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Literatura Livro de pernambucana que inspirou filme Entre Irmãs ganha nova edição no Brasil Frances Peebles fala sobre romance histórico e adaptação cinematográfica assinada por Breno Silveira

Por: Breno Pessoa

Publicado em: 20/10/2017 08:42 Atualizado em: 23/10/2017 13:36

Autora é formada em letras pela Universidade do Texas. Foto: Elaine Melko/Divulgação
Autora é formada em letras pela Universidade do Texas. Foto: Elaine Melko/Divulgação

Quando publicou, em 2009, o livro The seamstress, lançado no ano seguinte no Brasil como A costureira e o cangaceiro, Frances Peebles jamais imaginaria ver a obra transformada em filme. Adaptada para os cinemas por Breno Silveira (Dois filhos de Francisco), a obra está em cartaz em salas todo o país e ganhou nova edição, com o mesmo título da versão cinematográfica: Entre irmãs (Arqueiro, 576 páginas, R$ 54,90).

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"Nunca na minha vida eu pensei que um livro meu iria virar filme", diz Peebles, que considera um grande elogio o fato de seu trabalho servir de inspiração para outro artista. Esgotado há alguns anos nas livrarias, o livro retorna de carona no filme e traz a possibilidade de apresentar a história para um novo público.
Marjorie Estiano e Nanda Costa caracterizadas como Emília e Luzia. Foto: Vitor Jucah/Divulgação
Marjorie Estiano e Nanda Costa caracterizadas como Emília e Luzia. Foto: Vitor Jucah/Divulgação

A trama, vista no livro e filme, gira em torno das irmãs costureiras Luzia e Emília, residentes em Taquaritinga do Norte, interior de Pernambuco, nos anos 1930. Separadas após a chegada do bando do cangaceiro Carcará, que sequestra Luzia, as duas seguem trajetórias distintas. Enquanto a primeira se integra ao grupo e assume posição de liderança no movimento de banditismo social, Emília se casa com um homem de família nobre e vai ver no Recife.

"Não existia uma história das mulheres no cangaço", afirma a autora, sobre a escolha do tema. A ideia de separar as irmãs, segundo Peebles serve para reforçar que "para ter coragem, não é preciso pegar em uma arma. Emília tem muita força nas decisões para levar a vida que ela quer".

Entrevista // Frances Peebles

Fora a mudança no título, esta nova edição tem alguma alteração?
É a mesma tradução (o livro foi escrito originalmente em inglês). A única coisa que a gente mudou foi o nome do cangaceiro (líder do bando). Era para ter sido, desde o começo, Carcará, um pássaro típico no interior. Mas na primeira tradução era Falcão, outro pássaro. Pedi a mudança, mas foi só uma palavra mesmo.

Sentiu dificuldade na hora de escrever sobre coisas tão características da região em outro idioma?
A versão do livro em inglês tem muitas palavras sem tradução. Cangaceiro, cangaço, caatinga, cariri, sertão, rapadura etc. Resolvi colocar essas palavras todas em português, porque não existem em inglês. Queria que o leitor no exterior fosse aprendendo esse português, tão rico. Em geral, isso funcionou.

O que lhe motivou a escrever uma trama ambientada em Pernambuco, depois de tanto tempo longe do estado?
Eu visitava muito a fazenda em Taquaritinga do Norte e também o Recife. Sempre fui rodeada pelo folclore do cangaço. Sempre gostei. Quando amadureci mais, vi que não existia uma história das mulheres no cangaço. Pesquisei, fui em vários sebos, comprei vários livros, mas realmente não existia. Era uma vida difícil, de muita convivência com a natureza, mas também muita violência, muita dor, separação dos filhos, esse tipo de coisa. Por isso queria contar a história das mulheres e, também, queria que uma delas fosse para a cidade. Queria mostrar que, para ter coragem, você não precisa pegar em uma arma. E a Emília também tem muita coragem para tomar suas decisões, levar a vida que se quer. Queria mostrar esses dois lados.

Qual a importância da representação feminina na arte?
Quando você não tem exemplos (femininos), isso afeta sua percepção de mundo. É importante, não só em livros e filmes, ver mulheres fortes, que tomam decisões, que também erram etc. É importante para meninas e mulheres. Somos 50% da população, precisamos ser representadas. Como escritora, cada romance é como um casamento. Tenho que ficar com esses personagens cinco ou seis anos. Me pergunto: ‘será que essa história é boa, que quero passar tanto tempo com essa personagem?’. Para mim, não importa se é masculina ou feminina, mas, sim, se é interessante, se ela vai ser emocionalmente realística. Quero que a personagem tome as decisões; eu não faço o enredo, é a personagem que faz.

Acompanhou a adaptação cinematográfica de perto?
Eu não vi o roteiro e não participei, porque confiei plenamente em Breno e Patrícia Andrade (roteirista). O elogio mais sincero que um artista pode receber é quando sua obra é inspiração para outra obra. Esse filme é nosso, mas é independente de mim. O que acho bonito é que eles gostaram, respeitaram e amaram os personagens, tanto quanto eu. E eu senti isso e tinha toda confiança do mundo. Eu tenho que respeitar a obra deles, não entendo de cinema.

Quando você viu as atrizes caracterizadas, elas pareciam diferentes do que você imaginava?
É uma ótima pergunta. Nunca na minha vida eu pensei que um livro meu iria virar filme. Só por isso, sinto uma gratidão enorme. Eu vivi com essas personagens por anos, na minha imaginação, antes de publicar o livro. Claro que no livro elas parecem diferentes. Se você ler o livro a aparência delas é um pouquinho diferente. Mas acho que a produção captou o espírito delas. A Marjorie Estiano tem uma delicadeza e uma força que a Emília também tem. E a Nanda Costa, quando vi as fotos delas, eu chorei. A Nanda tem no olhar dela uma força, ferocidade, que, realmente, são de Luzia. Tem um desenho que fiz em 2002, quando comecei a escrever o livro, e ela tinha uma trança e aquele olhar. E vi uma foto com a trança e o mesmo olhar. Fiquei arrepiada, foi uma experiência diferente e muito boa. Apesar de não serem exatamente como eram na minha imaginação, as duas eram, para mim, Emília e Luzia.

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