Novela Surra em Ivan em A Força do Querer é retrato da intolerância sexual no país Espancamento sensibiliza família, e a mãe do personagem o chama de 'filho' pela primeira vez

Por: Tiago Barbosa

Publicado em: 10/10/2017 20:53 Atualizado em: 10/10/2017 21:29

Marcas da agressão pelo corpo em Ivan. Foto: Globo/Divulgação
Marcas da agressão pelo corpo em Ivan. Foto: Globo/Divulgação


Olhos roxos, marcas de vermelhidão no rosto, braço apoiado em uma tipoia. O impacto da violência praticada contra a personagem da atriz Carol Duarte, na novela A força do querer (registrada pela imagem comovente disponibilizada pela Globo), é um retrato da intolerância sexual flagrante no Brasil. Vítima de um ataque de transfobia, Ivan foi espancado quando se dirigia para um show - rotina recorrente em um país com índices inaceitáveis de agressões e mortes de pessoas LGBTQ.

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"Quando eu fiquei sabendo que (o aborto) ia ser pelo espancamento, fiquei em alguma medida triste, porque isso acontece. Isso faz parte também desse mundo: pessoas são mortas por serem trans. É importante aparecer na novela também. Já teve cenas em que o Ivan de alguma forma foi agredido na rua, verbalmente ou quase fisicamente, então já teve uma prévia. Uma pessoa trans me disse uma coisa terrível: existe estupro corretivo. Isso é muito pesado. Acho que é interessante a Gloria colocar esse tipo de violência, que acontece nas ruas todos os dias", afirmou Carol em uma entrevista ao Viver.

A violência dramatúrgica apenas reflete cenas cruéis registradas diariamente em vídeos espalhados pelas redes sociais. Ataques verbais e físicos se tornaram comuns e são incentivados por uma onda conservadora manifestada, também, em protestos contra exposições e performances artísticas nas quais a sexualidade livre colocada aos olhos do público é rechaçada.

Recentemente, a travesti Dandara dos Santos foi morta a pancadas, pedradas e tiros no Ceará por um grupo de homens sem qualquer remorso ou apreço pela vida humana. O vídeo circulou pelas internet e, não raro, recebeu apoios declarados em caixas de comentários, espaço transformado em esgoto mental pela abundância de comentários transfóbicos.

O espancamento cênico de Ivan - embora tenha provocado a perda do filho - será um momento de virada na trama de Glória Perez. A dor une a família. A mãe, Joyce (Maria Fernanda Cândido), fica sensibilizada com a agressão e o chama - ainda no hospital onde ele se recupera - de filho pela primeira vez. Motivado, o personagem toca o plano de dar sequência à transição de gênero: ele removerá os seios e decidirá procurar emprego para arcar com o tratamento. O procedimento hospitalar, no entanto, deve ser custeado pelos pais depois de Ivan manifestar interesse de pagá-lo.

Pelo menos na dramaturgia, a vida vence.

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