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Longra-metragem Documentário pernambucano investiga dia a dia de sindicato de trabalhadores rurais Exibido no Janela Internacional de Cinema, Modo de Produção, de Dea Ferraz mostra sintonia com momento atual do país

Por: Breno Pessoa

Publicado em: 05/11/2017 19:37 Atualizado em: 05/11/2017 19:57

Produção é resultado de três semanas de gravação no sindicato. Foto: Beto Figueiroa/Divulgação
Produção é resultado de três semanas de gravação no sindicato. Foto: Beto Figueiroa/Divulgação

No próximo dia 11 de novembro, entram em vigor as novas regras trabalhistas estabelecidas pela Lei n.º 13.467 que, entre as mudanças, sobrepõe as negociações entre patrões e empregados à CLT em situações específicas, como fracionamento de férias ou jornada de trabalho. Enquanto as novidades na legislação acenam para maior desequilíbrio de forças no futuro, o filme Modo de produção, exibido no X Janela Internacional de Cinema do Recife, faz um importante lembrete: esse descompasso não é fato novo.

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Dirigido pela recifense Dea Ferraz (Câmara de espelhos), o documentário acompanha o dia a dia do Sindicato dos Trabalhadores Rurais de Ipojuca, após o ciclo de grandes investimentos na região, em decorrência do Complexo Industrial Portuário de Suape. A produção estreou nacionalmente em janeiro, na Mostra de Cinema de Tiradentes, e percorreu outros festivais nacionais, como Brasília e Olhar de Cinema.

Com o mínimo de interferência possível, a cineasta não recorre a entrevistas diretas e registra, essencialmente, os atendimentos e consultas de canavieiros a advogados do sindicato, para relatar queixas das mais variadas, de condições insalubres de trabalho ao descumprimento de pagamentos etc. Embora algumas situações e relatos sejam sobre diferentes questões, a impressão geral transmitida é de uniformidade e convergência sobre um ponto: a ineficiência do Estado na atenção a esses trabalhadores.

Ainda que o filme tenha sido gravado ao longo de três semanas no ano de 2015, a produção mostra grande atualidade. "O que acontece é que nossa realidade atual mudou e o material ganhou um novo sentido. A gente começa a entender que o que era ruim vai ficar pior. E isso traz o filme para se conectar com o hoje", afirma Dea Ferraz. "A gente vive um momento político em que direitos do trabalho, previdência, estão sendo postos em xeque. E o filme fala disso o tempo todo, dessa vulnerabilidade dos trabalhadores", acrescenta.


A diretora inicialmente pensava em se deter ao desenvolvimento socioeconômico da região de Suape e de Pernambuco, no todo, a partir da chegada de empreendimentos como a Transnordestina, a transposição do Rio São Francisco, a Refinaria Abreu e Lima, entre outros. Durante as pesquisas, uma visita ao sindicato mudou o rumo da produção. "Senti que por ali passava essa massa de trabalhadores à margem desse sistema. Fiquei muito impactada", relembra.

A princípio pensado como curta-metragem, Modo de produção entrou em desenvolvimento em 2013, quando o argumento para o filme recebeu o prêmio Rucker Vieira. Como o volume e dimensão do material captado excederam as expectativas iniciais, o projeto acabou buscando apoio do Fundo Pernambucano de Incentivo à Cultura (Funcultura), que viabilizou recursos para um longa.

"Existe algo ali (no sidicato) para além de Suape, que tem a ver com o sistema, com o capital. Aquelas pessoas estão eternamente à mercê de um sistema que decide por elas, que faz elas irem e virem de um lugar a outro" afirma Dea Ferraz. "Suape é uma miragem, um fantasma é algo que vinha e não veio. Ou se veio, já passou, não existe", pontua.

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