirigido por Fellipe Barbosa, o longa tem exibição neste sábado, às 20h, no Cinema São Luiz (Rua da Aurora, 175), dentro da programação do Janela Internacional de Cinema do Recife. Os ingressos custam R$ 6.

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Vencedor do prêmio Revelação na Semana da Crítica em Cannes deste ano, Gabriel e a montanha foi reconhecido também no festival com o prêmio da Fundação Gan, de aporte para distribuição, e tem se saído bem no país, com quase 80 mil espectadores até agora. Conquistou, ainda, prêmio da crítica de Melhor Filme Nacional na Mostra Internacional de Cinema de São Paulo. O longa é o segundo da carreira de Fellipe Barbosa, que lançou, em 2014, Casa grande, também exibido no Janela.

Amigo de infância de Gabriel, Fellipe havia perdido o contato à época da expedição e decidiu, com o filme, refazer os passos de Buchman. Cineasta e equipe circularam por Quênia, Zâmbia, Tanzânia e Malauí, utilizando como locações os pontos visitados pelo economista, interpretado no longa por João Pedro Zappa. "Foi uma espécie de reencontro, uma maneira de encontrá-lo", diz o cineasta sobre a realização do projeto. "Também tem a ver com a minha relação com África, porque eu estive na Uganda dois anos antes do Gabriel, em 2007", diz o realizador, que esteve no país para participar de um curso de montagem para cinema. "E, como Gabriel, eu não queria voltar (para o Brasil), mudei a passagem (de volta) diversas vezes", acrescenta. "Quando eu li um e-mail para a família que ele mandou de Uganda, fiquei bastante emocionado. Reconheci a felicidade naquilo que ele falava", lembra.

Resgatar a memória do amigo não foi a única motivação para realizar o filme. Fellipe Barbosa também pretendia falar sobre lugares que costumam ser enxergados com grande exotismo. "Quando Gabriel desapareceu, alguns acharam que ele tinha sido assassinado. Isso me deixou atônito: por que as pessoas chegavam a essa conclusão? Era sinal de desinformação, de ignorância, de preconceito", conta o diretor, que enxerga no filme a oportunidade de mostrar uma "cartografia humana diferente da que estamos acostumados a ver".

O roteiro foi elaborado com o auxílio de correspondências trocadas entre Gabriel, suas mãe e namorada, além de contar com pesquisa junto a amigos e pessoas que entraram em contato com ele ao longo da viagem. "Difícil foi não tê-lo para contar a história dele", ressalta Barbosa. "Com a família, peguei o lado 'sagrado' dele. Com os amigos, o 'mundano': as contradições, as imperfeições, as sombras", relata Zappa sobre a pesquisa para o papel. "A melhor homenagem que a gente podia fazer era não romantizar o personagem", acrescenta o ator.
Cineasta e equipe circularam por quatro países e gravaram em locais visitados pelo brasileiro. Foto: Pagu Pictures/Divulgação
Cineasta e equipe circularam por quatro países e gravaram em locais visitados pelo brasileiro. Foto: Pagu Pictures/Divulgação

Caroline Abras, que interpreta Cristina Reis, a namorada de Gabriel, diz que para evitar "contaminações" na hora de compor o personagem, não entrou em contato com outras pessoas próximas além da própria Cristina. "Eu poderia ter conhecido a família do Gabriel e os amigos, mas preferi não carregar a impressão deles em relação a ela", conta.

Para manter fidelidade ao olhar de Gabriel, a produção do filme refez alguns dos trajetos do economista. O protagonista, João Pedro Zappa, escalou as montanhas visitadas por Buchmann; até mesmo a subida ao Kilimanjaro, o ponto mais alto da África, foi feita em 18 dias de caminhada e situações extremas para toda a equipe de produção. Outro ponto que emprega senso de realismo à ficção é o fato de muitos dos personagens vistos no filme serem pessoas que entraram em contato com o brasileiro e estão representando a si mesmos, reencenando os momentos que tiveram com Gabriel.

Boa parte do figurino usado pelo protagonista foi composto de roupas utilizadas por Gabriel. Uma peça que a princípio não pôde ser aproveitada foi o par de luvas de escalada, já que o corpo foi encontrado com apenas uma delas, que estava com a produção. Já nos últimos dias de gravações, a equipe perdeu a réplica das luvas que seriam utilizadas pelo ator. O percalço rendeu um dos momentos mais marcantes da produção. Zappa recorda que o diretor de arte em exercício no set, Pedro Minas, avaliava o espaço das derradeiras filmagens, a área onde o corpo foi localizado, quando foi surpreendido. "Ele (Pedro) enterrou a mão na terra para se conectar com aquela locação. No que ele enterrou, sentiu uma coisa e, quando tirou, era a luva do Gabriel, a mão que tinha ficado para trás, exatamente idêntica à que a gente tinha. Ele passou pela gente dizendo 'olha, Gabriel veio se despedir da gente'".
Registro original de viagem de Gabriel Buchmann. Foto: Acervo pessoal/Divulgação
Registro original de viagem de Gabriel Buchmann. Foto: Acervo pessoal/Divulgação

+ Livro
Além do filme, a história do viajante foi resgatada no livro Gabriel, as montanhas e o mundo (Autografia, 266 páginas, 59,90), escrito pela mãe dele, Fátima Chaves, e a jornalista Alícia Uchôa. A obra abrange não apenas o período da última viagem, mas também experiências do brasileiro por Londres, onde tomou sopão com moradores de rua, e a passagem pela Amazônia, ocasião em que participou de rituais xamânicos. O volume traz, ainda, textos do próprio Gabriel Buchmann e fotos em diversas paisagens.

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