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Rapper se inspira em escravo para cantar a liberdade no Coquetel Molotov

O show de Rincon Sapiência no festival vai contar com a participação da pernambucana Lia de Itamaracá

Publicado: 21/10/2017 às 11:51

Rincon é dono do hit Ponta de Lança (Verso Livre)./Foto: Renato Stockler/Divulgação

Rincon é dono do hit Ponta de Lança (Verso Livre)./Foto: Renato Stockler/Divulgação

Rincon é dono do hit Ponta de Lança (Verso Livre).

Reza a história que Galanga foi um monarca do Congo, capturado para ser escravizado no ciclo do ouro do Brasil colonial. Ele teria sido levado para Ouro Preto (MG), onde matou um senhor de engenho, comprou a alforria e tornou-se proprietário de minas de ouro. O rapper Rincon Sapiência se inspirou na trajetória desse personagem mítico para produzir o disco Galanga livre (2017), uma imersão na música africana que vai do afrobeat até a ciranda da pernambucana Lia de Itamaracá. O paulista aporta pela primeira vez no Recife neste sábado (21), como uma das principais atrações do festival No Ar Coquetel Molotov, que será realizado no Caxangá Golf & Country Club.

Na mesma linha do álbum, o show mostrará que, assim como Galanga, deve-se "liquidar" os valores que nos privam de nossa liberdade. “Podemos dizer que existem vários senhores de engenhos no mundo contemporâneo, privando liberdades de várias formas. Liberdade de gênero, artística, sexual e religiosa, por exemplo”, explica o rapper. Nascido na periferia da Zona Leste de São Paulo, Danilo Albert Ambrosio, de 31 anos, iniciou a carreira musical em 2000. Até chegar ao palco de um dos principais festivais de música alternativa do Nordeste, atuou como integrante de diversos grupos rap e foi indicado ao Video Music Brasil, da MTV Brasil, em 2010.

Até o momento, seu maior trunfo foi a canção Ponta de lança (Verso livre), que conquistou a cena do rap pelo seu encaixe de rimas criativo e sagazes referências. O hit é um das principais faixas de seu primeiro disco de estúdio (Galanga livre), que debate questões urgentes, como o racismo, pobreza e a violência dos centros urbanos. “Esse discurso é extremamente necessário, vendo que existem pessoas conservadoras influentes na mídia e na política. A arte tem o poder de ampliar esse tipo de diálogo”, diz.

Seu repertório procura agregar, entre as batidas modernas do rap, diversos ritmos negros, a exemplo do coco, samba, funk carioca e até mesmo o rock do continente africano. A afrodescendência pernambucana se faz presente no trabalho de Rincon com o sample de Garota namoradeira, um clássico de Lia de Itamaracá. No sábado, a cirandeira subirá no Palco Velvet durante o show dele para selar a parceria: “A presença dela, uma figura importante para a música brasileira, vai ser como um tempero deixando tudo mais especial ainda. Me sinto honrado”. O pernambucano Diomedes Chinaski e Baco Exu do Blues, da Bahia, foram outros nordestinos elogiados pelo paulista: "São dois artistas incríveis que estão, sem dúvidas, entre os rappers mais relevantes da cena atual".

Três perguntas - Rincon Sapiência

Por que usar o personagem Galanga para construir a narrativa de seu álbum?
O Galanga foi um escravo que matou seu senhor de engenho. A simbologia disso seria matar os valores que privam nossa liberdade. No álbum, Volta para casa fala sobre uma certa privação da liberdade causada pelo perigo das ruas. Moça namoradeira sugere que a menina seja mais livre e não machuque seu coração, possa curtir mais, conhecer mais as pessoas. Quem costura isso tudo é o Galanga.

Como surgiu a ideia de utilizar um sample de Lia de Itamaracá?
Sou um cara apaixonado por música brasileira. Com a tecnologia de hoje estou sempre baixando discos, pesquisando, sempre ouvindo coisas novas, até que cheguei na Lia. Achei a música extremamente sugestiva para colocar no álbum. E o mais legal foi ter tido o aval dela para isso. No Coquetel, vamos nos encontrar e tirar essa onda no palco. Se divertir, fazer música.

No ano passado, a música Sulicídio, de Baco Exu do Blues e Diomedes Chinaski, causou uma discussão sobre a ausência de rappers nordestinos na cena rap nacional. O que você tem a comentar sobre esse episódio?
Foi uma música extremamente necessária. Deve ser incômodo saber que existe uma cena local, forte, relevante e talentosa no Nordeste, mas ver apenas pessoas do eixo Sul e Sudeste ocupando os palcos e, diretamente ou indiretamente, silenciando os nordestinos. Como paulistano de periferia convivi com muitos nordestinos, afinal a mão de obra paulista é de origem nordestina. Eu mesmo sou filho desse êxodo também. Outra coisa que me chamou atenção nesse episódio [de Sulicídio] foi a xenofobia. Uma parte considerável do público, principalmente do público dos artistas que foram atacados na música, argumentaram que o sotaque deles [Baco e Diomedes] não combinam com o rap. Isso fez muitas máscaras caírem. Mostrou que ainda temos coisas a melhorar.

Confira a programação do No Ar Coquetel Molotov:

13h - Abertura dos portões
 
ESPAÇO uPLANET
14h - Aula de Yoga
15h30 - Palestra Inspiração - A sustentabilidade para a vida com Ricardo Young
17h30 - Aula de Yoga
18h30 - Debate - "A falência do modelo político atual e as inovações disruptivas para a mudança social"
20h30 - Aula de Yoga
 
PALCO AESO
15h - Pupila Nervosa (PE)
16h - Cellestino (PE)
17h - Lady Laay (PE)
18h - Romero Ferro (PE)
19h10 - gorduratrans (RJ)
20h20 - Soledad (CE)
 
PALCO SONIC
15h30 - Giovani Cidreira (BA)          
16h30 - Kalouv (PE)
17h30 - E A Terra Nunca Me Pareceu Tão Distante (SP)
18h40 - Kiko Dinucci (SP)
19h50 - Hinds (ESPANHA)
21h - Curumin (SP)
22h20 - Alessandra Leão (PE)
23h40 - AfroBapho (BA)
00h40 - NoPorn (RJ)
02h - Mamba Negra (SP)
 
PALCO VELVET
18h - Arnaldo Baptista (SP)
19h20 - O Terno %2b naipe de metais (SP)
20h30 - DIIV (EUA)
21h40 - Luiza Lian (SP)
22h50 - Linn da Quebrada (SP)
00h10 - Rincon Sapiencia (SP) com part. especial de Lia de Itamaracá (PE)
01h40 - Attooxxa (BA)
 
SOM NA RURAL
14h - Iury Andrew / Bafro
22h - Lia de Itamaracá
23h - Batalha da Escadaria (PE)
00h - Aslan Cabral / Tropical Absurdo
01h - Petyr / Huesca
02h - Isluislu

SERVIÇO
Festival No Ar Coquetel Molotov
Onde: Caxangá Golf Country Club (Av. Caxangá, 5362, Iputinga, Recife)
Quando: Sábado (21), a partir das 13h
Quanto:R$ 100, R$ 80 (social), R$ 50 (meia). Vendas no Sympla.
Informações: www.coquetelmolotov.com.br
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