Música Pernambucana Sofia Freire mergulha no universo feminino em disco feito com prêmio nacional Artista aborda reflexões e sentimentos do universo da mulher e mistura erudito com pop eletrônico

Por: Marina Simões - Diario de Pernambuco

Publicado em: 26/10/2017 08:00 Atualizado em: 26/10/2017 09:14

Disco traz poemas de Micheliny Verunschk, Mariana Teixeira, Piera Schnaider, Luna Vitrolira e Clarice Freire musicados por Sofia. Foto: Paulo Paiva / DP
Disco traz poemas de Micheliny Verunschk, Mariana Teixeira, Piera Schnaider, Luna Vitrolira e Clarice Freire musicados por Sofia. Foto: Paulo Paiva / DP


Piano, flauta e percussão combinados a beats, sintetizadores e camadas vocais dão a mistura para a arte de Sofia Freire, a pianista, cantora e compositora pernambucana que lança hoje o segundo disco, Romã, já disponível em todas as plataformas digitais. O projeto, que sai com apoio do Natura Musical, surgiu do caderno de poemas preferidos de Sofia, que musicou poemas de cinco autoras e os transformou em um "pop eletrônico".

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Com textos em primeira pessoa, Romã é construído em cima de narrativa de reflexões e sentimentos do universo da mulher em nove poemas. As autoras escolhidas foram Micheliny Verunschk, Mariana Teixeira, Piera Schnaider, Luna Vitrolira e a irmã de Sofia, a escritora Clarice Freire (autora do projeto Pó de lua). 

A identidade visual foi construída com trechos do filme Viagem à lua (George Meliés), uma performance da coreografa alemã Mary Wigman, considerada uma das fundadoras da dança expressionista e imagens da própria Sofia. "Em Garimpo (2015), vivi uma fase de experimentação, dos 15 aos 18 anos. Estava tentando me encontrar e descobrir meu som. Agora tenho mais consciência das minhas capacidades e do que posso e quero fazer", compara a artista de 20 anos.

O trabalho foi produzido por Sofia, Homero Basílio e Chiquinho Moreira, no mesmo período em que a artista finalizou o curso de produção fonográfica. "O meu trabalho de concusão de curso foi exatamente sobre o processo criativo do disco, desde a fase de composição e pré-produção. Foi intenso", explica. O sucessor de Garimpo propõe uma desconstrução a partir de provocações e refrões inquietantes das faixas Mutante, Van Gogh, 1h00 (A boca se cala), Jardim secreto, Canção da bruxa, Matrioska e Auroras flamboyants. Em Meu bordado e Confronto, ela também deixa evidentes temas como violência e liberdade.

As mensagens e a música em camadas contrastam com a voz doce da pernambucana que vira base para as faixas. A presença da mulher é outra característica de Romã, que além das poetas teve outras figuras femininas envolvidas no projeto, como Elis Cardoso (design), Melina Hickson (produção), Eduarda Portela (fotógrafa), Júlia Falcão (figurinista) e Ingrid Guerra (flauta).

"Tentei colocar a presença feminina na produção", afirma Sofia Freire. Foto: Paulo Paiva / DP
"Tentei colocar a presença feminina na produção", afirma Sofia Freire. Foto: Paulo Paiva / DP
Entrevista // Sofia Freire

Como se deu a narrativa de Romã?
A narradora que, para mim, é uma mulher, narra um processo de redescoberta enquanto pessoa e, principalmente, enquanto mulher. Ela vai abordando vários temas. Ela olha para fora e percebe algo acontecendo, as violências e o quanto a sociedade aprisiona e inicia essa reflexão. No segundo momento, ela finalmente vai mergulhar para dentro de si e ser quem verdadeiramente é. No decorrer das faixas, ela faz uma desconstrução em relação a ela mesma, a outras mulheres, até o momento final, em que se liberta.

Você mistura o erudito e eletrônico, que dialogam com a voz. Como criou a sonoridade?
A brincadeira com as vozes surgiu mais como uma necessidade, quando comecei a produzir as músicas em casa e não tinha instrumentos. Comecei a cantar para criar as bases e vi que poderia usar minha voz não só acompanhando a melodia, mas para ficar por trás na música. Talvez essa seja minha principal característica.

A mulher está em evidência nesse trabalho. Que mensagem quer passar?
Sou feminista, assim como minha mãe e minha irmã, mas o disco não tem o apelo panfletário. Ele traz um significado ao falar desse redescobrimento do feminino e dar voz a essas cinco autoras. Tentei colocar a presença feminina na produção. Quando comecei a trabalhar com música, percebi a ausência das mulheres, sem destaque na produção e técnica e até na literatura. Tentei trazer elas para junto, pois juntas fazemos a força. 

Assista à entrevista com Sofia Freire:


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