Cinema Documentário propõe reflexão sobre como elogios na infância reforçam estereótipos Com gravações em São Paulo, Curitiba e no Recife, Repense o Elogio aborda temas como desigualdade de gênero e racismo a partir do poder das palavras

Por: Fernanda Guerra - Diario de Pernambuco

Publicado em: 23/10/2017 12:33 Atualizado em: 23/10/2017 17:48

Repense o Elogio retrata a força das palavras em desconstruir ou reforçar estereótipos. Foto: Avon/Divulgação
Repense o Elogio retrata a força das palavras em desconstruir ou reforçar estereótipos. Foto: Avon/Divulgação

 São Paulo - As palavras podem doer como um soco, aprisionar ou emancipar. Elas têm o poder de reforçar ou desconstruir estereótipos, de contribuir ou não para a autoestima de cada um e de disseminar - ou quebrar - questões sociais, como machismo e racismo. A reflexão é o ponto de partida do documentário Repense o elogio, dirigido por Estela Renner, lançado pela Avon e disponível de graça no site www.repenseoelogio.com.br. Com depoimentos de famílias, crianças e adolescentes, o filme discute como a força das palavras ditas na infância pode influenciar a vida adulta.

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Com gravações em São Paulo, Curitiba e Recife, o registro aprofunda o debate sobre desigualdade de gênero já projetada na infância, ainda que inconscientemente. O documentário parte de uma pesquisa, na qual mil pessoas foram entrevistadas. O resultado: as meninas são mais elogiadas pela aparência - com termos como “linda” e “princesa” entre os mais recorrentes - enquanto os meninos são exaltados pela força, coragem e inteligência. “Isso é um problema. O filme propõe refletir sobre esse desequilíbrio. A palavra está ligada a comportamento. Ser princesa não é só um elogio. Vem dentro de um contexto”, disse a diretora. Os depoimentos mostram como tais características podem ser reducionistas e definir a personalidade alheia.

Das 20 pessoas entrevistadas no estado, o documentário conta a história da família de Sophia, menina especial que tem três irmãos. "Ela tem um relacionamento incrível com a família e no colégio. É uma criança que foi totalmente aceita pela comunidade e fez com que os irmãos ficassem mais amorosos, carinhosos", destaca a diretora. O trecho é um dos mais emocionantes do documentário, com destaque para a relação entre duas das quatro filhas (Fernanda e Sophia). “Quando Fernanda elogia Sophia, a palavra ‘especial’ é a última que aparece”, exemplifica Estela.

A diretora paulista vem adotando um perfil engajado de cinema, com produções como O começo da vida e Muito além do peso na filmografia. Para ela, Repense o elogio também representa a diversidade de regiões, gerações e núcleos - famílias, moradores de rua, estudantes de colégio e universidade estão entre os entrevistados. No Recife, as gravações ocorreram no Bairro do Recife e em Boa Viagem.



A questão de gênero permeia os 46 minutos de documentário, a maior parte sob a ótica de jovens e crianças. “Eu me surpreendi com os depoimentos dos jovens. As crianças não têm isso na cabeça. Elas se espantam com a violência, e não com um menino querendo fazer balé”, compara Estela. O preconceito também é um ponto abordado. “Existem outras formas de elogios além de linda. Sobre a questão racial, a menina negra está começando a ser chamada de ‘linda’ agora, com muita resistência e luta. A família pode estar falando que ela é linda, mas a sociedade sempre vai dizer que ela tem que seguir um padrão”, ressalta a rapper MC Soffia, 15, entrevistada.

Repense o elogio alarma para um desconhecimento quanto à palavra feminismo. Mesmo com argumentos equivalentes à bandeira de igualdade de gênero, mulheres e homens não se consideraram feministas. “A confusão com a palavra feminismo é generalizada no Brasil. As pessoas acham que significa ‘ódio aos homens’, revolta. Demonizaram. Está na hora de a gente acolher essa palavra”, defende a diretora. Com variedade de depoimentos sinceros e consistentes, o filme mostra como as palavras são expressão do mundo e podem servir como instrumentos de mudança cultural.

*A repórter viajou a convite da Avon

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